Os primeiros anos da instrução primária foram passados em Seia,
na escola do Professor Ramos, uma fera que nos metia medo, em
especial aos que tinham mais dificuldades em aprender .
Oriundos das classes com mais dificuldades económicas, iam
aprendendo através dos livros e da menina dos 5 olhos .
E nesse capítulo, o Prof. era exímio, distribuía pancadaria em todas
as direcções .
Mas a escola tinha uma coisa sensacional .
Em todos os intervalos, a única brincadeira, disciplina obrigatória
era o jogo da bola, qualquer que fosse o estado o tempo e dis-
posição do professor .
Discutiam-se as equipas, à vontade o professor, que escolhia os me-
lhores jogadores para o seu lado .
Os adversários constituíam o refugo e dois ou três dos mais rebeldes,
entre os quais eu me incluía .
Os desafios acabavam sempre com a vitória da equipa do professor .
Algumas vezes em que o jogo a bola não tinha lugar,
tentávamos jogar o pião, ao ralha, dando corda ao pião, pondo-lo a
girar, apanhá-lo com a mão, e depois , no tempo as castanhas, atirar
com elas para fora de um círculo traçado no chão, afastando-as para
longe .
O vencedor ia abichando as castanhas que apanhava fora o círculo .
Outra brincadeira era o bilas .
O jogo do berlinde .
Naquela época os berlindes eram as bolinhas de vidro, que introduzidas
no interior das garrafas de refrigerantes, quando se introduzia o gás da
gasosa, o berlinde empurrava a bebia com força e selava a garrafa .
Eram os célebres pirolitos .
Pobres berlindes definitivamente encerrados nas garrafas, não fôra a as-
túcia da malta, roubando-as, partindo-as, e deste modo resgatando as bo-
las e vidro, para gáudio a miudagem .
Os mais endinheirados compravam bilas e todas as cores e tamanhos
e o mais ganhador era o que tinha o berlinde maior, o carrão, que
usava para dar uma traulitada e afastar os mais lèvinhos .
Ainda hoje me faz uma certa confusão, o fabrico dos berlindes, feitos
de vidro, tão redondinhos, e com aquelas côres com grande magia .
Um ia, hei-de voltar a este assunto, a propósito de um passeio que fiz à
Marinha Grande, às fábricas do vidro .