TODOS OS ANOS, EM AGOSTO .
Desde que me conheço que vivo junto ao fogo .
Morava ao pé do quartel de bombeiros voluntários .
Quando tocava a sirene, era logo o primeiro a chegar .
Um sinal, era fogo na vila;
Dois sinais, era fogo mais longe .
Os homens largavam os empregos, corriam ao quartel,
vestindo a farda pelo caminho .
Saía á frente o jeep do comandante,
depois o autotanque, e por fim o carro das bombeiros .
Desde sempre que vivo, por dentro, o drama dos fogos .
Quantos governos já passaram,
e tudo continua na mesma .
Quando Mário Soares era presidente,
assistiu, em directo, ao grande fogo da Covilhã,
que cercou a cidade durante alguns dias,
tendo as chamas atravessando a cidade em vários sítios .
O governo de então criou uma task force, uma empresa
nacional para recolher a madeira ardida.
O Secretário de Estado das Florestas,
pessoa competente e inquestionável,
foi demitido na hora .
A pressão das papeleiras tinha vencido .
Para quando a decência e a vergonha de deixar
de queimar o País ingloriamente,
drama repetido todos os anos,
com todos os horrores humanos e materiais,
que em nada abonam a favor de uma civilização moderna ?.
Até quando continuarão a ser desbaratados
os nossos recursos e deixados ao abandono os
habitantes, as terras e as serras esquecidas,
os teres e haveres malbaratados,
( menos para os cobradores de impostos),
de uma região prenhe de oportunidades, nunca resgatadas,
desde tempos imemoriais .
Ó Professor, isso também é Dívida, não é ?.
Quanto tempo mais,
VAI CONTINUAR A CHOVER NO MOLHADO ...
.