Quando era miúdo, gostava de juntar coisas simples
que guardava com todo o cuidado .
Coisas singelas, sem qualquer significado especial .
Guardava caixas e caixinhas, que muitos deitavam
para o lixo ou para a lareira .
Mas eu fazia de bombeiro, e salvava esses pequenos
objectos, com todo o carinho .
Talvez que tivesse herdado isso o meu avô José .
Havia na loja da casa e família, um pouco de tudo, es-
palhado (arrumado?) pelo chão de terra escuro .
O que eu descobria ...
Coisas do arco a velha, segredos escondidos, objectos
estranhos, à espera de ser desvendados .
Lembro-me e ter um dia, encontrado um maço de car-
tas e postais embrulhados numa fita colorida, com se
los estranhos, e todos os dias sentia o desejo de ver
quem era a pessoa que os havia enviado e quem os gu-
ardava tão religiosamente .
Acabei por descobrir que se tratava de cartas de amor,
talvez e um amor vivido por alguém que tinha
partido para longe, ou fugido de um amor infeliz .
Eu, por vergonha e pudor, não as lia, mas acabei por ir
recortando os espaços onde os selos estavam colados .
Assim, comecei a minha vida de filatelista falhado .
Depois continuei a arrebanhar botões, que arrancava da
minha própria roupa, o que me veio a causar-me alguns
dissabores .
A minha loja, ou por outra, a loja do meu avô, era uma
caverna de Ali Babá, prenhe de mistérios, segredos e tal-
vez algum tesouro .
Os Invernos eram duros e prolongados, mas havia sem-
pre novas coisas a explorar .
Estava sempre desejando vir da escola, para recomeçar a
minha aventura .
Tinha todo o tempo o mundo para me atirar ao trabalho
com todo o afinco .
Tornei-me um caçador- recolector exímio .
Foi por essa altura que iniciei o meu sonho
de um dia vir acriar um Museu das Coisas .
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