terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Retornar a História

Decidimos publicar um texto escrito pelo Mário Garcia no blog Martinho da Arcada, em 1 de Julho, de 2007.
Esse texto aborda o problema da integração dos chamados retornados das antigas colónias portuguesas.
A coragem, a clarividência e o amor à verdade que são evidenciados pelo tema, justificam tal publicação, dado persistirem ainda, na nossa sociedade, certas ideias feitas, mitos e preconceitos, difíceis de apagar.

Retornar a História
Numa altura em que o Estado Alemão está a concluir o pagamento de indemnizações aos ex-presos políticos do regime comunista da antiga RDA, o Herald Tribune de 15 de Junho relata a história de um grupo de mulheres alemãs excluídas deste processo apenas por terem estado no sítio errado e na hora errada.
Aquando da ofensiva final do exército vermelho em direcção a Berlim, na Primavera de 1945, estas cerca 20.000 jovens adolescentes viviam no Reich Alemão a leste do rio Oder, que no pós-guerra passou a ser território polaco.
Ao terem sido feitas prisioneiras de guerra, iniciaram a sua epopeia de sofrimento sendo levadas para campos de trabalho na Sibéria. Cerca de 4 anos depois as sobreviventes, menos de um terço, foram realocadas na RDA, proibidas de comentar o seu passado, aliás negado oficialmente.
Depois da reunificação, e com a ascenção ao poder de Angela Merkel, ela própria oriunda da Alemanha de Leste, criaram-se as condições para a sociedade alemã curar estas ‘pequenas feridas’. Mas hoje, seis décadas depois, continua a não existir qualquer registo oficial destas prisioneiras de guerra."We are Germany's forgotten wartime prisoners". "The issue is not the money as such, (…) it is about respect and recognition. We suffered in the labor camps. We were prisoners. Yet the German government has never recognized that fact.
"Paralelamente, leio no Courrier Internacional (8 de Junho) um artigo publicado no El Periódico de Catalunha intitulado «Um Milhão de Espolidos Esquecidos - Os portugueses que deixaram África ‘com uma mão à frente e outra atrás’ ainda não foram indemnizados pela descolonização».
Os denominados ‘Retornados’ «há 32 anos que reclamam do Governo Português uma indemnização por tudo o que perderam após a independência das províncias do ultramar».
Reconhecem que ‘os culpados’ foram os interesses internacionais. «Em plena guerra fria, os Estados Unidos, a Rússia, Cuba e a China estavam interessados no petróleo de Angola e no controlo da África Austral.» Mas acusam o Governo português de nada ter feito na defesa dos seus interesses.
A descolonização ainda hoje não é um tema pacífico em Portugal, pois muitos dos directamente envolvidos em todo o processo continuam vivos.E julgo que não vale a pena esgrimir argumentos sobre o momento histórico em que, em consequência da queda do Estado Novo, Portugal promoveu o acolhimento e integração na ‘metrópole’ de cerca de 1 milhão de retornados (10% da população). É um assunto que continuará a incendeiar velhas memórias, paixões e ódios antigos.
Contudo, parece que existem mais de dois mil processos de indemnização contra o Estado Português.
Estas indemnizações, no momento presente, significa que os cidadãos não envolvidos nestes processos deverão indemnizar os seus concidadões .
Ora eu questiono: De quê e porquê?
O Estado Português, que se saiba, não é acusado de ter ficado com o património dos lesados (ao contrário das nacionalizações). Não deveriam processar os respectivos PALOPs?
E não defendeu o Estado Português os interesses dos colonos portugueses?
O que foram os 13 anos de Guerra Colonial?
Nunca terá ocorrido aos colonos portugueses que a guerra poderia ‘dar para o torto’?
E não criou o Estado Novo condições de excepção para os portugueses no Ultramar?
Não beneficiaram de actividades económicas protegidas?Não era até necessário uma ‘carta de chamada’ para iniciar uma aventura africana?

À semelhança do caso das cidadãs alemãs, sou obrigado a lembrar-me também aqui dos ‘esquecidos’ desta nossa história.
A começar por todos aqueles que foram obrigados a sair de Portugal, durante décadas, ‘com uma mão à frente e outra atrás’, por não terem o que comer. Na altura em que se dizia não haver racismo entre nós pois vivia tão mal o preto em Àfrica como o branco em Portugal.
Quantos não sairam do País, até clandestinamente, porque esse mesmo Estado Português não ter sido capaz de criar as condições básicas de sobrevivência por cá?
E os caso dos presos políticos do Antigo Regime, torturados, exilados, discriminados, assassinados?
E os soldados que foram parar à Guerra?
Deverão também, todos eles, processar o Estado Português?
Segundo se depreende do referido artigo, aparentemente não podem.
Isto porque, os processos em causa envolvem a avaliação de ‘bens que tiveram de deixar para trás’, ‘propriedades’, ‘peritagens’.

