quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

O ESPÓLIO .

Desde criança que me fui transformando num caçador
recolector coleccionados compulsivo .
Por necessidade, por educação e por paixão .
Tudo servia para inventar uma pequena colecção :
cromos, selos, berlindes, santinhos, bonecos recortados
de revistas, gravuras, papéis de embrulho, tudo .

Como mudava de casa muitas vezes, acabava por ir per-
dendo as coisas, um pouco por todo o lado .

Quando assentei, comecei então a coleccionar , em espe-
cial papel, todo o papel, escrito à mão, impresso, recor-
tado, papel usado nos mais diversos processos de utiliza-
ões, de todas as cores e estruturas, mais fino, mais gros-
seiro .

Quando me reformei, tinha divisões de casa a atulhar os
espaços, provocando por vezes, altercações com os meus 
familiares .

Cheguei ao completo disparate .

Hoje em dia, vivo no receio fundado de, ter atingido os li-
mites de perigo, quer de segurança física, quer de perigo
de ignição .

Soaram na minha cabeça, as campaínhas que me alertam
para tais perigos, mas sobretudo para a minha falta de
bom senso .
Já não consigo ler nada, nem ver, nem saborear os bonecos
que fui amealhando .

Por outro lado, já tenho idade para ter juízo - 
Quando abalar, a minha gente vai-se ver aflita para de de-
sembaraçarde tanto lixo .

Estou pois a estudar a maneira de me desfazer gradual e 
racionalmente de tanta papelada .
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