quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O CAVALEIRO DA TRISTE FIGURA .

O meu tio Zé Nini .

Sem querer, olhei para a Televisão, e dei com um fantasma
de muito má memória .

Era ele , o velhote de Boliqueime ...

Velho, ressequido, deitando espuma pela boca, vociferando
umas patacoadas sem jeito, vingativo, asqueroso, dizendo mal
de tudo e de todos .
Aí estava ele no seu melhor .

O que faz esta múmia descarnada no Carnaval de Castelo de Vide ?

Fugi criancinhas, que o homem do saco 
voltou .

Fechem portas e janelas, que anda por aí, outra vez, o leproso .

O cadáver ambulante .

Será que é com este paspalho, saído do baú da naftalina, o teaser
do PSD; para as autárquicas que se aproximam ...

Até  Sá Carneiro se vai levantar do cemitério .
.


quarta-feira, 30 de agosto de 2017

NAZISMO à PORTUGUESA .

O que é que fará com que a natureza humana reaja de maneira 
tão canalha, em determinadas ocasiões .

Não há limites 
para a ruindade das pessoas .

Há quase 2 meses que os bombeiros fazem um esforço sobre hu-
mano , para salvar vidas, animais, bens, máquinas e outros uten-
sílios, sem horário, sem comer, sem beber, sem dormir, sem des-
cansar,

e há gente e instituições, que em vez e ajudar a minorar as dificul-
dades sentidas pelos Soldados da Paz, andam por aí, infiltrados, a
tramar a sua vida, chegando ao ponto de surripiar as parcas ra-
ções a que têm moral e legitimamente direito .

Ao que chegámos .

Cuidado, 
que andam por aí nazis à solta .
.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

OS FENÓMENOS EXTREMOS .

Deus é uma pessoa do contra .

No dia em que bolei o meu plano para acabar com o problema dos fogos,
eis que começa a chover cães e gatos, e lá se vai a minha teoria por água
abaixo .

Literalmente .

Já começava a ter grandiosas ideias para realizar o meu projecto, de deser-
tificar por completo Portugal, e construir tudo de novo, de modo a proteger
os velhos e velhas, os eremitas, as pessoas acamadas, os nostálgicos do che-
ro a resinosas e a eucaliptos, os amantes sinceros e devotados de um bom in-
cêndio a valer, um espectáculo digno de uns quantos Neros, espalhados pe-
las serras, bem escondidos para actuar de rompante, e sem qalquer prévio
aviso ou preparação .

E lá se vai  apagar aquela ideia tão brilhante, 

que a até o Sol quis destruir .

Mas eu não me fico .

Fica para outra vez, se as condições se mostrarem propícias .

Com o Planeta a aquecer desta maneira, em breve reencontrarei Calígula,
um sujeitinho também dado a estas coisas de fogos .

Aqui fica a minha promessa .

.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

UMA IDEIA ARDENTE .

Agora que parece que já acabou a época dos fogos (embora
ainda ontem ficassem feridos mais 3 bombeiros, no incêndio 
de Pinhel), 
está na hora de avançar com novas ideias e propostas para com-
bater a sério o drama dos fogos florestais, com novas políticas
e estratégias, tendentes a acabar radicalmente com este flagelo
que nos invade todos os meses de Verão . 

Têm aparecido nos media ideias mais de mil para solucionar a
questão, mas tudo não passa de meros paliativos, que só fazem 
é  prolongar indefinidamente, o rosário de morte e de dôr, de ca-
lamidade e de sofrimento, sentidos na carne por milhares de por-
tugueses, que teimam obstinadamente em viver no interior pro-
fundo, tantas vezes sem os mínimos cuidados e privilégios .

Está tudo errado .

Há décadas, ou séculos mesmo, que a floresta só dá rendimento 
para uns quantos crápulas, que vivem do pinheiro e do eucalipto, 
somente para os esfarelar para fazer papel, que se vai usando cada
vez menos .

Até os madeireiros estão em vias de extinção, pois que a popula-
ção vai minguando cada vez mais .

