quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Até um dia destes Mário...


Nestes últimos dez anos, após o Mário Pedro Garcia nos ter deixado, o Mário Plácido Garcia manteve este blog com uma paixão e dedicação que fez com que o nosso amigo Mário estivesse sempre entre nós.

Acompanhei o seu ritual diário de nos deixar constantemente uma parte de si e do seu filho.

Ontem perdemos mais um Mário, amanhã faremos a despedida de mais um tertuliano. Ambos estarão sempre na nossa memória, farão sempre parte de cada um de nós que com eles privaram.

Até um dia destes Mário...

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

O Regresso à Escola .

Dividir a minha vida 
como os gomos de uma laranja .

Nunca mais poderei voltar ao passado, como nos filmes de ficção 
científica . O que lá vai, lá vai, já passou .
A experiência que vivi durante os 3 longos anos passados na Es-
cola da Noite, é irrepetível, cheia de episódios que contribuiram
para a minha formação, como homem, como camarada, e como 
altruísta solidário .

Era ainda um menino travesso, despreocupado, alinhando nas
mil brincadeiras que me eram propostas, todos os dias .
Depois de jantar, vestia o fato de surrobeco, punha uma fácie de 
de adulto, com uma idade fictícia, e respondia com sucesso ás soli-
citações que me eram feitas .
Era, de certo modo, viver um pouco na 
clandestinidade .

Completamente .
Ninguém sabia o que eu fazia, ao que eu ia, desembaraçava-me 
por mim próprio .

Ás vezes era difícil conjugar as duas vidas paralelas que eu levava, e
tive mesmo alguns dissabores com o facto, mas tudo eu ultrapassava 
com algum bom senso, e estupidez natural . 

Mesmo o contacto que eu fui mantendo com o mundo fabril, olhado
com alguma desconfiança, nos primeiros tempos em que participei
no primeiro estágio profissional, foi-se dissipando gradualmente com
o tempo .

Assim, passo a passo, fui subindo os degraus do curso, chegando ao 
final,  com a melhor nota obtida e com direito a realizar um estágio
pago, na cidade de Bradford .

Várias razões assistiram para não seguir para o estrangeiro, razões 
de ordem económica, e uma grande ilusão de voltar a ser menino .
.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Aguarelas - 7.

Trabalhos feitos ou em curso .

A primeira tentativa que abordei com as aguarelas, foi com paisagens
de montanhascom diluições sucessivas .
Saíu bem, mas não eram aguarelas .

Fiz depois colagens de Estátuas de Lisboa, aplicadas em paisagens 
a aguarela, numa zona, ou um monumento característico da Capital .

Durante a 1ª Guerra do Iraque (uma monstruosa mistificação ), todos
os dias fazia um pequeno desenho aguarelado, ou mesmo aguarela, se-
guindo o evoluir dos massacres levados a cabo pelas tropas de Bush Pai .
No dia em que me senti totalmente enganado, acabei .

No passeio realizado á então URSS, em Kiev, estava um tipo a desenhar,
cortando o papel com uma tesoura, ainda por cima a realizar o perfil da
minha mulher . Parei e fiquei á espera de ele me dar o desenho, em tro-
ca de um Dólar .

Outra vez, em Paris, no Museu da UNESCO, levei horas a admirar os tra
balhos dos artistas chineses, desenhos feitos em papel vermelho, no que se 
considera a Arte Nacional da China, em dezenas de grandes artistas, com-
pondo enormes e meticulosas paisagens, desenhadas a tesoura os xizato, ou
mesmo bisturi  .

As colagens foram sempre para mim uma grade paixão, tendo já executa-
do vários milhares de colagens, visando vários temas, de que saliento a
imensa série das paisagens da terra .

Mais tarde, aventurei-me a fazer paisagens, com outros materiais, designa-
damente, com materiais vegetais diverso .

Ainda por mostrar em público, tenho uma série de desenhos inéditos, em que
se utiliza a colagem de papéis coloridos, deixando intervalos para obter efeitos 
de luz, entre os pedaços de papel, assim dando realce à luminosidade dos tra-
balhos .
..
.


sábado, 13 de janeiro de 2018

Aguarelas - 6 .

A HORA DO RECREIO .

Continuo a ser o miúdo sentado no canto da sala de aula,
hoje sòzinho, meditando e recordando a névoa das minhas
memórias .
Adquiri o hábito da toupeira, de farejar no escuro e tentar
recuperar pedaços do passado .
Acho que o futuro não existe e o presente já passou .

E regresso sempre ao cantinho da minha escola ( quantas 
escolas eu percorri, ao longo da minha vida, e o sentimento
era sempre o mesmo ) .

A minha vida sempre esteve entalada  entre a brincadeira 
do Colégio e a rigidez da Escola Industrial, mas havia contu-
do um espaço muito especial para o sonho e para a aventura .

Felizmente que nasci no dia de Santo António, nativo do si-
gno Gémeos, e sempre aguentei bem a ambiguidade do meu 
espírito repartido .

