Estou em frente ao teclado do computador,
e confesso que não me apetece escrever nada .
Nada de nada .
Dizer mal o Cavaco ?.
Enxovalhar o Passos ? .
Malhar no Governo ?.
Criticar a Justiça ?.
Espevitar a oposição ?.
Já nada me anima, nem me espanta .
Que posso eu fazer ? .
Quando era mais novo,
sonhava todas as revoluções do mundo,
entrava em todas as sublevações,
vivia todas as revoltas.
mas nunca me aconteceria nada de grandioso,
até que veio o 25 de Abril .
Foi o nosso grito do Ipiranga .
O nosso Maio e 68 .
A nossa Comuna de Paris .
A nossa revolução cultural .
Tudo isso passou, morreu .
Ainda cheira a incenso .
É do foro arqueológico .
O mundo que eu conhecia tornou-se estranho .
Foi um filme que correu depressa demais,
já não o consigo apanhar .
É um problema de relatividade,
como naquela famosa experiência formulada
por Einstein, em que dois comboios partem,
em sentidos inversos, ambos à velocidade da luz .
Ou como a explicação científica do Big Bang .
Ou da existência de Deus .
Onde eu já vou .
Deve ser da fraqueza ...
.