quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A CONSOADA .

Saí à rua, manhã cedo, em busca de uma pastelaria .
Precisava de uma bica, que costumo tomar todos os dias,
um hábito antigo .
Não vi  lojas abertas, nem gente na ruas, nem carros a circular,
nada .
Apenas o nevoeiro a desfazer-se lentamente, deixando descobrir  a
ramagem das árvores, a silhueta dos carros, os prédios da minha rua .

Não foi até tarde a consoada,  para mim passou a correr .
Terminado o ritual do bacalhau com batatas  e as couves,
a noite estava despachada .

Antigamente, ia a fundo na noite ,
com a família reunida,
em volta dos meus pais, na província,
e mais tarde, já em Lisboa em casa do meu irmão mais velho,
que fazia quase sempre de Pai Natal .

Havia sempre um bando de crianças, o Pedro e os primos, em grande
algazarra, numa brincadeira interminável, de que ninguém arredava pé .
Mas o ponto alto da noite, depois de abertas as prendas, e tudo espal-
hado pela casa, após o assalto da maralha,
era a cena da batota,
o aguardado desafio de King .

Crianças grandes e pequenas,
desunhavam-se para sacar mais uma vaza, numa batalha quase campal .
Era um gôsto assistir àquele jogo de cintura e de sofá , em que os adultos
se comportavam pior dos que os mais novos .

Acabava sempre numa discussão acesa, sem vencedor anunciado .

Agora, sem King, sem a festa, sem nada,
de que serve o Natal,
qual o sentido da jogatana ...

Resta apenas a saudade, a memória desses Natais .
.