Sempre fui um fiel adepto da conversa, em amena cavaqueira
com os amigos, tempo a fio, quase sempre sem se chegar a um
consenso produtivo.
Era quase uma maneira de estar no mundo .
Muitas vezes defendia causas perdidas ou difíceis, por vezes
em contradita com os outros participantes, embora quase sempre
a minha argumentação fosse difícil de fazer vencimento .
Era do contra , por norma, mas ia fundo, e a sério, na maneira de
abordar os temas em apreço .
Opunha-me tantas vezes ao discurso política e socialmente correcto .
Engalinhava com o manual dos bem comportados .
Rebelava-me, em regra, com os ditames da ordem estabelecida .
Irritava-me quando as pessoas se resguardavam de qualquer as-
sunto mais complicado ou fora da normalidade .
A pouco e pouco, fui alterando a minha postura, e passei a perma-
necer mais tempo a ouvir, do que a falar .
Fui-me resguadando do papel de animador ( ou palhaço ).
Algumas pessoas chegavam a manifestar algum receio na minha
conversa .
Outras calavam-se, manifestando com o seu silêncio, o desagrado
pela minha atitude .
Talvez tivesse sido essa a razão porque muitos me largaram da mão,
e me manifestaram um ostracismo meio disfarçado, que me foi
conduzindo lenta, mas gradualmente, a um afastamento controlado
e bem educado .
Por mim adaptei-me, a pouco e pouco, e fui colhendo os frutos do
meu silêncio,
essa joia preciosa que acabei por ganhar .
Agora, o que eu gosto é do sossêgo e da calma, da reflexão, do inti-
mismo, da descoberta , e do silêncio, essa dávida de sabedoria .
Por vezes também gosto de ouvir.
Ouvir gente sem preconceitos, gente com classe,
com quem tenho o previlégio de aprender um pouco da vida .
Gente que sabe falar, que tem muito que contar,
e que tem uma enorme qualidade inestimável,
acessível a poucos,
que consiste em saber ouvir os outros .
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