Só a chatice de fazer crianças, o trabalhão e as preocupações que
isso acarreta .

A trave mestra da nova política é

Fazer arder, de uma só vez, o país 
inteiro, 
de forma ordenada e coordenada,
poupando desta maneira , o dinheiro
gasto em bombeiros, em capitais in-
vestidos nas florestas, em seguros, em
protecção civil e tudo o mais,

e construindo aldeias modelo, bem si-
tuadas e equipadas, onde o fogo nunca,
em situação alguma, pudesse chegar .

Não viveríamos todos mais felizes .

Ou será apenas mais uma ideia obtusa ?!?...
.


domingo, 27 de agosto de 2017

Toma lá, que é democrático .

Parece que ainda estou a ver o olho do Jeff Bush,
a mirar os furinhos do boletim de voto, na eleição
presidencial no Estado da Flórida, que ainda usava 
uma maquina completamente obsoleta, que dava os
votos que se quisesse .

Recordo com saudade as primeiras eleições na 
Rússia, onde tudo foi usado para dar a vitória 
ao bêbado Yeltsin,
dinheiro a rodos, chapeladas e mais chapeladas, 
para que o Partido Comunista fosse arreado do 
poder .

Agora, em Angola, a imensa maioria dos observa-
dores nacionais e internacionais, veio considerar 
as eleições angolanas correctas, justas e democráti-
cas .

Quase todos não, os da UNITA e uma boa parte dos
media portuguesa, continua a protestar e a renegar 
a realidade .

A UE também não quis verificar o acto eleitoral em 
Angola,
mas aceita os resultados do Burkina Fasso e da 
Guiné Equatorial .
.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Notas sobre o País do Galo Negro .

Dos acontecimentos mais antigos, pouco ou nada se sabe
de concreto .

Pouco se conhece do que se passou em Angola, antes dos
quinhentos anos que aquele País foi pura e simplesmente
transformado numa colónia rentável para as os impérios,
europeus, incluindo Portugal .

O Congresso de Berlim redesenhou o mapa das colónias,
mas apenas acabou com algumas rivalidades, quanto à divi-
são das imensas riquezas do Continente Africano .

Só com o alvorecer da II ª Guerra Mundial, com a participa-
ção de soldados africanos e asiáticos, na batalha global contra
o 3ºReich, se abriram levemente, as portas ao incipiente naciona-
lismo africano (e asiático) .

Mas somente com a Conferência de Bandung, com o apareci-
mento dos países ditos do Terceiro Mundo, sob a égide de
Nerhu, Nasser e Tito, nasceu um novo bloco na cena interna-
cional, designadamente no seio da ONU, é que esses naciona-
lismos ganharam carta de alforria .

Muita  água no entanto iria correr nos rios angolanos até se po-
der falar de Democracia em Angola .

O desencadear da Guerra de Libertação dos Povos de Angola,
contra o o regime fascista de Lisboa, a Guerra Civil entre os dife-
rentes movimentos alinhados com os diferentes blocos que sus-
tentavam a Guerra Fria, e mais tarde, o envolvimento das pró-
prias potências em causa, numa mortífera guerra fraticida, que
Cuba e a URSS acabariam por ganhar .

Quanto custou, em vidas humanas, em riquezas, em ódio e raiva,
toda essa caminhada até se chegar a um ideia de Democracia An-
golana .
.


quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O MITO ANGOLANO .

Ninguém dá pontapés num cão morto .

Afinal, 
o Dos Santos, não era tão mau como o pintavam .

Mas a História deste imenso e rico País, ainda está toda por 
contar, porque o ódio ainda não sedimentou nas selvas afri-
canas .

Uma coisa me parece evidente, 
sem MPLA e o tal Dos Santos, Angola teria sido dividido,
inexoravelmente, em duas outra duas Coreias, com  os resul-
tados negativos e trágicos que daí adviriam .

Angola é nossa

gritava-se nos idos de 70, com uma ingenuidade e uma manha
imensas .

As voltas que o Mundo dá ...
.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

OS RADICALIZADOS .

Liberdade de Expressão .

