segunda-feira, 31 de julho de 2017

HUMBERTO DELGADO .

Salazar :

Se eu ganhar as eleições,
demito-o imediatamente .

O meu pai tinha-me avisado paranão ir para os lados do
Pelourinho, pois a Pide tinha instalado metralhadoras
na Câmara Municipal e no Montalto .

A malta tinha feito greve, até muitos professores que 
eram do Revilhalho,  acudiram ao centro da Cidade pa-
ra ver o Comício .

Humberto Delgado havia pertencido à situação, dele di-
vergindo fortemente,  pois Salazar era como um eucali-
pto, secava tudo à sua volta .

Ficamos no pátio da Escola a ver os carros a passar, 
vindos do Fundão. A bicha dos caros via-se do Souto Alto,
a meio caminho para a Covilhã .
E nunca mais parava .

Foi aí que acabou a farsa da eleições . 
O ditador acabou com elas, pura e simplesmente .

A seguir às eleições de 58, seguiu-se uma onda de violência
a todos os níveis, com prisões e torturas, e com o sanea-
mento de centenas ou milhares de pessoas, presumíveis 
adversários do salazarismo .

Não me falem da Venezuela, por favor ...

Tivemos  por cá, 
e não foi há muito tempo, muitas palhaçadas destas .

Em vez de andarem para aí a brincar ás democracias, melhor
faziam que recordassem os nossos problemas nacionais, e de-
les soubessem tirar as lições do passado .

Que diabo, custava tão pouco .
.

domingo, 30 de julho de 2017

Uma questão de Vocação .

A mesma água nunca passa duas vezes 
por baixo da mesma ponte .

Talvez que até pudesse ter sido um reputado artista musical,
sabe-se lá ...
... Mas a minha vida não me deixou .

Oriundo de famílias com forte formação musical, quer do la-
do do meu Pai, quer do lado da minha Mãe, tudo parecia en-
caminha-se para vir a atacar um instrumento .
Jeito e aptidões não me faltavam .

O meu Pai, com 10 anos, era já o primeiro clarinete na banda
de Seia. 
Das cinco raparigas, num rancho de sete filhos, que o meu avô 
Miranda teve do seu terceiro casamento, todas elas cantavam 
Côro da Igreja Matriz, onde a minha Mãe era a solista principal .

Mas a música, para lá do talento pessoal, requer outras atribui-
ções, como treino, disciplina, técnica , dedicação e muitas outras,
se se pretende atingir um grau de performance superior .

Ora eu possuía tudo isso, mas em sentido contrário .

Nunca poderia pois, vir a ser músico .

O meu destino poderia muito bem ser o desenho ou a pintura, mas
afinal também não viria a ser concretizado .

A minha natureza rebelde, individualista, quase anarquista eram
mais a jeito das artes plásticas, mas também isso se esboroou nas
núvens da fantasia .
.

sábado, 29 de julho de 2017

A ARTE E AS CRIANÇAS .

Num museu onde estavam expostos alguns trabalhos
de Picasso, um deles representava um tela em branco .
Questionado o pintor, uma das crianças presentes per
guntou-lhe o significado do quadro :

- É uma vaca a comer erva 

- Mas eu não vejo, nem a vaca, nem a erva ?

- É simples, disse o artista, 

  a vaca comeu a erva toda, e depois de a comer, foi-se 
  embora ...

.

Uma história parecida é atribuída a Salvador Dali,
mostra-se uma tela gigante, apenas com um traço e
um ponto .

Perguntavam as pessoas o que é que isso queira dizer .
E diz o Vate :

Muito simples, 

O Ponto é o Tótó, 

o traço é a Sofia Loren .

.

Parecem conversas parvas, mas não tanto como se pode pensar .
A grande maioria das obras de arte não têm nada para contar, à
excepção das telas de cariz nitidamente figurativo, e mesmo essas
quase sempre carregadas de complexo simbolismo .

Muitos artistas preferem dar um título parvo aos seus trabalhos,
ou pura e simplesmente numerá-las por uma ordem lógica ou com-
pletamente arbitrária .

São uns brincalhões, 
estes artistas . 
.

A CENTRAL A BIOMASSA A CÉU ABERTO .

Os governantes são burros, não aprendem as lições e não
fazem os trabalhos de casa .

Não sei, ninguém sabe, se a central a biomassa, em Mortá-
gua, se a memória me não falha, mas era preciso semear 
uma dúzia dessas centrais, pelo pinhal interior adentro .