Como cidadão português, já em pleno século XXI, considero não ter nenhuma dívida monetária com os ‘retornados’, palavra do passado, pois todos aqueles que eu conheço que regressaram do Ultramar, na minha família, entre os meus amigos, ou na vida pública em geral, são tão portugueses como eu. Longe vão os tempos dos portugueses de 1ª e de 2ª.
Ou talvez não...

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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

In Memoriam de Mário Garcia

In Memoriam de Mário Garcia


ANJO DA GUARDA

PROCURO E NÃO TE ENCONTRO,
FALO-TE E NÃO ME RESPONDES.
SINTO-TE EM TODO O LADO,
EM TODOS OS MOMENTOS,
EM TODAS AS COISAS.
ESTÁS NO VENTO,
NA TERRA E NO ESPAÇO.
NO MAR, QUE TANTO ADORAVAS.
QUANDO ESTOU ACORDADO,
OU SE ADORMEÇO,
QUANDO O DIA COMEÇA, E NO OCASO.
ESTÁS NO SOL, QUE TE AQUECIA
E TE DESLUMBRAVA.
ESTÁS NOS MEUS SONHOS.
ADVINHAS OS MEUS PENSAMENTOS
ESCREVO AS TUAS PALAVRAS.
PASSEIO E CONVERSO CONTIGO.
DESENHO A PENSAR EM TI.

VOASTE TÃO ALTO
E PARA TÃO LONGE,
MAS VENS SEMPRE TER COMIGO.
QUANDO QUERO AGARRAR-TE,
É ENTÃO, QUE DE NOVO, ME FOGES.
E SE FECHO OS OLHOS À NOITE,
É QUE TE VEJO MAIS PERTO.

ESTÁS SEMPRE COMIGO,
DENTRO DO MEU CORAÇÃO.
ÉS O MEU ANJO DA GUARDA.

Os Pais
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sábado, 27 de dezembro de 2008

África, continente esventrado


Xé menino, não fala política

Velha Chica

Antigamente a velha Chica
vendia cola e gengibre
e lá pela tarde ela lavava
a roupa do patrão importante;
e nós os miúdos lá da escola
perguntávamos à vóvó Chica
qual era a razão daquela pobreza,
daquele nosso sofrimento.

Xé menino, não fala política,
não fala política, não fala política.

Mas a velha Chica
embrulhada nos pensamentos,
ela sabia, mas não dizia a razão
daquele sofrimento.

Xé menino, não fala política,
não fala política, não fala política.

E o tempo passou
e a velha Chica,
só mais velha ficou.
Ela somente fez uma kubata
com tecto de zinco, com tecto de zinco.

Xé menino, não fala política,
não fala política.

Mas quem vê agora
o rosto daquela senhora, daquela senhora,
só vê as rugas do sofrimento, do sofrimento, do sofrimento!

Xé menino, não fala política,
não fala política, não fala política.

E ela agora só diz:“
- Xé menino, quando eu morrer, quero ver Angola viver em paz!

-Xé menino, quando morrer, quero ver Angola e o Mundo em paz!”

(Poema de Waldemar Bastos)
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BALADA DA NEVE

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

Poema de Augusto Gil
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Neve no Coração

Serra da Estrela, Cabeça da Velha, Seia.
Foto de António Correia

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quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A MÃE

( Adaptação livre de Máximo Gorki)

