E de novo o carrocel maluco,
Serra abaixo, Serra acima,
partindo dum vale profundo,
para logo atingir os cumes sagrados,
Quantas vezes por aqui andei, desci, subi, nesta montan-
ha russa de granito.
Olhar a Serra é senti-la no coração, imaginar, fantasiar,
curtir cada frágua, em cada poio, em cada calhau, numa
aproximação ao Belo, ao Transcendente, que nos trans-
porta para além, muito longe .
Para o sentir daquelas gentes sofridas, o suor e o sangue
dos que na Serra labutaram, àrduamente, escavando um
pouco de solo entre as enormes pedras que compôem o
imenso presépio da Estrela .
Só os que viveram na pele, as agruras e as dôres de parto
deste povo, conseguem lá chegar, conseguem explicar a
Serra, no seu âmago .
Que interessam os adjectivos usados, as descrições gros-
seiras, as classificações supérfluas .
Nada importa .
O que interessa,
é o espanto que nos dobra, em cada curva a estrada .
O palavreado barato só nos distrai do essencial :
A grandeza telúrica deste espectáculo grandioso, só é
ampliado. quando a neve nos faz a sua ampliação.
É então que conseguimos chegar ao Céu .
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