Depressa aprendi a misturar as côres, como depois me ha-
bituei a misturar os factos, as memórias e os sentimentos .

Como eu gostava de juntar um pouco de água e ver as côres 
a fundir-se umas nas outras, e iam desmaiando lentamente,
baralhando entre si .


Verifiquei que a vida não apresenta só uma côr, nem é a pre-
to e branco, mas permite-nos apreender a riqueza e varieda-
de dos imensos matizes que se apresentam no dia a dia .

Talvez que aí residisse o fascínio das 
aguarelas .
.

Nunca me propus a tirar um curso para pintar aguarelas .

Tentei uma vez, com a Professora Bárbara, nos Serviços Sociais
do Ministério das Finanças . Mas depressa desisti, eu e ela não 
nos conseguíamos entender .

Aprendia vendo os desenhos expostos em galerias ou em Mu-
seus . Ainda por cima as técnicas são diversas e dependem mui-
to do jeito pessoal . E quando começo a tentar encontrar um ca-
minho, perco-me de imediato .

Pode-se começar pelo guache e ir diluindo as tintas, mas o efeito
não consegue abafar o sujo no papel .

Pode-se usar outros pigmentos, como é o caso da tinta da China, 
o Vioxene, o café , e até sangue . ( Já vi uma exposição feita a san-
gue, o que não deixa de ser um processo um pouco tétrico .) .

Fiz algumas paisagens com tinta de escrever, partindo do tom ori-
ginal, e ir diluindo depois, uma ou mais vezes, até atingir o efeito 
desejado .

Conseguem-se bons efeitos de côr, partindo de 2 ou 3 manchas de 
côres muito diferentes, e depois, inclinando o papel e rodando em 
váias direcções, permitindo a sua progressiva mistura .
O efeito pode ser ampliado, se o trajecto das tintas for encontran-
do obstáculos de papéis coloridos no caminho .

Depois existe uma multitude de processos, usando as colagens de
diferentes materiais, já pintados ou não .

A imaginação não conhece limites .
.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

A salada de bróculos .

A direita portuguesa, coitada, esperneia desesperadamente,
em busca de um líder, que não existe .

Até há quem já tenha proposto um líder 
de passagem, ou de transição .
Para onde ?

Bem podem esgravatar os bens pensantes dessa área política, 
onde é notória a presença de travestidos, aldrabões e oportu-
nistas .

Basta ver a classificação dos partidos alinhados nessa maio-
naise estragada, para perceber a confusão reinante naquelas pi-
rosas cabecinhas :

PPD/PSD/CDS/PP .
.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Aguarelas -5 .

A Escola Campos Melo,
a minha primeira escola de desenho .

Tínhamos poucos professores, talvez quatro :

Ernesto Melo e Castro - Debuxo ;

Wladimir Sphor -Tecnologias;

Barnard -Materiais têxteis;

Passaporte - Desenho;

E os Mestres de Tecelagem e Tinturaria,

da própria Escola industrial .

Era então que iria começar a aprendizagem e o treino das
matérias de Desenho .
.

Havia um sala de desenho enorme na Escola, que ocupava quase 
toda a área do 1º. Piso, e a turma, ao fim do primeiro trimestre 
tinha ficado reduzida a 9 ou 10 alunos .

Agrupava-nos em 2 grupos, cada um no seu canto da sala:
Os ricos, juntos com o professor, que acabava por ser embebedado
em quase todas as aulas . Ele ajudava os filhos dos industriais a fazer
os trabalhos .
No canto oposto ficávamos nós, eu e o Raul Peixeiro, o Cunha e o Pai-
xão, aos quais era eu a ajudar nos desenhos .
Eram dois grupos que quase se não encontravam, e, deste modo, to-
dos tinham boa nota àquela disciplina .

A parte de desenho com modelo, era chata como tudo, gessos e mais 
gessos, como se aquilo interessasse para alguma coisa .

Mas foi quando começou o desenho decorativo, esse sim estimulava a 
habilidade e a imaginação dos alunos .
Essa parte dos desenhos era muito importante, pois os tecidos tèxteis 
tinha por base, a repetição de um modelo, que depois era repetido in-
finitas vezes . Tinha pois que se treinar o gosto e a práctica dos motivos 
seleccionados . 
Quem não dominasse estes tipos de tarefas, poderia dar um bom técnico
têxtil, mas jamais um bom Debuxador .

Os desenhos tinha que primar por uma série de factores, mas certamente
um dos mais importantes, era a qualidade e beleza do desenho saído da 
imaginação do Debuxador .


Muitos eram chamados, 
mas muito poucos os escolhidos .

Entrava-se então na fase de Debuxo, transportando o modelo desenhado e 
seleccionado para o preenchimento dos quadradinhos  numa folha de pa-
pel apropriada, onde os quadradinhos pintados correspondiam a fios que
passavam na parte de cima do tear, e os quadradinhos em banco eram os 
que permaneciam na parte de baixo .

