E era tão fácil criar um país novo ...
Após o imenso e longo manicómio em que andámos
envolvidos até ao tutano, durante uma negra eternidade,
tivemos a sorte de não ficar completamente chalados .
Até os mais rijos iam pirando a uma velocidade alucinan-
te .
Cada vez mais nos sentíamos doentes, física e psicolo-
gicamente, por dentro e por fora .
Emigrava-se, morria-se nas guerras coloniais,
ficava-se ferido ou chalado .
Mordiam-se os lábios de raiva .
Suava-se o sangue da revolta .
Bebia-se o fel da impotência .
Foi então que se inventou o 25 de Abril .
E finalmente foi a festa, celebrada, vivida, remoída .
Foi a alegria colectiva, deslumbrante, sem derramamento
de sangue, a epopeia de um povo asfixiado durante quase
meio século .
Foram os cravos, os abraços, os beijos, um milhão de pes-
soas nas ruas, celebrando a democracia, a liberdade, a alegria
Foi bonita a festa, pá...
Mas foi sol de pouca dura .
Tínhamos todas as condições para agarrar o futuro .
Mas como diz o poeta :
Quando Novembro aqui chegou,
foi contra nós que disparou,
e então a festa acabou .
Houve aqui alguém que se enganou ...