Nasceste em Lisboa,
mas foi como se sempre tivesse crescido e vivido
com o sentido no mar .
Sorvias o mar, bebias o mar, engolias o mar .
Eras o próprio mar .
Pela mão da Avó Rosa,
partias manhã cedo no barco da Ilha
a caminho da praia e do mar .
Mal dormias, mal comias,
e corrias para o mar,
como se ele fosse acabar .
Entravas e saías
vezes sem conta.
Era preciso arrancar-te às ondas,
mas tu regressavas uma e outra vez
sem jamais desistires .
Parecias um golfinho,
brincando sem parar .
Já perto do fim
estiveste na praia de Copa Cabana,
cumprindo a promessa a Iemanjá .
Vestiste de branco
e saltaste as ondas na Passagem do Ano .
Talvez que agora continues a navegar
de porto em porto,
sentindo as ondas o mar
a bater-te suavemente
de mansinho nos pés .
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