domingo, 13 de janeiro de 2013

OS VAMPIROS .

No céu cinzento sob o astro mudo,
Batendo as asas pela noite calada,
Vêm em bando com pés de veludo
Chupar o sangue seco da manada .

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada,
Eles comem tudo, eles comem tudo 
Eles comem tudo e não deixam nada .

A toda a parte chegam os vampiros,
Poisam nos prédios, poisam nas calçadas,
Trazem no ventre despojos antigos,
E nada os prende às vidas acabadas .

Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada .

São os mordomos do universo todo,
Senhores à força, mandadores sem lei,
Enchem as tulhas, bebem vinho novo,
Dançam a ronda no pinhal do rei .

Eles comem tudo, eles comem tudo,
eles comem tudo e não deixam nada .

No chão do medo tombam os vencidos,
Ouvem-se os gritos na noite abafada ,
Jazem nos fossos, vítimas de um credo,
E não se esgota o sangue da manada .

Eles comem tudo, eles comem tudo,
Eles comem tudo e não deixam nada .

E se alguém se engana com seu ar sisudo,
e lhes franqueia as portas à chegada,
Eles come tudo, eles comem tudo,
Eles come tuda e não deixam nada .

Eles comem tudo, eles come tudo,
Eles comem tudo e não deixam nada .

Zeca Afonso .
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