Liberdade até para ficar calado .
De boca aberta para não dar em doido, com o que se passa
à nossa volta .

O que dizer ?
O que escrever ?
O que reter? 
O que esquecer ?
O que sonegar ?
O que confundir ?  

Talvez que seja mesmo esse o objectivo em mira, não se sabe de
quem, como e porquê .

Qual a razão do linchamento

com vinte tiros nos cornos,

de um emigrante português, pretensamente munido de uma faca,
que não obedeceu à ordem para abandonar a sua viatura, e que só
pretendia abrigar-se em casa da família, e acossado por várias via-
turas da polícia.

Ainda por cima, constava que o homem que sofria de doença mental .

Afinal, 

quem são, realmente, os verdadeiros 
radicalizados ...
.

domingo, 20 de agosto de 2017

Os Deuses do Fogo e da Loucura .

Os outros deuses desapareceram e a Terra arde sem parar,
para castigo dos humanos .

Sedento de sangue e de morte, o fogo arrasa tudo à sua pas-
sagem, e as árvores morrem de podres e esmagam os peregri-
nos inocentes .

A besta americana clama em apoio da KKK e dos nazis, se-
meando o ódio e o horror,  do outro lado do Atlântico .

Os amantes da guerra nuclear brincam ao Holocausto final,
como se estivessem a soprar pequenas bolas de  sabão, reben-
tando-as com um tlique .

Q fogo chegou à minha Terra, à minha Porta, à Covilhã e ao Tor-
tosendo, à Varanda dos Carcajais e ao Casal da Serra, bem per-
to da nossa Casa .

Tenho vontade de apagar o So,l nem que seja por algum tem-
po, para aliviar um pouco que seja, a sede de bem estar e de Paz,
por que tanto ambicionamos .
.

O Planeta Terra está agora muito zangado, e exige severos castigos
a uma sociedade agreste, corrupta, ferida, desregulada quase mo-
ribunda, farta de sofrer maus tratos sem fim .
.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

CRIATIVIDADE .

Curioso título vertido num artigo do DN, 
acerca das minas de sal, de Rio Maior :

SAL:

UMA INDÚSTRIA QUE CONSERVA

OS TRABALHADORES 

E DÁ TEMPERO AO PAÍS .
.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

O BLITZKRIEG .

Os quatro cavaleiros do Apocalipse :

O Fogo, a Fome, a Peste 
e a Guerra .

É muito difícil entender o que se passa à nossa volta, no
que diz respeito à catástrofe dos fogos florestais, repetida 
todos os anos, pelas férias grandes dos burgueses, sentados 
à beira mar, molhando os pés e mijando na água, para ali-
viar a bexiga .

Comendo sorvetes e bolas de Berlim, e chavascando nos 
restaurantes mais in, chupando patas da lagosta ou lava-
gante .
Bebem uns copos para aliviar a tensão, bailam até ao nascer
o sol, embriagados pela sensação do dever cumprido .

Que importa o que vai lá fora .
Deixa arder, que o meu pai é bombeiro .

A cair de bêbados, nem sequer vêem os telejornais, que o mun-
do está cheio de desgraças, e quando vêem, pensam que é ape-
nas um filme de actualidades, lá no Norte ou, quem sabe, no es-
trangeiro .

As autoridades, que diabo, também têm direito a gozar as suas
férias .

Não é nada com eles .

Em Setembro, logo se verá ... 

De que servirá Portugal ser um País muito avançado em novas
tecnologias, com uma grande percentagem de cérebros, desco-
brindo cada vez mais as tecnologias da informação e outras ma-
ravilhas da técnica e da tecnologia, ofuscando o mundo com coi-
sas maravilhosas, se depois, 

o País arde, arde sem parar, reduzindo a 
cinzas 

o património humano, o edificado, a vida toda de uma já redu-
zida população, em vias de extinção, desiludida e sem futuro .

Afinal, para que servem os nossos doutores e engenheiros, a fina 
flôr nos nossos emigrantes da ciência, que gastaram o dinheiro
numa esmerada educação, e agora não querem dar uma mão
para ajudar a refazer de novo, o nosso triste e apagado Portugal .

