O CENTRO DO MUNDO .
Não tenho memórias muito bem definidas sobre a minha
infância .
Eu era apenas uma das muitas peças de uma família tradi-
cional, remediada, que vivia na província, fazendo parte de
um universo organizado no esquema de economia de sub-
sistência, e habituado a uma grande austeridade material, e
de princípios .
Só bastante tarde fiquei a saber a casa
onde tinha nascido .
Era o que se poderia chamar um agre-
gado familiar de geometria variável .
Estava sempre alguém a nascer, alguém a emigrar, outro a
mudar e emprego e, por vezes, a mudar de residência .
No meu caso pessoal, não têm conta as escolas e os profes-
sores que me passaram pelas mãos, em todos os graus de en-
sino .
À medida que a minha família ia aumentando, assim a minha
vida se ia alterando .
- Nunca tive o privilégio de ser o primo-
génito .
Fui o 2º na linha da sucessão familiar .
Quando eu começava a criar algumas manhas, aí vinha já
outro a caminho .
Nunca fui o centro do Mundo
Girava por aí..., meio vadio .
Era o centro do meu mundo .
Irrequieto, um tanto ou quanto malandreco, curioso, atre-
vido, imaginativo, distraído, provocador, mas tudo em me-
ias doses .
Não fazia mal a uma mosca .
Contudo, vá-se lá saber porquê, toda a minha vida andei
com uma pulseira electrónica imaginária .