Entre o Desenho e o Debuxo .
Ainda tentei utilizar os guaches, mas não me ajeitava muito,
as côres eram muito baças, não apresentavam grande lumino-
sidade .
Alguém me ofereceu uma caixa de óleos, coisa cara e rara, mas
não conseguia esperar o tempo suficiente para ver ir vendo o de-
senho secar . Além disso, os óleos cheiravam mal .
O lápis era difícil de acertar com o traço, tinha que se estar sem-
pre a aguçar, para manter a sua regularidade .
Restavam-me as aguarelas, mas aí é a porca torcia o rabo, e o dia-
cho era precisa muita paciência, que era coisa que eu não tinha
em abundância .
Vem-me à memória o argumento do Poeta Bocage, que andava
com as calças esburacadas, porque estava sempre à espera do úl-
timo modelo do alfaiate .
Depois, como trabalhar numa casa com muita gente e sem ter o
mínimo cantinho, sem ter que andar com o trabalho às costas, sem-
pre a borrar o desenho .
Tudo, desculpas de mau pagador .
Só no Liceu, e com o apoio dos professores de Desenho e Trabalhos
manuais, é que ganhei algumas ferramentas e organização, para lan-
çar mãos à obra .
Frequentei 3 liceus nos tês primeiros anos do Liceu, Camões, Covilhã e
Castelo Branco .
Depois instalei-me na Covilhã .
Juntamente com a frequência do Liceu, estudava na escola nocturna,
para tirar o Curso de Debuxador, curso especialmente dado para os
alunos que queriam seguir as disciplinas específicas da indústria dos
lanifícios .
Comecei a tornar-me um Debuxador .
Debuxava e desenhava em simultâneo .
A minha família insistia que eu tinha alguma habilidade para o desenho .
Achava que sim, mas quem poderia ter agora tempo para a brincadeira,
com o tempo todo tomado delas aulas .Tive que reciclar-me rápido e em força .
Estudava em dois cursos, mas acho que nenhum deles me dava grandes
pre-ocupações .
No Colégio Moderno, um antro de bandidos, bastava estar com atenção
nas aulas e os trabalhos e casa não abundavam.
Os exames -só o 5º. ano é que foram mais complicados, pois tivemos que
ir fazê-los fora de casa, no liceu em desenvolvimento na Cidade , e que
nos era hostil, por questões políticas, a que eram-mos completamente
alheios .
Na escola da noite, o trabalho era dimensionado para estudantes trabalha-
dores, estudo era tecnicamente muito práctico, e dirigido a gente já envolvi-
da profissão .
Não foi difícil adaptar-me às novas tarefas exigidas, até porque então come-
cei a ter prazer nalgumas disciplinas do curso, muito em especiar, as que se
relacionavam com as artes plásticas .
Tínhamos uma grande carga de horas dedicadas ao desenho com modelos
(de gesso, nada de sacanagem) e de desenho decorativo .
Apesar de existir alguma rigidez de programação, havia no entanto , muito
espaço para a actividade criativa .
Havia ainda, a matéria mais importante, que respeitava ao debuxo prória-
mente dito, o estudo e o aperfeiçoamento das técnicas de produzir tecidos,
a partir da selecção dos fios, das suas côres e das técnicas de consumar o
cruzamento dos mesmos, através dos teares, conduzindo à feitura bons e
belos tecidos, que os burgueses, depois apresentavam aos alfaiates, os leva-
vam exibir na Missa e nas relações sociais .
O Pivot de toda esta orquestra era o
Debuxador,
que dirigia com mestria, o desenrolar desta sinfonia industrial, que fazia
giralra vida e o progresso da Região da Serra da Estrela .
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