O regresso ao passado.
Tive o previlégio e a vergonha de viver longos anos
no País de Salazar .
País salazarista e salazalento.
Onde tudo era pardacento.
Um País a preto e branco.
Uma prisão colectiva.
Um albergue inimaginável.
Não desertei porque a França ainda era muito longe,
e a família era mais forte que o exílio.
Os mais novos nem sequer podem imaginar
esses tempos.
Sobreviviamos com o silêncio e com a raiva.
Habitavamos o asilo do boato e da anedota.
Sempre com um polícia dentro de nós.
E outro à nossa porta.
E depois havia a culpa de uma guerra que não era nossa.
O remorso de hipotecar, em cada dia, o nosso futuro.
A castração da esperança.
UM PORTUGAL SEMPRE ADIADO .
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