CAP. I
O personagem é tão desprezível, que nem sei como começar
a dissecá-lo .
Há muita gente que acha imensa graça ao figurão, de tão his-
triónico que se apresenta em público .
É capaz de afirmar uma ideia, para logo a contradizer de se-
guida .
E depois voltar ao mesmo .
É a missa as criadas e dos parolos, ao domingo .
Vai a todas .
Muda e igreja .
Muda de paramentos .
Muda de sacristão .
Mas a ladaínha beata é sempre a mesma .
De uma pobreza intelectual abjecta .
São Marcelo de Amarante .
Calai-vos, que bem podeis
Já metes nojo na língua
Num sítio que eu cá sei .
Mas o pior de tudo é o ódio
e o ópio que destila .
Um licranço que ataca pelas costas .
Uma víbora peçonhenta, sempre à espera de
cuspir veneno cirurgicamente, na passada,
fingindo-se santinho de pau carunchoso .
Quem paga esta palhaçada ? .
Enxovalha-nos miseravelmente,
e mete ao bolso o dinheiro dos bilhetes .
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