Desde muito pequeno que Pavel se interessava por tudo quanto o rodeava. Era inteligente e muito bondoso. Estava sempre disposto a ajudar a resolver os problemas dos outros. Depois, quando foi trabalhar para a fábrica, ensinava os companheiros nas questões mais complicadas e a todos ouvia com atenção, dentro e fora das oficinas.
Desde cedo se começou a inteirar das injustiças sociais, tentava saber o porquê da maldade dos homens, e, como era mais culto que os demais, conseguia arranjar explicações para as coisas.
Pouco a pouco, Pavel ia-se tornando um verdadeiro líder.
A MÃE, de seu nome Pelágia, seguia com grande atenção, e alguma desconfiança, mas também com grande orgulho, a trajectória e o progresso das actividades de Pavel. Depois, à medida que as reuniões e discussões, que em regra, se realizavam em sua casa, e se prolongavam noite adentro, tornando-se cada vez mais acaloradas, a MÃE começou a temer pelo filho, sentindo que ele se expunha cada vez mais a possíveis represálias da polícia.
Passou a estar mais calada e algo temerosa, apesar do que acontecia à sua volta. Á medida que se aproximava o 1º de Maio, as preocupações da MÃE iam-se avolumando, até que o grande dia chegou.
Vinham camaradas todo o lado, traziam faixas com frases revolucionárias e bandeiras vermelhas.
A multidão foi engrossando cada vez mais.
Foi então que a polícia surgiu.
Foi cercando cada vez mais os manifestantes e começaram as provocações de parte a parte. Deram-se as primeiras escaramuças. Pavel era um alvo fácil, pois era ele que transportava a bandeira. A Mãe seguia atrás das companheiras e com os outros camaradas.
Começou a cantar-se a Internacional e a luta atingiu o auge.
A polícia carregou violentamente e muitos cairam ao chão e foram maltratados e presos.
Pavel foi um dos apanhados.
A multidão fugiu em debandada, aos gritos. Seguiu-se então um grande silêncio, e instalou-se o desalento e o desarmar das lutas operárias.
Passaram os tempos, Pavel estava preso.
A MÃE tinha entretanto ido trabalhar na fábrica. A MÃE continuou o trabalho, mas agora " o outro trabalho" era mais importante para ela.
Ia aprendendo como era importante a luta em comum e a solidariedade entre os trabalhadores.
Era já escolhida para pequenas tarefas e depois para responsabilidades cada vez mais importanres.
A MÃE rapidamente ganhou o respeito e a confiança de todos.
Afinal, reconhecia agora que eram todos camaradas e amigos, homens e mulheres simples com a mesma coragem e determinação que Pavel havia mostrado desde sempre.
Estava em preparação o julgamento dos camaradas presos no 1º deMaio. Nesse dia as pessoas foram-se juntando à porta do tribunal, mas foram impedidas de entrar. Durante vários dias esperarou-se o veredicto.
Quando saiu a sentença foi a revolta da população inteira.
Pavel havia sido condenado ao desterro, assim como todos os seus companheiros.
Com a MÃE à frente, segurando uma bandeira vermelha, insultava os guardas, clamando por justiça e invetivando contra eles, numa fúria que até então desconhecia.
Foi completamente cercada e maltratada pelas pancadas que a polícia lhe deferiu.
Caíu e jamais se levantou e alguém agarrou a bandeira e a levou para longe.
Pavel tinha sido arrastado para o desterro, mas ainda consegiu antever a figura da MÃE.
Como ele devia estar orgulhoso da MÃE Pelágia, por sentir a força e a coragem que ela havia ganho ao seguir o caminho da luta que o filho havia travado até ser preso. Pavel continuava deste modo a sonhar com a realização dos seus ideais.
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sábado, 20 de dezembro de 2008

É Importante Continuar a Lutar

Caros Tertulianos e Amigos
Quero compartilhar convosco este pequeno sucesso, na senda da luta contra a terrível doença que ceifou abruptamente a vida do Mário Garcia.
Em sua memória continuarei a levar por diante este trabalho.
Helena Garcia

-Informação divulgada em Novembro de 2008, no Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa-

SHIC08 - Solvay & Hovione, Ideas Challenge 2008”

Docente do DQB/CCMM entre os 5 melhores no SOLVAY & HOVIONE IDEAS CHALLENGE (SHIC´08)

A Professora Maria Helena Garcia do DQB/CCMM (Departamento de Química e Bioquímica/Centro de Ciências Moleculares e de Materiais) participou no desafio lançado pelo concurso SHIC08 e viu o seu trabalho "Potenciais Fármacos de Ruténio para o Tratamento do Cancro" classificado entre as cinco melhores ideias pelo Júri Hovione.
O 1º prémio foi atribuído ao projecto "Partículas porosas inteligentes: uma nova alternativa para libertação controlada no pulmão" liderado pela Professora Ana Isabel Nobre Ricardo da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-UNL).

O SHIC´08 foi um concurso de ideias direccionado ao meio académico e centros de investigação públicos e visava distinguir ideias inovadoras nas áreas de Engenharia Química, Química, Materiais, Ambiente, Química Fina e Desenvolvimento Farmacêutico, com os seguintes objectivos:
i) Participar e promover a inovação em Portugal;
ii) Estabelecer as empresas Solvay e Hovione como parceiros activos e dinâmicos do meio académico português;
iii) Criar ideias e projectos capazes de gerar mais-valias.

A resposta da comunidade científica foi significativa com a apresentação de 81 candidaturas que envolveram 260 investigadores, docentes e estudantes universitários.
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Duderstadt, em busca da Esperança


sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Americans Resistant to Bailing Out Big Three

Ainda só vi o texto do Carlos na diagonal (e chamo a atenção para a palavra 'vi' pois por alguma razão não escrevi 'li') mas já reparei numa expressão que vinha no fim (a socialização das perdas).

Não deixa de ser interessante ver a esquerda tão aguerrida contra as nacionalizações. Parece que há (pelo menos) um outro país onde há uma forte contestação às nacionalizações...

Vale a pena ler por quem ainda for de esquerda...

Oskar Lafontaine no comicío de lançamento do Partido da Esquerda em França:


"Senhoras e Senhores, caros camaradas!

