Deixei de ver o povo nas ruas
com as bandeiras bem alto
gritando e protestando
por tudo e por nada .
Agora faz-se um silêncio de morte
o povo está doente
já não vê não ouve não fala
que interessa a pontuação
nem a letra nem a música dos protestos .
Quem calou a tua voz
quem asfixiou o teu entusiasmo
que matou a tua alegria
quem castrou o teu desejo .
Seguem para o desemprego
sós e desamparados
ouvem os papagaios da desgraça
vivem o desânimo
mastigam a revolta em silêncio
bêbados de fome
quase moribundos .
Que se passa minha gente
não oiço nada
estarei surdo .
Faz-me falta o vermelho das ruas
as bandeiras negras da raiva
que aconteceu ao sol
que não o sinto a queimar a pele
nem embriagar a nossa vida .
Estamos mortos
e já não sentimos nada .
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