Uma vez trabalhados esses modelos, escolhiam-se os tipos e as côres dos
fios, cruzados a cada passagem das lançadeiras, e a estrutura é executada 
pelos teares, criava o tecido chamado tecido em cru .
Esse tecido irá depois sofrer uma série de operações para o transformar 
num belo corte , que o alfaiate irá talhar um rico terno de belo estambre,
para satisfação do cliente . 

As aguarelas

os guaches, as aguadas, as sombras, os esboços, as trucagens, as colagens
eram usadas para criar o primeiro salto, com vista ao embelezamento dos
tecidos .
.

Aguarelas - 4 .

A Magia do Debuxador .

O debuxador 
é aquele que transforma fios, em sonhos .

Até vir para o Tortosendo, nunca tinha ouvido falar na palavra .
E até me fazia ali esta palavra espanhola, nas terras portuguesas .
Confesso que ainda hoje, estranho o termo .
Contavam-se histórias fantasiosas acerca destes homens, quase 
considerados como feiticeiros, de quem dependia o êxito ou o insu-
cesso de uma vida, de uma carreira, de uma indústria, de uma re-
gião . 

Tinha muito de técnica, de ciência, de arte, 
de sorte e de magia .

Eram estes os pensamentos que percorriam o espírito de um puto
com 14 anos, acabado de ser transformado, por obra e graça do Di-
vino Espirito Santo . num adulto com barba e com juízo .

Tinha acabado de entrar numa espécie de túnel do combóio fantas-
ma . Nunca mais seria o mesmo .
A realidade tinha ultrapassado a ousada das das fantasias .
Julgo que nessa altura á usava calças e tinha direito â chave da casa .

Continuo a seguir o caso das aguarelas, embora por vezes secorregue
no caminho pedregoso em que me meteram .
.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

O MILAGRE DA NEVE .

Fui ver
A neve caía 
Do azul cinzento do Céu
Branca e leve branca e fria
Há quanto tempo a não via
E que saudades Deus meu

Era dia feriado na terra, sempre que a neve vinha alumiar a
escuridão da nossa vida .
A malta tinha direito a umas horas de folga, faziam-se grandes
batalhas de neve, atirando bolas uns aos outros .
O professor carrancudo, transigia com a miudagem .
Também ele, sentia os olhos embaciados pela nostalgia dos tem-
pos vividos na sua aldeia natal .

As crianças corriam desvairadas, todas molhadas pela neve que
se metia pelo corpo dentro e pelo suor de tanta correria .
As mãos geladas e vermelhas já doíam, não se sentiam, mas nin-
guém arredava pé, uns atrás dos outros, numa loucura que se pe-
gava aos adultos, espantados por tal dádiva da Natureza .

Há anos, muitos anos, que não a agarro com as mãos, não cons-
truo os bonecos de neve, com uma cenoura e duas pedras a fazer
de caraça, com o cachecol a embrulhar o paspalho plantado junto
à berma da estrada .

Quando a neve regressa em força, ficamos a olhar a janela, a ver
os flocos de neve a flutuar, desenhando paisagens fabulosas, os ra-
mos cobertos de neve, as árvores transformadas em figuras huma-
nas, em monstros, ou em tudo que a nossa imaginação consegue al-
cançar .
E olhamos espantados o milagre da neve, como nas paisagens ma-
maravilhosas das caixas de chocolates .

Depois a neve vai derretendo lentamente e, quando acordamos no
dia seguinte, o sonho desvanece-se, e a vida retoma o decurso nor-
mal .
.


segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

As alterações climáticas .

Isto dá que pensar .

Passou tão pouco tempo que desde que se viveu no País,
a maior tragédia nacional de fogos florestais, que teve 
lugar este Verão;

Desde então, choveu em Portugal, durante meia dúzia de 
dias e nunca com grande intensidade, devido a uma das 
maiores secas, de que há memória;

Algumas das barragens estavam quase secas, entre as 
quais Fagilde, perto de Viseu, onde foi necessário trans-
portar a água em camiões cisterna, durante quase um 
mês, para abastecer a região, já então em regime de seca
extrema .

Hoje vi na TV, que há barragens já a 60% da sua capa-
cidade, e entre elas, a que atrás foi citada .

Há alguma coisa que não me parece estar a bater certo .

O facto está errado, 
foi mal calculado,
a tal barragem é tão insignificante, que só dá para os passa-
rinhos,
ou só choveu naquelas bandas .


Agora mais a sério, quem tem responsabilidades sobres as
questões vitais do País, o ar, o mar, a água, o território, a 
chuva, o fogo, as arribas, entre outros, de modo a poder in-
formar os portugueses sobre a validade e a fiabilidade dos
parâmetros fundamentais acerca das condições de vida de 
todos nós ?.
.

Um Homem Prodigioso .

As sete vidas .

Como é que eu vim parar ao Tortosendo ?

A minha família cresceu e viveu numa terra de montanha, 
com tudo o que isso implica, de bom e de mau .

Seia, uma Vila Presépio,

Com bons ares e melhores águas .

Longe de tudo e de todos, com as insuficiências materiais e 
humanas, num pós guerra com o mundo devastado por uma
guerra e um extermínio horríveis .

o António Plácido, 
o senhor meu Pai,

armado com um diploma da 4ª. classe, fez-se ao Mundo .