É com muito agrado que estou em Paris para falar convosco, no momento em que vos preparais para reconstruir um novo partido de esquerda que mereça verdadeiramente esse nome em França. Acabámos de dar esse passo com êxito na Alemanha. E é com base nesta experiência que vim para vos encorajar a seguir o mesmo caminho. Sei muito bem que a constelação de partidos políticos alemães não é comparável com a situação francesa. Mas hoje, as sociedades francesas e alemãs não diferem fundamentalmente uma da outra. Os problemas económicos, políticos e sociais que afrontam os nossos dois países são bastante idênticos. Portanto, não vejo razão maior para que um novo partido de esquerda não possa ter as mesmas hipóteses de êxito em França que teve na Alemanha.

Agora que o partido Die LINKE existe há cerca de ano e meio, as sondagens sérias atribuem-lhe 12% a 13% a nível nacional. Devo confessar-vos que eu próprio estou surpreendido com este êxito. Porque estes números não medem a nossa verdadeira influência política. Por si próprio, o facto de estarmos aqui, o facto de existir na Alemanha um partido com um perfil político e reivindicações sociais claramente de esquerda, só isto, mudou a orientação política alemã. E não sou o único em afirmá-lo. Quase todos os jornais alemães, quer sejam de direita, quer de esquerda, quer se regozijem quer o lamentem, são da mesma opinião. A maior parte estão de acordo para escrever que somos nós, o partido DIE LINKE, o projecto político com mais êxito nestas últimas décadas, que no fundo somos nós que definimos cada vez mais a agenda política na Alemanha, que somos nós que levamos os outros partidos a agir. Se reagem, se retomam por conta própria algumas das nossas reivindicações sociais, é com medo dos eleitores. E se o neoliberalismo, tão virulento desde 1990, está a apagar-se na Alemanha, é em grande parte graças à nossa presença parlamentar.

Critérios de êxito

Caros camaradas, é evidente que a construção de um novo partido de esquerda não poderia ter sido possível se as condições externas, isto é, a situação social e política da Alemanha, não fossem favoráveis ao projecto. Este é, portanto, o primeiro critério de êxito. Enquanto todos os partidos políticos da Alemanha do oeste se disputavam o centro e preconizavam uma política económica neoliberal, a maioria da população alemã lamentava a falta de equilíbrio social resultante desta política. O vazio à esquerda do espectro político só precisava ser preenchido. Porque não há nada de mais eficaz que uma ideia que encontra a sua época.

O segundo critério de êxito é sem dúvida a união das forças e das organizações políticas que se definem por uma posição crítica perante o capitalismo.

O terceiro critério - que é com certeza o mais fácil de concretizar, posto que só depende de nós, mas não é o menos importante - é de dar ao novo partido um perfil claro, completamente discernível relativamente à uniformidade dos outros. Não poderei deixar de tornar mais claro este terceiro ponto seguidamente, mas queria abordá-lo sob uma perspectiva histórica. É por vezes útil recuar um passo para ter uma visão de conjunto.

Ao início da minha carreira política, há cerca de 40 anos, as posições dos partidos de esquerda na Europa ainda eram relativamente claras, as suas missões estavam bem definidas. Ainda não havia esta uniformidade centrista que os grandes partidos revelam hoje. Mesmo na Alemanha, em Bad-Godesberg, onde o partido social-democrata tinha decidido entender-se com o capitalismo, esquerda e direita permaneciam discerníveis para os eleitores. O SPD tinha-se separado do marxismo, claro, mas tinha mesmo assim conservado a ideia de reformar o capitalismo, de procurar a famosa «terceira via» entre o comunismo e o capitalismo. Infelizmente, este ideal reformador foi enterrado nos escombros do muro de Berlim.

Em França, as posições dos partidos de esquerda ainda eram mais nítidas - não tão só do lado comunista, mas também do lado socialista. Ao apoiar a guerra colonial na Argélia, a SFIO tinha perdido, no final dos anos 60, toda a legitimidade enquanto partido de esquerda. Em 1971, no congresso de Épinay, um novo partido socialista se forma sob a direcção de François Mitterrand. O programa deste novo partido socialista francês difere consideravelmente daquele que os social-democratas alemães tinham formado uma boa década antes: é anticapitalista, é crítico relativamente à NATO e é favorável às alianças com o partido comunista - tudo o que o programa do SPD não é. Era portanto Épinay contra Godesberg no seio da Internacional Socialista. Sou alemão, mas não vos escondo que as minhas simpatias estavam do lado de Épinay.

Portanto, caros camaradas, partilho as vossas decepções. Porque, apesar deste programa anticapitalista, a politica prática do governo Mitterrand foi tão anticapitalista quanto a do governo social-democrata na Alemanha. Quer seja na Inglaterra, quer na Alemanha, quer em Espanha, quer em França ou alhures, a distância entre a teoria e a prática política é sintomática para a história do socialismo da Europa do Oeste. Quase sempre e quase por toda a parte, os dirigentes dos partidos socialistas abandonaram os seus princípios - frequentemente contra a vontade da massa dos militantes - em troca de uma pasta governamental.

