Para mim, o primeiro dia de aulas,
era o dia da libertação .
Ao fim de quase três meses e meio de férias, quantas vezes
prisioneiro de tios e tias, mesmo acompanhando o meu avô,
sujeito a um autêntico regime de clausura, com regras e im-
posições de toda a natureza,
para mim, quando se aproximava o mês de Outubro,
nascia-me uma alma nova,
o sol voltava a brilhar de novo .
O regresso dos amigos, o desafio feito aos professores,
a prespectiva de novas aventuras e peripécias,
o recreio quotidiano, em que o jogo de futebol contra o
professor Ramos, era o prato forte, quer chovesse ou
fizesse sol, a descoberta de novas malandrices, a cum-
plicidade dos nossos sonhos e quimeras, a visita à escola
das raparigas, sempre vigiadas , situada longe da escola
dos rapazes,
e toda a imaginação e fantasia de usávamos e abusáva-
mos,
tudo isso fazia com que as aulas durassem sempre
um bom pedaço a mais.
Estudar ?.
Trabalhos de casa ?.
Explicações .
Tudo isso nada importava .
Era um desperdício .
Como diria o Poeta :
Trabalhar é coisa pouca.
Estudar é coisa lousa.
Quando havia um furo, ou algum professor faltava,
era motivo de júbilo
Quando a neve nos fazia uma visita, era decretado feriado
oficial,
e partíamos em debandada, rumo às lutas entre escolas,
a que a população se associava alegremente .
E ainda há malta que não gosta de ir às aulas ...
Trata-se de gente malsã e muito
estranha,
ou alguém com algum parafuso a menos .
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