Os portugueses agradecem ...
.





domingo, 13 de agosto de 2017

A (desCONFIANÇA)

A dúvida sistemática .

Um sujeito entrou a correr num café cumprimentou
os presentes com um 

OLÁ, BOM DIA ;

Traga-me uma, se faz favor .

O empregado, intrigado,  olhou de lado, e pensou lá
com os seus botões :

Olá, bom dia,
olá, bom dia,

Mas que será que o tipo quer dizer com aquela frase ...
.



sexta-feira, 11 de agosto de 2017

PORTUGAL AINDA ESTÁ A ARDER ?.

Pobre do meu País ...

Um País é o seu Território,
e o Povo que o habita .

É a Língua e a História por ela 
contada .

São os seus Recursos, a Terra 
e o Mar .

A sua Paisagem, o Mar e as 
Montanhas .

As suas Conquistas e os seus 
Descobrimentos .

Os seus Antepassados e a sua 
Cultura .

Portugal sempre foi uma terra madrasta, 
uma quinta tomada por estrangeiros, 
explorada até ao tutano, escravizada de sol a sol,
habituada a entregar, de mão beijada, os parcos 
proventos colhidos com tamanha voracidade, por 
uns quantos, em detrimento de todos os outros .

Sujeito à rapina e ao saque, terra devorada im-
punemente pelo fogo e pela ganância, entregue à 
escravidão de gente habituada ao lucro fácil e des-
truída pela maldade de uns quantos  loucos .

Portugal continua a arder,
ou já ardeu de vez .
.


quinta-feira, 10 de agosto de 2017

À BOLEIA DE CAMÕES .

...E no entanto.

tudo vale a pena, 
se a alma não é pequena .

Mas a alma tem vindo a minguar, a olhos vistos .
Vertiginosamente .

Os poucos sonhos que alimentava, vão-se esvaziando
em pó e em nada .
Já me falta o tónus umbilical que controlava a minha vida .
Cada vez mais, é o vazio a apoderar-me da minha carcaça .

Até o que penso é esmiuçado até ao osso, sem dó, nem pie-
dade .

Estou cada vez mais cercado,
 e o Agosto tão longo, foi abrasador e devastador .

Para resistir,
recomecei a fazer bonecos,
expondo o absurdo e o horror,
 do que já levo mais de um mês a encaixar-

Os incêndios florestais .
.



sábado, 5 de agosto de 2017

A CADEIA ALIMENTAR .

Cada um come o que quer,
os outros comem o que podem .

Há peixes finos, os mais apreciados, são descabeçados, 
tiram-lhe as tripas, bem lavados, sacam as espinhas, e
vão ao forno para assar, bem temperados e bem apala-
ladados .

São os peixes do alto, servidos em baixela de prata .

Há depois os peixes azúis, que ultimamente têm vindo a 
subir na escala hierárquica da peixeirada  - Sardinha, 
cavala, peixe espada, peixes classe média, servidos em tal
heres inox, e dizem que fazem bem à saúde .

Seguem o peixe miúdo, petingas, sardas, carapaus, enxar-
rocos, que matama fome à gente mais humilde, quando ain-
da há gente e peixe, que vão rareando cada vez mais .

Usam facas e garfos de plástico .

No fim da cadeia (cadeia, albergue onde são metidos aque-
les que roubam um papo seco ou uma maçã ), e esses pas-
sam o tempo a esgravatar no lixo, em busca de algum resto
de comida para saciar a fome .

E no topo da cadeia alimentar, há os poeixões, que se distrai-
em a devorar os outros peixes, sem qualquer restrição .

Esses são 

os TUMPARÕES

os TEMERÕES

os PUTINÕES

e os MERKELÕES .
.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

A PEIXEIRADA .

Cada um vê o que quer,
ou o que o deixam ver .

Tão longe de Deus
e tão perto dos Estados Unidos .

Democracia à la Carte .

A vaca com óculos verdes .

Cada cor, seu paladar .

La vie en rose .

A lixeira nas traseiras da América .

A América Latrina .