O grande dilema

Eis o grande dilema dos partidos socialistas: é de formular, por assim dizer, os princípios de oposição em Épinay e os princípios de governo em Godesberg. A história dos partidos socialistas da Europa do oeste no poder é uma longa enumeração de compromissos podres. Caros camaradas, há que sair do dilema e romper com esta tradição fatal de compromissos podres! Para um partido de esquerda, os princípios de governo devem ser os mesmos que os princípios de oposição. No caso contrário, irá desaparecer tão depressa como apareceu.

Vejam Itália, vejam Espanha. As ilações que a esquerda pode tirar das últimas eleições nestes dois países não podem ser mais claras: a Izquierda Unida marginalizada, a Rifondazione Comunista eliminada. Estes dois partidos pagaram bem caro a sua participação no governo, porque esta apoiava-se em compromissos podres. Com efeito, é absurdo abandonar um partido por causa da sua orientação política, construir um novo partido, e formar seguidamente uma coligação governamental com o partido que acabámos de abandonar, com base na mesma política pela qual o deixámos. Os eleitores não apreciam estas brincadeiras e têm razão.

Caros amigos, se a esquerda perde a sua credibilidade, também perde a sua razão de ser. É por esta razão que o meu partido Die LINKE tomou medidas para travar esta tendência fatídica dos dirigentes com os compromissos políticos de que falei. As decisões em torno dos grandes princípios do nosso programa devem ser tomadas pelo conjunto dos militantes do partido, e não só por uma assembleia de delegados. Além disto, não aceitamos donativos que ultrapassem uma certa quantia, uma soma relativamente baixa. E acreditem, não é a atitude da raposa que vê as uvas fora do seu alcance que está na origem desta restrição. É simplesmente porque não queremos ser corrompidos. A corrupção política é o flagelo da nossa época. E, aquilo a que chamamos donativo, é frequentemente uma forma legal de corromper. A vitória eleitoral de Barack Obama é uma boa notícia, posto que tanto a política de Bush e do seu partido eram insuportáveis. Mas visto as somas enormes que o capital americano investiu na campanha eleitoral do novo presidente, permaneço muito céptico no que concerne ao seu futuro vigor reformador. O capital nunca dá nada sem retorno.

Perfil programático

Vejamos portanto o perfil programático que, na minha opinião, um partido de esquerda deve ter. Há pouco disse que as minhas simpatias, há quase 40 anos, tinham sido por Épinay e não Godesberg. Ora bem, ainda são as mesmas. São talvez mais do que nunca as mesmas. O espírito anticapitalista que animou a esquerda francesa nos anos 70 ainda prevalece. Certo, uma opinião pública manipulada ao serviço do capital sugestiona-nos através de todos os média que a mundialização teria mudado tudo, que o anticapitalismo estaria ultrapassado pela história. Mas se analisamos o processo económico e social que se dá sob os nossos olhos sem preconceitos, apercebemo-nos que a mundialização não dissipou, mas agravou os problemas sociais e as turbulências económicas causadas pelo capitalismo. Se compararem os escritos de Karl Marx sobre a concentração do capital, o imperialismo ou a internacionalização do capital financeiro com os disparates neoliberais propagados hoje em dia, constatarão que este autor do século XIX é muito mais actual e clarividente que os ideólogos do neoliberalismo que estão na moda.

Caros amigos, cada vez mais o anticapitalismo é a aposta pertinente, porque o imperialismo, no início do século 21, continua bem real. E a NATO é um instrumento ao seu serviço. Outrora concebida como aliança de defesa, a NATO tornou-se hoje em dia uma aliança de intervenção dirigida pelos Estados Unidos. Mas a esquerda não pode preconizar uma política externa que tenha como alvo a conquista militar dos recursos e dos mercados. Não aceitamos o imperialismo beligerante da NATO, que intervém pelo mundo fora infringindo o direito internacional. Somos a favor de um sistema de segurança colectivo, onde os parceiros se apoiam reciprocamente quando são atacados, mas abstêm-se de qualquer violência que não obedeça ao direito internacional.

Na Alemanha, a questão de uma intervenção militar - como foi no Kosovo, ou quer seja no Afeganistão - é uma frente de clara demarcação entre o meu partido Die LINKE e todos os outros partidos, inclusive o partido social-democrata. Somos intransigentes a este respeito e a nossa participação num governo favorável às intervenções militares da NATO é inconcebível. A questão da guerra ou da paz sempre foi uma razão de cisma/separação/oposição no seio do partido socialista alemão. Já em 1916 - sob o impulso de Rosa Luxemburgo e de Karl Liebknecht - a guerra dividiu a social-democracia alemã em dois partidos. E não foi só na Alemanha que a esquerda foi clarividente. Lembro-vos as palavras de Jean Jaurès «o capitalismo carrega com ele a guerra, como as nuvens carregam a tempestade» camaradas, se queremos um mundo onde reine a paz, temos que civilizar o capitalismo.