Foi subindo os degraus da vida, como quem escala uma mon-
tanha sem fim .
Tirou um Curso de Contabilidade, por correspondência, foi um
músico virtuoso, caçador e pescador, percorrendo a Serra da Es-
trela, de fio a pavio, jogou à bola nos clubes locais, Os Viriatos e, 
pois no Seia Futebol Clube, um Back de respeito, ao lado de ou-
tros familiares e amigos, integrava os conjuntos musicais da Ter-
ra, amigo do seu amigo, companheiro em festas e romarias, foi 
um cometa que atravessou o firmamento Senense .

Lembro-me dele, era eu um moço travesso, lingrinhas, corren-
do lesto para a escola e para a brincadeira .

O primeiro emprego de que me lembro, foi no Grémio da La-
voura, de Seia, onde era Contabilista .
E aí esteve, durante os primeiros anos da minha meninice .

Mas aquele mundo, 
era pequeno demais para ele .
.

Seia, como outras terras em volta, viviam da parca agricultura, do
pinhal e do pasto para os animais .
Dada a sua situação geográfica e a natureza das águas da Serra, com
pouco calcáreo, desenvolveu desde muito cedo, desde a época do Mar-
quês de Pombal, que mandou construir a Real Fábrica dos Panos, na
Covilhã, uma indústria de lanifícios, que foi ocupando toda Serra .

Outro grande empreendimento, que veio criar riqueza em Seia, foi
a Empresa Hidroeléctrica da Serra da Estrela, luminosa ideia de um
homem de Gouveia, Marques da Silva, que criou do nada, uma obra 
gigantesca em toda a região .
Obteve a concessão de todas as águas da Serra, a troco de electricida-
de barata, ao preço da uva mijona, durante meio século .
Graças a esta benesse da natureza e dos serranos, Seia foi, desde há 
muito, uma terra de mão de obra especializada e de progresso .

Os Lanifícios, eram uma grande actividade económica, em especial da 
cidade da Covilhã, mas com grandes satélites em Tortosendo, Alvoco 
da Serra, Loriga, Seia, Manteigas e Gouveia, entre outras . 

Mas foi com o dealbar da Guerra Colonial, com o contrato de exclusi-
vidade que o Governo assinou com o industrial Joaquim Fernandes Si-
mões, mais tarde Comendador, para fomento da indústria de fardamen-
to, que fez explodir o mercado de trabalho, na minha terra .

Já então, o senhor Meu Pai, era um Contabilista de renome e disputa-
do em vários círculos . 
Entre as várias propostas de emprego, o António Plácido acabou por 
optar pela Fábrica dos Irmãos Pontífices, localizada do outro lado da Ser-
ra da Estrela .

Só muito mais tarde, 
(as voltas que o Mundo dá ...), 

talvez tenha entendido o alcance da escolha que o Meu Pai fez :

Tinha aberto o caminho dos filhos, para outras 
aventuras, 
Liceus,  Escolas Comerciais e Industriais 
e, porque não, para as Universidades .

.

Antes de ser colocado no Tortosendo, o Meu Pai esteve a algum tempo 
a trabalhar no Porto .
Passou depois alguns anos, nos escritórios da firma Superfix, em Lisboa, 
na Rua dos Sapateiros, na Baixa Lisboeta .

De caminho, morámos na Pensão do Gaia, na Rua  Bernardim Ribeiro, 
depois  na Rua B, à Av. Afonso III e ainda na R de Arroios .

Tinha acabado o Rally Paper,

sempre em busca  de um lugar ao sol, e melhoria das condições de vida da
tribo .

Na Covilhã/Tortosendo, tinhamos finalmente encontrado porto de abrigo,
com direito a a vivermos um pouco de paz e sossego .

Com a construção da casa da família, surgiu alguma estabilidade, mas todos
tínhamos crescido, e procurávamos agora voar um pouco mais alto .
Partíamos para Castelo Branco, para a Guarda, para Coimbra ou para 
Lisboa, onde houvesse a melhor solução de estudo, para cada caso .



Havia agora algum espaço para os Meus Pais se ocuparem um pouco mais
de si próprios, tentando recuperar o tempo perdido .
.





sábado, 6 de janeiro de 2018

As aguarelas - 3 .

Entre o Desenho e o Debuxo .

Ainda tentei utilizar os guaches, mas não me ajeitava muito,
as côres eram muito baças, não apresentavam grande lumino-
sidade .

Alguém me ofereceu uma caixa de óleos, coisa cara e rara, mas
não conseguia esperar o tempo suficiente para ver ir vendo o de-
senho secar . Além disso, os óleos cheiravam mal .

O lápis era difícil de acertar com o traço, tinha que se estar sem-
pre a aguçar, para manter a sua regularidade .

Restavam-me as aguarelas, mas aí é a porca torcia o rabo, e o dia-
cho era precisa muita paciência, que era coisa que eu não tinha 
em abundância .

