O papel começou muito cedo a fazer parte da minha vida,
muito antes dos bancos da escola .
O papel vinha da papelaria/livraria A Havaneza, talvez por
ser o sítio onde antigamente se vendiam os charutos .
Fazia-me uma certa confusão ver, como uma misturada de
coisas, restos de papel velho, trapos, etc.,vinham a conver-
ter-se numa superfície plana, lisinha, onde se escrevia e de-
senhava .
Igual encanto conheci, quando estudei para técnico têxtil, e
presenciei o processo de transformação de milhares de fibras
de lã, num velo , em penteado e finalmente, em fio .
Mas voltando ao papel .
Era um material relativamente raro, sobretudo o papel fino
para escrever cartas de amôr e cartas comerciais.
Umas e outras exerciam um grande fascínio, porque uma eram
coloridas, com forros bonitos e marcas fora do vulgar .
Algumas das cartas amorosas, ainda tinham um certo aroma,
o que lhes d um certo mistérioava .
Não que eu andasse a ler coisas nos desvões as casas antigas,
mas porque passava uma boa prestação do meu ócio, a catar
selos antigos e recentes, tal era o bichinho do coleccionador de
estampas filatélicas .
Depois havia outro filão, também muito importante, que eram
os papéis de embrulho que passavam pela loja do meu tio Al-
berto, cada côr, seu uso .
Amarelo e azul esverdeado para sabão e produtos
químicos;
Avermelhado (com terra e palhas, à mistura) para
fruta e legumes; papel pardo, para acúcar e produtos secos
e ainda para tremoços, azeitonas, etc .
Para produtos mais finos, havia o papel vegetal, para o fiam-
bre e a manteiga ;
papel e 2 faces, para bolos, pão, etc .
Papel de seda, para fazer embrulhos de prendas .
Muitos anos mais tarde, 2 gerações depois,
desenvolvi intensa actividade no estudo e aplicação de papéis
diversos .
Ai, tomei o gosto pela cortagens e colagens, usando
o papel nas mais diversas maneiras, e ainda é hoje o meu ma-
terial preferido nos meus trabalhos e bonecos .