Havia um pintor de Coimbra, que costumava passar as férias
de Verão na minha terra .
Cavalete e caixa às costas, saía da pensão e ia por aí .
Percorria as ruas, os becos, as hortas, observava as casas vel-
has, as escadas gastas, os portões de ferro, as figuras serranas,
as paisagens rurais, e o céu derramando luz por todo o lado .
Como não tinha mais nada que fazer, agarrava-me ao pintor Jo-
sé Contente, de seu nome, como uma carraça, e seguia-o por to-
da a parte .
O homenzinho bem me enxotava , e tudo fazia para me pôr a de-
sandar .
Depressa percebeu que eu gostava mesmo de o ver trabalhar,e
começou a tratar-me como um cão de guarda .
Acabámos por nos habituar um ao outro .
A minha gente achava piada, e até me soltou a coleira do mau
comportamento que sempre me acompanhava .
Quando o Pintor pintava com aguarelas, eu estava no Céu,
mas quando usava os óleos, começava a enjoar com o cheiro, e
acabei por desistir das minhas aulas de pintura .
E nunca mais me habituei a pintar a óleo .
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