Nesse tempo, embora houvesse pontos fixos de distribuição
de jornais, a maioria das notícias eram levadas de rua em rua
pelos ardinas, que aguardavam impacientes a sua distribuição
e a chegada das novidades .
Quase todas as empresas estavam sediadas no Bairro Alto .
A maioria dos jornais desse tempo já não existem .
Cada ardina tinha o seu pregão próprio .
Dizia um :
- É o Século, é o Século,
Traz o desastre,traz o desastre .
Era o que hoje se designa por teaser .
Era um engodo, para aumentar as vendas .
Outro berrava alto e bom som :
-LISBOA
CAPITAL
REPUBLICA
POPULAR
Era uma clara provocação à Pide, lançada aos quatro cantos,
sob protecção da pouca luz das ruas de Lisboa .
Uma outra história relatava a viagem quotidiana de um cavalheiro
de Cacilhas para Lisboa.
Todos os dias comprava o jornal ao ardina de serviço, olhava
para a capa do jornal e, de seguida, deitava-o para o lixo .
O ardina, assistia regularmente aquele estranho número,
e um dia questionou o viajante :
- Porque é que o senhor faz isso ?
- É para ver a necrologia .
-Ó homem, mas isso só vem nas últimas páginas .
- Que nada, disse o outro:
Quando o gajo bater as botas
vem de certeza na primeira página .
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