Vem-me à memória o argumento do Poeta Bocage, que andava
com as calças esburacadas, porque estava sempre à espera do úl-
timo modelo do alfaiate .

Depois, como trabalhar numa casa com muita gente e sem ter o 
mínimo cantinho, sem ter que andar com o trabalho às costas, sem-
pre a borrar o desenho .

Tudo, desculpas de mau pagador .

Só no Liceu, e com o apoio dos professores de Desenho e Trabalhos 
manuais, é que ganhei algumas ferramentas e organização, para lan-
çar mãos à obra .

Frequentei 3 liceus nos tês primeiros anos do Liceu, Camões, Covilhã e
Castelo Branco .
Depois instalei-me na Covilhã .

Juntamente com a frequência do Liceu, estudava na escola nocturna,
para tirar o Curso de Debuxador, curso especialmente dado  para os
alunos que queriam seguir as disciplinas específicas da indústria dos
lanifícios .

Comecei a tornar-me um Debuxador .

Debuxava e desenhava em simultâneo .

A minha família insistia que eu tinha alguma habilidade para o desenho .
Achava que sim, mas quem poderia ter agora tempo para a brincadeira,
com o tempo todo tomado delas aulas .Tive que reciclar-me rápido e em força .

Estudava em dois cursos, mas acho que nenhum deles me dava grandes 
pre-ocupações . 
No Colégio Moderno, um antro  de bandidos, bastava estar com atenção 
nas aulas e os trabalhos e casa não abundavam.

Os exames -só o 5º. ano é que foram mais complicados, pois tivemos que 
ir fazê-los fora de casa, no liceu em desenvolvimento na Cidade , e que 
nos era hostil, por questões políticas, a que eram-mos completamente 
alheios . 

Na escola da noite, o trabalho era dimensionado para estudantes trabalha-
dores, estudo era tecnicamente muito práctico, e dirigido a gente já envolvi-
da profissão .
Não foi difícil adaptar-me às novas tarefas exigidas, até porque então come-
cei a ter prazer nalgumas disciplinas do curso, muito em especiar, as que se
relacionavam com as artes plásticas .

nhamos uma grande carga de horas dedicadas ao desenho com modelos
(de gesso, nada de sacanagem) e de desenho decorativo .
Apesar de existir alguma rigidez de programação, havia no entanto , muito 
espaço para a actividade criativa .

Havia ainda, a matéria mais importante, que respeitava ao debuxo prória-
mente dito, o estudo e o aperfeiçoamento das técnicas de produzir tecidos,
a partir da selecção dos fios, das suas côres e das técnicas de consumar o 
cruzamento dos mesmos, através dos teares, conduzindo à feitura bons e 
belos tecidos, que os burgueses, depois apresentavam aos alfaiates, os leva-
vam exibir na Missa e nas relações sociais .

O Pivot de toda esta orquestra era o

Debuxador

que dirigia com mestria, o desenrolar desta sinfonia industrial, que fazia 
giralra vida e o progresso da Região da Serra da Estrela .
.

.


sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

A Volúptia da Espera .

Como vivíamos felizes, 

quando não tínhamos telefone,

nem telemóvel,

e os aerogramas viajavam de paquete .

E Adão não tinha sogra .

Isso sim, é que eram bons tempos ...

.
.

As aguarelas (2) .

O primeiro desenho de que tenho memória, é uma pequena paisagem 
campestre, pintada numa pequena caixa de chocolates que me deram
pelo Natal .
Curioso que aparece nele um pequeno ribeiro, pois eu nunca tinha vis-
to o mar . Só mais tarde, quando visitei Lisboa pela primeira vez, avis-
tei o Rio Tejo, que para mim, era já o mar imenso, de que ouvia falar
nos livros de história  .

Tinham-me dado uma pequena paleta de plástico, com algumas cores,
pareciam pedrinhas de cores, que eu esfregava com um pincelito muito 
rasca .
Mas foi um momento muito importante para mim, quando comecei a es-
fregar com ele e produzir as primeiras cores .

Na minha terra, provavelmente nem sequer tinha oportunidade de com-
prar uma caixa metálica, com muitas cores, e de melhor qualidade .

Mas foi assim que comecei .

Foi um outro pintor, importante na minha vida, 

Tavares Correia,

um pintor de Seia, que me deu a ver as belas paisagens de neve, que
mostrando inúmeras vistas da Serra da Estrela, e espalhadas, um pou-
co por toda a parte, nos cafés e nos edifícios públicos da minha terra .
Existe hoje um museu com o seu nome, que preserva a sua obra e a sua
memória .
.

O REGRESSO ÀS AGUARELAS .

Turner, o mago das aguarelas .

De quando em quando, vem-me uma vontade de retomar
a pintura de tintas de água, uma arte menor, até ao mundo
de Turner, o homem a impôs com uma arte nobre e sublime .

Até então, era usual a feitura de esboços, ensaios, estudos,
que mais tarde dariam origem das grandes obras de arte da
pintura . 
Muitas vezes eram depois arrumados ao acaso, manuseados ,
sem qualquer cuidado, acabando normalmente no caixote do 
lixo da história .