Contra a ideologia de privatização pregada pelos porta-vozes do neoliberalismo, salvaguardamos a ideia de uma economia pública sob controlo democrático. Preconizamos uma economia mista onde as empresas privadas, a grande maioria, estão lado a lado com as empresas nacionalizadas. Sobretudo as empresas de que dependem as necessidades fundamentais para a existência da sociedade - o sector da energia por exemplo, ou até o sector bancário, na medida em que é indispensável para o funcionamento de toda a economia - devem ser nacionalizadas.

Voltamos a pôr na ordem do dia a questão da autogestão operária e a participação dos empregados no capital da sua empresa, que parece estar hoje esquecida.

Lutamos contra uma política de desmontagem social que dá prioridade aos interesses dos investidores e que faz pouco da injustiça social crescente, da pobreza de muitas crianças, dos salários baixos, dos despedimentos nos serviços públicos, da destruição do ecossistema. Lutamos contra uma política que sacrifica o que nos resta de uma opinião pública deliberativa ao rendimento do capital financeiro. Não aceitamos a privatização dos sistemas de providência social, nem a privatização dos serviços de transportes públicos. Também não aceitamos a privatização do sector da energia e ainda menos a privatização do sector público da educação ou da cultura. A nossa política fiscal quer voltar a dar ao estado os meios para cumprir as suas funções clássicas.

Perda da dimensão crítica

Hoje, as forças motoras do capitalismo já não são os empreendedores, mas os investidores financeiros. É o capital financeiro que governa o mundo e que instaura globalmente uma economia de jogos de casino. A crise dos mercados financeiros era portanto previsível e esperada pelos peritos. No entanto, os governos não fizeram nada para impedir esta crise. Nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, as elites políticas julgaram útil a especulação desenfreada. E o continente europeu inclinou-se frente a este juízo. Mesmo durante as fases em que a maioria dos governos europeus estava formada por partidos afiliados à Internacional Socialista, nenhuma medida foi tomada. A perda da dimensão crítica no que concerne ao capitalismo afundou lamentavelmente toda a política oportunista dos partidos socialistas e sociais-democratas. Se fosse necessário uma prova de fracasso, a crise actual dos mercados financeiros é essa prova.

Se fosse necessário uma prova, que nós, a esquerda crítica, não somos regressivos, que não procuramos no passado os remédios contra os males de hoje, tal como nos condenam constantemente os liberais e os conservadores, se fosse necessário uma prova, esta crise é essa prova. Desde o início dos anos 90 e a consequente mundialização, a esquerda, e eu inclusive, não temos tido descanso em reclamar a regulação dos mercados financeiros internacionais. Mas a opinião pública neoliberal troçou das nossas opiniões pelos vistos consideradas retrógradas. Disseram-nos que a lógica da mundialização não era compatível com a regulação, pregaram que não se devia nem por nada travar o comércio livre e o livre fluxo transnacional dos capitais, que toda regulação era uma solução caduca, regressiva. E agora, o que fazem os neoliberais na América do Norte e na Inglaterra? O que fazem os conservadores na Alemanha e em França? Ora bem, pretendem regulamentar. Aqueles que nos acusaram de regressão política, quando pedíamos a nacionalização de alguns sectores bancários para evitar a crise, que fazem agora? Ora bem, fazem de conta que nacionalizam os bancos em nome do futuro.

Agora socializa-se as perdas e faz-se pagar os grupos mais vulneráveis da sociedade pela falha do sistema. Agora, organizam-se pomposas cimeiras internacionais para regular os mercados financeiros. Mas, não nos enganam, pois os elefantes vão dar à luz um ratinho. Vão fechar o casino? Claro que não, desenganem-se! Vão apenas mudar radicalmente as regras do jogo no casino? Claro que não! O que vão fazer é elaborar com grande estrondo verbal um novo código de comportamento para os banqueiros da roleta. Nada vai mesmo mudar.

Camaradas, se quereis mudanças, há que reconstruir a esquerda - na Alemanha, em França, pela Europa toda. A experiência alemã revela-nos que uma esquerda europeia reorganizada e forte pode movimentar as coisas forçando os outros partidos a agir. Construamos juntos esta nova esquerda, uma esquerda que recusa os compromissos podres! Para sublinhar mais uma vez a importância desta máxima, termino com uma imagem do poeta russo Maïakovski: cantemos juntos a nossa canção, mas evitemos de lhe pisar a garganta."

