Passada a grande euforia revolucionária e contra-revolucionária, começou a
tentativa de reorganização do Estado (como este palavreado soa a falso).
Mudaram-se os nomes dos organismos, trocaram-se as respectivas atribui-
ções, e multiplicou-se, ad infinitum, o número de funcionários .
Fez-se uma ligeira sistematização biográfica do pessoal e uma classificação
apressada , classificação que viria a ser alterada vezes sem conta, ao sabor
dos interesses que se iam instalando .
As menos habilitadas eram arrumadas, em regra, em função da idade .
As mais aptas e instruídas, normalmente gente diplomada, eram selecciona-
das de acordo com interesses pessoais, políticos ou ideológicos .
Tinha começado a dança das cadeiras .
A ideia dos concursos viria mais tarde,
e a dos boys, ainda mais .
A cada mudança do poder,
a cada valsa partidária,
tudo mudava .
Com a deslocação da esquerda para a direita,
muitas pessoas tranferiam-se, de armas e bagagens, de um lado para o outro.
Como muitos ficavam instalados, o exército de trabalhadores do Estado, ia
aumentando sempre, mas a melhoria da qualidade do conjunto, nem por isso mel-
horava , por aí além.
Em vez de menor Estado, melhor Estado,
passou a ser ,
maior Estado, pior Estado .
Mesmo assim, foram introduzidos grandes melhoramentos no sistema, que fa-
ziam com que as coisas fossem funcionando, tant bien, que mal,
mas o pior estava para vir .
Tinha sido dado o sinal de partida para o abastardamento da máquina do Esta-
do .
Mas a máquina tinha crescido desalmadamente, em tarefas, e em orçamentos,
e começou a derrapar descontroladamente .
Muitos factores iriam provocar um total desfasamento entre as necessidades
básicas dos cidadãos, e o preço a pagar pelo conjunto da sociedade .
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