Turner, um pintor viajante, carregava uma bolsa cheia de pa-
pel, e como pintor convulsivo que era (pintava vários desen-
hos ao mesmo tempo, para não ter que  esperar que as agua-
das secassem), foi coleccionando centenas ou milhares de cro-
quis, e deixou uma enorme quantidade de trabalhos, alguns
peque-
apenas pormenores, outros já obras completas, que ficariam 
muito tempo esquecidos em gavetas e armários, e só mais tar-
de exibidos em todo o mundo .

Parece impossível que tanta beleza tenha saído de mãos tão ru-
des e grosseiras, e da cabeça de um quase louco, difícil de atu-
rar, dado o temperamento irascível de tão estranho persona-
gem .

O homem morreu, mas a sua obra permanecerá para todo o 
sempre .

Foi com o pintor

Roque Gameiro

um pintor de paisagens 
feitas nos confins da Serra da Estrela, em Vide, Concelho
de Seia, que tomei contacto, pela primeira vez, com outro gi-
gante da pintura . É um homerm pouco conhecida do público 
em geral, que deixou obra monumental, visível em paisagens
de paredes de igrejas e de retratos de figuras célebres .

O Largo com o seu nome, no Cais do Sodré, era uma autêntic-
a lixeira, lugar de recolha de mendigos e maltrapilhos .

Em boa hora, a CML acorreu à reabilitação de tal lugar, dando-
lhe uma honra que o pintos há muito merecia .

Uma palavra para outro enorme pintor, 

Paulo Ossião

Pintor aguarelas de grande dimensões, com quadros espalhados
por casas finas e grandes espaços comerciais, em portugal e no es-
trangeiro . 

Agora, vou ver se começo a pintar com cores de água .
.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Sobre a Corru(p)ção .

A história da pulhice humana .

Dizia um dos capitães de Abril, que foi o Presidente da Comissão
de Extinção da PIDE/DGS,  o Comandante Costa Brás , que só ha-
via lugar a corrupção, se algum dos intervenientes, corruptor ou 
corrompido, fosse funcionário ou agente do Estado . 

E ele era uma autoridade na matéria .

Como facilmente se depreende, a maioria dos portugueses nunca
viriam a practicar a corrupção ( com esta conversa, até já a pala-
vra foi corrompida, perdendo o p do meio ).

Nesta acepção, Caím matou Abel, mas não foi um acto de corrup-
ção, foi só um assassinato.

Para a grande maioria da nossa população, pode-se roubar, fanar,
surripiar, aliviar, extorquir, caçar, limpar, assaltar, arrombar, tudo
e mais alguma coisa, mas practicar a corrupção é que não ...

É privilégio de Governantes, Magistrados, Agentes Policiais e figu-
ras gradas do regime vigente, e da rapaziada de horário e ordena-
inscrito nos livros do Estado .

Compreende-se agora a razão porque tanta gente importante, que 
tanto se tem esforçado para continuar à solta, e raramente ter pro-
blemas com a Justiça e outras Corporações estruturantes da nossa
Nação .

Confesso que a ideia que eu fazia daqueles coitados de profissão li-
beral, que enganam descaradamente o pagode, e nunca têm que
prestar contas a ninguém, mesmo que a batota nos negócios seja
exorbitante, estava profundamente errada .

Mas tenho que respeitosamente aceitar o meu erro .

Um dos meus grandes meus mentores em questões morais e sociais, 
o Prof. Doutor José Vilhena, com interessante e vultosa obra publi-
cada (e até fortemente censurada no Antigo Regime ), foi um dos 
mais importantes autores sobre estas questões .

De referir a Enciclopédia, em numerosos volumes,

"A história da pulhice humana",

que foi leitura obrigatória e companhia indispensável do travesseiro, 
para quem se interessasse pelo fenómeno da ladroagem .

O autor acabou na cadeia, mas não por corrupção .

.

Cantiga de Amigo .

Sou um romântico serôdio, que se vai tornando mais tolo
com a idade .
Transformando os sonhos em desejos, os desejos em desi-
lusões, as desilusões em pesadelos, os pesadelos em deses
pero .

Caio em todas as trapaças do desencanto e da fantasia pa-
tética .
Navego nas águas profundas do desencanto .
Sem smeaperceber da rude crueza da realidade, persigo as
labaredas da paixão, sem nunca ma aproximar, nem que se-
ja ao de leve .

Gato escaldado, da água fria tem medo  .

Quantas vezes me esfalfo em busca da alma gémea, que me 
poderia servir de refrigério para os meus tormentos .
Tento, tento, uma vez e outra, sem qualquer resultado .

O meu destino é a solidãom aguardando a visita do Cupido,
alguma seta disparade às cegas, ao acaso .

Não me quiexo de nada .
Já nada quero .
O meu coração empedrenido, duro como o granitojá em na-
da acredita .

Sou uma alma penada, vagueando no vazio .
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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

A Grande Lição da Catalunha .