Trump, o palhaço global .

Trump muda mais vezes de governantes,
do que muda de cuecas .

Temer, um bandido de temer .

A UE Já ardeu ?...

E a Síria ?...

.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

ADIVINHA .

Se, por acaso, tivesses que pedir a alguém que te  
ajudasse a apanhar uma moeda de 10 euros, que 
tivesses deixado cair no chão, quem é que era ca-
paz de te ajudar a encontrá-la mais depressa e a 
devolvê--ta, sem hesitar :

A Trump,

a Temer

ou a Maduro ?.

Assim se avalia a Democracia ...
.




quarta-feira, 2 de agosto de 2017

O ELOGIO DO ÓCIO .

Que bom é ter um dever,
e não o cumprir .

Fernando Pessoa

Quando eu tinha mais vagar, muito gostava de ver os 
outros a trabalhar, e eu sentado para ali, horas a fio, 
como se estivesse a ver um filme real .
Chegava a faltar às aulas para me deliciar com tão inu-
sitado espectáculo, e completamente de borla .

Muito gostava de ir para o areeiro, nas traseiras da 2ª.
Circular, em construção, ver o gigantesco buraco, uma 
coisa digna de ser vista, onde os homens, quais formigas,
iam deitando a areia para o fundo, sempre em risco de
serem eles a cair no abismo .

Era esse o filme que passava nessa cratera, junto ao Pote
de Água . O lugar deve ter sido completamente arrasado .

Depois, assisti àquilo que eu chamo as 

Obras do Século :

O rasgar da Av João XXI, dos dois lados .
De um dos lados, desmantelando a enorme Fábrica de Ce-
râmica, abrindo caminho para os lados do Campo Peque-
no . e depois, rasgando a montanha, do lado da Av. Gago
Coutinho .
Meses após meses, centenas de camiões faziam uma bicha 
contínua, durante todo o dia, carregando terra e entulho, 
não sei para onde .

Morava mesmo sítio, e já estava viciado nas obras .
Todos os meus ócios, acorria a deliciar-me com aquela
barafunda, e aquilo nunca mais tinha fim .

Lisboa tinha-se expandido para outro lado e criado novos 
Bairros - Chelas, Olaias, Bela Vista, Relógio, e por aí fora .
.



terça-feira, 1 de agosto de 2017

A APRENDIZAGEM .

Andando, faz-se o caminho .

Quando comecei a frequentar as fábricas com mais 
assiduidade, em especial as tecelagens, que faziam
um barulho infernal, ficava completamente surdo .

Para meu espanto, os operários falavam uns com os 
outros, nas calmas, como se estivessem na rua .
Com o andar do tempo, fui aprendendo que o ouvido
humano se vai habituando a certas frequências e as
pessoas ficam parcialmente surdas . Deixam de ouvir 
as pancadas dos teares .

Outra coisa que a princípio ma fazia muita confusão
era as pessoas conversarem umas com as outras, sobre
todas as matérias, mas nunca pronunciavam certas pa-
lavras . 
Era uma espécie de conversa cifrada .

Usavam-se nomes e frases sem sentido directo, mas toda 
a gente percebia o significado e a ideia que estavam sub-
jacentes .

Era uma espécie de medida cautelar, usada gerações
após gerações, com toda a naturalidade, não fosse alguma
palavra perigosa escorrer para ouvidos inadequados .

Levei algum tempo a entrar naquele jogo .

Ainda hoje tenho o hábito de falar nas entrelinhas, ou usar e
abusar dos trocadilhos .

Outro truque que se usava nestas terras proscritas, era ter sem-
pre a televisão ligada, mas sem som .
Só se ligava o som, se eventualmente aparecesse um programa 
de interesse .
Deste modo, poupava-se a conversa vazia dos noticiários e dos
comentários políticos .

A coisa era mais acentuada no Tortosendo, terra operária por
excelência, onde as mulheres só saíam à rua, para ir para o 
trabalho . 
E os homens tinham que se deitar cedinho, pois pela
manhã eram acordados por uma bateria de sirénes para os en-
caminhar para as fábricas .
.
.