Tradução de Ana da Palma

O Sacrifício

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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Triste, triste Alegre

Li com interesse o comentário de Elisério Figueiredo, mas não concordo com ele. Como não concordo com grande parte das políticas de Sócrates.
Gosto muito do poeta Manuel Alegre, mas o político M. Alegre não me suscita grande entusiasmo, a não ser o que advém de ser uma "consciência moral "do PS.
Tornou-se um emblema e vem tirando vantagens dessa situação e, não poucas vezes, tem vindo a ajudar a corroer a direcção do partido.
Vem, oportunisticamente, ganhando postos com vista à sua mais que provável canditadura presidencial.
Quem está mal, deve mudar-se, sem ambiguidades. Ora, M. Alegre diz-se muito zangado com o PS , mas então porque não abandonou os cargos que detém, a começar pelo de Vice- Presidente da Assembleia da República?
É esse um dos dramas da classe política portuguesa.
É esse um dos grandes problemas do Partido Socialista.
A seguir ao 25 de Abril, o PS comportou-se como um verdadeiro albergue espanhol.
Depois com as diferentes cisões que se sucederam ao longo do tempo- a FSP, de Manuel Serra; a UEDS, de Lopes Cardoso; o PRD, de Salgado Zenha.
Agora é Alegre que vem, à socapa, ameaçar, sistematicamente, com a formação do novo partido. Assim se vai esfarelando a única alternativa de poder verdadeimente democrática.
A direita, de um lado, e a esquerda marxista-leninista, por outro, continuam a navegar à vista...
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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Aquilo que todos sempre quisemos fazer na vida

Vá a este endereço, e cumpra um dos sonhos da sua vida.
Vai ver que se sente depois muuuiiitoo melhor!
Mesmo com a crise.

http://flash.vg.no/grafikk/2008/bush/kast_sko.html

Quem é amigo?

Triste Alegre

Um partido político é sempre uma convergência de interesses, de vária natureza, de pessoas de diversas proveniências sociais, políticas, económicas e outras.
Contudo, terá que ser muito mais do que isso, se quiser implantar-se sustentadamente na sociedade portuguesa.
Claro que, recentemente, os partidos fazem-se e desfazem-se, ao sabor das circunstâncias do momento, e também de demagogia quanto baste.
No entanto, um partido tem que respeitar princípios, a história e a memória, ter orgulho nos bons momentos e coragem nas alturas mais difíceis.
Deve engrandecer-se e reformar-se, não à custa dos escombros e dos ressentimentos dos desiludidos e dos mal-amados.
Deve aperfeiçoar-se pela consistência dos ideais que constituem a sua essência e a sua razão de ser.
É sempre mais fácil destruir, do que costruir; prometer, do que realizar; criticar, do que implementar e desenvolver.
Desse tipo de atitude negativa, gratuita e reprovável, já nos bastou o triste exemplo do execrável PRD, tristemente avalisado pelo ressaibiado Ramalho Eanes.
Prepara-se agora um novo acto da tragicomédia portuguesa, ao tentar enxertar uma árvore malina, que em vez de reflorescer na Primavera, irá certamente murchar com o tempo, dado que as raízes estão, à partida, profundamente bichadas.
A filoxera chama-se Manuel Alegre.
Outros insectos parasitas dão pelo nome de Francisco Louçã e seus acólitos da esquerda caviar.
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domingo, 14 de dezembro de 2008

Nato escondida com rabo de fora

Uma mentira mil vezes repetida poderá, com o tempo, transformar-se numa verdade.
A OTAN ( NATO) - Organização do Tratado do Atlântico Norte, foi criada pelos USA e aliados, para se opôr à União Soviética e países da Europa de Leste, agrupados no Pacto de Varsóvia.
A Cortina de Ferro, criação de Wiston Churchil, representava a fronteira entre os dois blocos.
Uma vez derrubado o Muro de Berlim, consolidada a reunificação da Alemanha, desmembrada a URSS, realizada a independência dos países sob tutela de Moscovo, fará algum sentido manter uma aliança militar de carácter defensivo? Para defender quem e o quê?
Os estrategas e militares que ficaram sem emprego, e que inventaram a luta contra o terrorismo, continuam agora a defender, em nome dessa aliança, no Iraque e Afganistão, os mesmos interesses que antigamente já defendiam.
Se a OTAN é uma aliança defensiva, para que serve a sua extensão à Ucrânia e à Geórgia, numa clara provocação à Rússia?
Para quê então a implementação de mísseis e radares, com a estafada desculpa que o Irão e a Coreia do Norte constituem uma ameaça directa aos USA?
A mentira existe, tem muita força e está fortemente interiorizada, mas não passa de uma mentira.
Qual o papel de Portugal nessa mentira?
Não temos o direito à VERDADE?
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sábado, 13 de dezembro de 2008

