Compro o jornal todos os dias, quase como um vício .
Os temas pouco variam de dia para dia, e cada vez mais
induzem o leitor em confusão .
Mesmo as grandes desgraças nos deixam indiferentes .
Os telejornais funcionam como drogas alucinantes que
nos embrutecem cada vez mais .
Estou sentado numa esplanada, junto à rua mais movi-
mentada, e quase já não leio .
Distraio-me a ver as pessoas a passar, apressadas para
as suas obrigações .
Velhas, novas, magras, gordas, feias, bonitas, sobretudo
chamam a atenção as mulheres mais bonitas .
Aproximam-se lentamente, passam por mim, e logo se
perdem na calçada .
Tento adivinhar o que vai nas suas cabeças, uma por
uma, vida por vida .
O jornal é, muitas vezes, o pretexto para ficar a olhar .
É puro cinema, com o quê de neo realista, a côres e em
cinemaescópio .
Umas surgem um pouco retraídas, outras desfilam com
grande garbo, umas um pouco desleixadas, mas cada vez
mais, bem vestidas, bem arranjadas, mostrando aquilo
que são e o que querem .
Umas sorriem, e orelha a orelha, outras afivelam uma
máscara de sofrimento .
Como o mundo mudou ..