AS CARICAS .
Andei no 1º ano do Liceu Camões, em Lisboa, um dos mais
conhecidos e prestigiados, juntamente com O Liceu Pedro
Nunes, O Passos Manuel e o Gil Vicente .
Era frequentado à época, como acontecia com quase todos os
outros, exclusivamente por rapazes, e dividido pela malta do
1º ciclo, de um lado, e pelos mais velhos, do outro .
O Reitor era um personagem sinistro, de sua graça, Sérvulo
Correia, uma fera, uma besta, para ser mais franco .
Dado o número de alunos, mal tínhamos tempos de satisfazer
as nossas necessidades, e como havia uma só uma retrete para
todo o pátio, muitas vezes, ou não podíamos fazer chi chi, ou
tínhamos que aguentar a mija ao meio .
Não se podia fazer barulho .
Não se podia correr .
Não se podia andar à pancada .
O único jogo permitido era o campeonato de caricas .
em que os passeios eram os campos de jogos .
Havia todo um ritual nessa activudade :
preparar as caricas, escolher as equipas, seleccionar os jogadores
mais decisivos, encher as caricas com materiais pesados, para que
as traulitadas fossem mais eficientes, escolher a posição das peças,
e, fundamentalmente, treinar a pontaria .
O jogo ficou para sempre nas nossas cabeças .
Uma geração ou duas mais tarde, apareceria uma versão revista e
melhorada do jogo das caricas, que faria igualmente as delícias do
Mário Pedro e dos seus companheiros de brincadeiras .
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