Editorial do Expresso .
(Dezembro 1917 )

"Quando o Governo espanhol marcou eleições para a 
Catalunha, fê-lo para esmagar eleitoralmente os inde~
pendentistas . 
Mariano Ragoy, qual De Gaule em Maio de 1968, acre-
ditava poder despertar a "maioria silenciosa"que não
se manifestava na rua, mas defendia os valores conser-
vadores . Assim legitimaria a linha dura :
invocação do Artigo 155º. da Constituição, suspendendo
a autonomia catalã,  controlando os serviços públicos, 
prendendo dirigentes, etc.
Após uma votação pacífica e participada, os catalães, fi-
zeram três coisas .
Humilharam Rajoy e o PP, consagraram como alterna-
tiva à linha dura, o soberanismo de rosto humano de Inès
Arrimadas (Cidadãos, Centro Direita) e deram a maioria
absoluta aos independentistas .
E puniram  o Rei, pela sua colagem a Rajoy, como Puigde-
mont não deixou de sublinhar, foi um voto"pela República
e contra a Monarquia do Artº. 155ª.""

Só os cegos não querem ver ...
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segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

O Pedro e o 25 de Abril .

Tinha o Pedro quase 3 anos, 

quando aconteceu finalmente, o 25 de Abril .

Para ele foi o verdadeiro dia da libertação, pois que nós 
estávamos absorvidos a festejar aquela data, ainda des-
crentes e duvidosos do que estaria para vir, que até nos 
esquecemos de lhe dar a papa . 
Depois fomos à loja do Sr. Eduardo, já quase saqueada,
para conseguir-mos angariar, com dificuldade, alguma 
coisa de comer .

Tinha começado uma nova era, o mundo velho ia morrer .
Eram grandes as esperanças, maiores as promessas .
Tudo parecia valer a pena, mesmo que a alma fosse um
pouco pequena .

O Mário Pedro foi criado numa atmosfera aberta e tole-
rante, em que o sonho estava sempre à espreita .

Costumávamos dizer por graça, que tinha sido vacinado ,
logo em pequenino, com as vacinas do Benfica e do PS,
inoculadas pelo Rodrigues, o namorado da Júlia, emprega-
da da nossa casa, e cuidadora do rapaz .
A vacina do Benfica pegou logo, a do PS levou algum tempo
a fazer o seu caminho .

Miúdo espertalhaço, convivia muito com os adultos e discu-
tia acaloradamente com os da sua idade .
Ouvia atentamente as opiniões dos pais, e depois fazia o seu 
julgamento .
Quer eu, quer a mãe, navegávamos noutras águas ideológicas .

No 25 de Abril, desde sempre que saíamos os três de casa, bem 
cedo, e percorríamos e participávamos em 3 manifestações,ca-
da côr, seu paladar .
De manhã íamos ao PCP, depois do almoço curtíamos a festa 
do PS, à noite atacávamos a manif da esquerdalhada .
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Só mais tarde, então já no Colégio Moderno, é que começou a de-
senvolver uma militância política mais séria .
Tinha como modelos reais, Mário Soares e Maria Barroso, e a malta
camarada que com eles iniciavam então a vida partidária .

Foi militantemente subindo todos os degraus da Jota, e ràpidamente
se tornou um líder natural na estrutura do Partido Socialista .
Atarefava--se em reuniões partidárias sem fim, organizava listas e elei-
çôes, preparava os programas e os textos, conduzia os trabalhos com
eficiêcia e a consideração de muitos dos seus camaradas, com os mais
jovens e com outros já de idade avançada  .

Vivia cada Congresso, cada Distrital, cada reunião das secções, com o
mesmo empenho e entusiasmo, rigoroso, com o dom da palavra e a 
capacidade de congregar vontades e gerir com facilidade as propostas 
e projectos a que se propunha .

Foi desde o seu início, um dos mentores da 

Tertúlia do Martinho da Arcada,

uma espécie de Governo Sombra do grupo liderado por António José
Seguro, juntamente com outros amigos, entre os quais saliento o Álvaro
Beleza, o David Santos, o Ricardo, o Franco, o Pedro Antão e a Elsa, a
Carmen, o Jorjão, o António, o Paulo, e outros que a minha memória já
não retém, mas que estão referidos no cabeçalho do Blog . Entretanto,
em homenagem ao Mário Pedro, o Grupo passou a designar-se

Tertúlia do Garcia 

que continua a reunir-se, embora com menos regularidade, e costuma 
agregar, como convidados, gente importante do PS, ou de outros qua-
drantes . 

O Mário integrou a primeira delegação portuguesa ao Parlamento Euro-
peu Jovem, realizada em Versailles, em nome do Colégio Moderno de Lis-
boa .

Para mostrar a sua categoria, como activista político e também como 
aluno, o Mário Pedro foi galardoado, juntamente com outro colega e ami-
go,  o Morgado, com o Prémio de melhor aluno do Colégio, em 1988/89 .

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domingo, 31 de dezembro de 2017

É a política, pá ...