Amado ministro

Afinal que palhaçada é esta, sr. Luís Amado, dito ministro dos negócios estrangeiros de Portugal?
Então o senhor, não tem o mínimo de vergonha na cara, por se responsabilizar pela vinda para o nosso País, de prisioneiros arrebanhados pelos americanos em Guantánamo?
Quem lhe encomendou o sermão?
Foi algum frete que os "camones" lhe exigiram?
Virámos destino turístico de " viajantes estravagantes e indesejáveis"?
Ou trata-se de alguma brincadeida de carnaval?
É preciso ter lata, tendo em conta as trapalhadas em que se envolveu, e o seu conhecimento àcerca do tráfego ilegal de pessoas, com ou sem autorização. Afinal qual é o seu negócio?
Qual é a sua verdadeira máscara nesta embrulhada toda, que tão mal cheira? Quem lhe encomendou tão nojenta patetice?
Devia ter um pouco de vergonha e respeitar minimamente os portugueses.
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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Está encontrada a explicação...

Facto 1: os deputados do PSD "baldaram-se" à A.R. na sexta-feira.

Facto 2: o dia de orações (e de descanso) dos muçulmanos é a sexta-feira.

Facto 3: após o meio-dia de sexta-feira os judeus deixam de trabalhar para preparar o sabbath.

Dedução a la Manuela (com o teorema ucraniano-cabo-verdiano): As "baldas" dos deputados nas sextas-feiras acontecem porque os deputados são uma mistura entre uma cambada de agiotas judeus que não gostam de trabalhar e uma chusma de terroristas islâmicos. Aliás, na realidade, o que não falta em Portugal é sangue judeu e árabe... daí a maldição da sexta-feira :).

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Refugiados ambientais

Preocupante a estimativa feita pela Comissão Europeia apresentada hoje no DN de que existem já cerca de 25 milhões de pessoas deslocadas devido a problemas ambientais, número que deverá subir a 200 milhões em 2050.

Não será altura de TODOS deixarmos de pôr a cabeça na areia e LEVARMOS os nossos governos a nos OBRIGAREM a mudar de estilo de vida ? (ainda hesitei sobre a ordem do LEVAR e OBRIGAR)

Não será demais lembrar, entre outros, o nº 1 do artigo 25º da Declaração Universal dos Direitos do Homem:

Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.

Aproveitem o dia e voltem a lê-la. Faz sempre bem especialmente em períodos conturbados em que a prioridade é assegurar o NOSSO bem estar.

E lembrem-se, foi assinada há já 60 anos...
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As Burkas da Beira


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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Braço de Barro

David, partilho algumas das tuas preocupações relativamente ao "caso" do Estatuto Politico dos Açôres. Não entendo o porquê do "braço de ferro" e a embirração dos dois lados.
Li hoje, no DN, uma crónica da autoria de Fernanda Câncio, que julgo ser fonte credível, e que parece levantar uma pontinha do véu.
Começa a pôr-se em equação a tese da realização de eleições antecipadas, tendo em conta a subida do PS, e a queda do PPD/PSD, ajudada pelos disparates de MFL.
O que acho imprevisível, é apostar na entidade que ficaria refém da responsabilidade de tal solução, a qual teria que passar, inevitavelmente, pelo PR.
Além disso, há que ter em linha de conta, todas as incertezas da actual conjuntura política, quer a nível interno, quer a nível externo. A menos que existam razões ponderosas que possam conduzir àquela drástica solução, de imprevisíveis consequências.
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Braço-de-ferro

Não vou avaliar a questão jurídica pois nem conhecimentos suficientes terei para o fazer mas a questão do estatuto dos Açores começa por certo a tornar-se um caso de estudo em cursos de Ciência Política, pelas implicações que poderá ter futuramente.

Cavaco, enquanto Presidente, continua a inferir que haveria uma redução efectiva dos poderes do cargo que ocupa, caso o estatuto viesse a ser promulgado, bem como a avaliar algumas normas como inconstitucionais, embora preferindo não o enviar, para já, ao Tribunal Constitucional, tentando resolver o diferendo pela via política.

Sócrates fez a vontade a Carlos César, embora provavelmente não tenha sido essa a sua intenção primordial.

O que está neste momento em causa é se o Primeiro-Ministro acredita verdadeiramente que as virtudes e vantagens da alteração legislativa serão superiores ao "final" da cooperação estratégica mantida com sucesso desde há quase três anos.

Talvez sejam apenas estas as questões políticas em jogo neste braço-de-ferro. Ou talvez seja necessário que o braço se mostre forte para contrapor uma perda de força aparente no outro braço-de-ferro, o dos professores.

Sócrates não deverá por certo querer deitar a perder a imagem de marca máscula que lhe tem trazido, nas sondagens, tantos apoiantes da área do centro e centro-direita e se isso acontecesse ficaria "entalado" com o crescimento à esquerda e à direita.

Afinal, por muito mal que ande a oposição, estará em jogo no próximo ano a sua sobrevivência.
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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008