Comecei muito cedo a interessar-me pele política,
ou melhor comecei a ter contacto com a injustiça,
a prepotência e a arbitrariedade .
Muito cedo já tinha percebido  provado o sabor da
injustiça e do desamor .
Bem podia o padre da igreja tentar vender aquelas
ideias idiotas que nos tentavam inculcar como va-
cinas, que se practicássemos o bem, íamos direiti-
nhos para o Céu .


Tudo mentira, da grossa ...

Era apelidado de herege, judeu, madrasso, filho do 
diabo, tudo nomes que me assentavam que nem uma 
luva .

Foi então que comecei a canalizar a minha raiva e a 
minha revolta, dar um significado à minha rebeldia,
e começar a estruturar a minha personalidade .

Foi com a minha ida para a Escola da Noite, em con-
tacto com os meus colegas mais velho, e provindos de
outras classes sociais, mais proletarizadas, que fui com-
preedendo a dureza das desigualdades e das afrontas
contra os mais desfavorecidos .
Como entender tais maldades, um menino a começar
a fazer-se homem, que estava habituado às lutas entre
índios e cowboys, entre polícias e ladrões, que faziam
o dia a dia, das nossas brincadeiras . 

Comecei a sorver os ideais revolucionários, com a cam-
panha eleitoral do General Humberto Delgado, nos idos
de 1958, quando me apercebi do imenso apoio popular
que o General ia amealhando, fazendo sombra ao velho
Ditador Salazar .

Já então tinha tido contacto com as ideias comunistas, e
com os comunistas reais, que giravam à minha volta, na 
Escola, nas fábricas e na vida real .

O Tortosendo, aldeia fabril paredes meias com a Covilhã,
era uma terra de operários da indústria têxtil, de gente 
do Reviralho, oposicionistas convictos, muitos deles afec-
tos ao Partido Comunista, contra a religião e contra o sa-
lazarismo .

Era conhecida como a aldeia vermelha .

Convivi de perto com a gente das fábricas, mas por falta de
convicção (ou por cobardia), nunca fui engajado para o 
PC, prezava demais a minha capacidade de crítica e o meu
posicionamento individual .

Fui sempre um fiel compagnon de route .
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Foi então que ingressei na Universidade, IST, colheita de
1960 . Estive 10 anos no Lar do Técnico, uma escola de vir-
tudes, entre o Curso de Engenharia e a Tropa.

As Associações de Estudantes eram Universidades parale-
las, que nos ajudavam a abrir os olhos para a vida .
Militei nelas em diversas actividades, mas sempre com o cui-
dado de evitar a militância política .

Encostei-me ao MDP/CDE, 
uma bengala do PCP . 

Foi no Movimento Estudantil, onde vivi com paixão, muitos 
dos melhores momentos da minha vida .
Era decididamente o olho do furacão, onde tudo acontecia .

Quando o meu Pai me levou para arranjar um quarto para
viver, quis o destino que me tivesse depositado directamente 
no Lar da AEIST . Chegava a passar quase 24 horas no IST,
onde estudava, comia e dormia .Só saía do recinto, para me
deslocar da casa, para o estudo .

Voltei a direccionar a minha revolta, agora contra o Regime
Fascista, agora com a cabeça um pouco mais arrumada .

Era um aluno médio, sem grandes rasgos de inteligência .

Cumpria os serviços Mínimos .

O meu combate pela Liberdade nunca esmoreceu .
Aguardava que chegasse o tempo certo, para que se tornas-
se realidade .

E ele chegou com o 25 de Abril .
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terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Os calções .

Eu fui de Lisboa a Sintra,,
a casa da Tia Jacinta
para me fazer uns calções;
mas a pobre criatura
esqueceu-se da abertura,
para as minhas precisões .

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Desde miúdo, que carrego comigo uma dúvida sistemática,
será que as pessoas crescem para cima ou para baixo .

Se crescem para cima, porquê então, ao aumentar a idade, 
todos os anos ficava com mais pernas à mostra ?!.

Portanto, só podia crescer para cima .

Tenho outro problema antigo, de solução mais fácil, ainda
que de resolução mais elaborada .

Lá em casa somos 5 irmãos, quatro deles nascidos em esca-
dinha, com intervalos de 1 ano a ano e meio .

Todos os anos, por volta do começo das aulas, a roupa sofria
um pequeno improvement - era a altura de acertar e mudar 
os calções . A roupa passava de uns para os outros, o mais
velho tinha direito a uns calções novos, e todos recebiam, à 
vez os dos outros mais novos . 
E assim, sucessivamente .

O irmão mais novo, ao fim das 3 mudanças, tinha que levar
fundilhos no cú .

No poupar, é que estava o ganho .

Já naquele tempo se tirava proveito da arte da reciclagem
invocando a lei dos 3 RR.s :

- Recuperar

- Remendar

- Reutilizar .

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Um outro estratagema, era preservar os livros de estudo, 
de mão em mão, chegando cada um dos mais utilizados, por
exemplo, os livros de Filosofia e Matemática, a percorrer as
aulas, dez ou doze anos .

No fim, por mais dedicação que houvesse, os papéis iam di-
rectamente para o lixo .

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