É que o barato, às vezes sai tragicamente caro de mais .

Só existem ecologistas para se ocupar de problemas de 
lana caprina .
Para ajudar a lutar contra as graves questões ambientais 
que assolam o nosso País, assobiam para o lado, e fazem como
o Costa, tiram umas fèriazitas a preceito .

Portugal que se lixe ...
.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

O ANNUS HORRIBILIS DO COSTA .

Que mais me irá acontecer,

O que vai ser de mim .

Estava o Costa naquele remanso, pronto para limpar as
autárquicas, e quiçá já a sonhar com uma maioria absoluta,
eis quando o caldo se entornou .

Acontece até que o Costa já havia sido Ministro da Adminis-
tração Interna, e portanto, deveria saber da poda .

Foi aí que cometeu o primeiro pecado 
mortal,

ao  ter esquecido que em Portugal, existe uma coisa que não 
é levada muito a sério, mas de uma importância vital para o 
nosso País, que é a chatice dos fogos florestais .

Mas que grande chatice ...

E logo ele, que até tinha já marcado as férias para aquela al-
tura .
E pior, nem chegou a aperceber-se da gravidade da situação,
como se não estivesse mesmo a ver, a tormenta que se apro-
ximava .
Foi a banhos e deixou a amiga Constança de serviço .

Só que os fogos não são brincadeiras de meninas, mas partidas 
puras e duras para homens de barba rija .

Para quê deixar uma senhora, por mais respeitável que seja, 
e mesmo que seja da mais alta competência, brincar às casinhas,
sem nunca ter treinado convenientemente um jogo tão arriscado .

E foi esse o segundo pecado mortal
do Costa .
.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

A GRANDE CALAMIDADE .

O País está virado de pernas  para o ar .
Em vez de se ter começado pelos alicerces, tem-se 
aprimorado nos acabamentos de luxo .

Um exemplo gritante diz respeito ao Sistema SIRESP, que 
deve ria assentar numa rede sólida, exequível, robusta, utilizan-
do cabos fixos, enterrados no solo, ao abrigo das condições
atmosféricas,  a salvo do calor do vento e do imprevisto alea-
tório e, não andar a passear-se ao acaso, como se se tratasse de
um verdadeiro catavento .

É evidente, que quando usado em condições adversas reais, me-
teorológicas,  geológicas e florestais, entre outras, o sistema cola-
psou .

É o que se chama correr arás do prejuízo .

Quem desenhou o sistema, quem o aferiu, quem o testou, quem 
o reviu, quem lhe acrescentou melhorias, quem lhe forneceu al-
ternativas ?!...

Acresce que parece que o equipamento não suporta condições ex-
tremas, como as que se verificaram este Verão .

O que acontece é que os fogos florestais e a sua previsão e comba-
te, não são feitos por gente formada à pressa, acreditando  no acaso
e na sorte, mas sim gente fortemente experimentada e com a cabeça
fria .

A calamidade a que estamos a observar em directo, não surgiu por
geração, expontânea, mas é o somatório de décadas de erros e e teo-
rias e prácticas desgraçadamente multiplicados ad infinitum .

O resultado está à vista,

e a culpa continua a ficar solteira .

.



quarta-feira, 26 de julho de 2017

O FOGO JÁ CHEGOU À CIDADE .

O País está a arder .

Todo a arder. Sem descanso .

Quanto do PIB já foi comido durante 
esta época balnear .

Ou será isso não não interessa aos tecnocratas e burocratas
deste país desgraçado ?.

Drama terrível, todos os anos renovado .

Gente em cinzas, cinzas que se confundem com as da floresta 
martirizada, floresta transformada em pó negro .

Vem-me à ideia o pensamento do sociólogo brasileiro, que tra-
tou o Ciclo da Fome, JOSÉ de CASTRO, em que os homens de-
voravam os caranguejos, e estes acabavam por comer a vida 
dos homens .

Tu és pó, e em pó te irás transformar .

É criminosa a contabilidade criminosa usada na exploração da
morte, da desgraça e da miséria, com que os cristãos do CDS, 
vêm utilizando desrespeitosamente as pobres vítimas de uma ca-
lamidade que vem assolando a nossa terra .

Como é criminosa a ligeireza com que foi abordado o Projecto de
Le, acerca o Banco de Terras . É a favor da sacrossanta proprie-
dade privada . O que pode esta pureza ideológica, face à ganân-
cia do voto dito popular ...

Hipócritas .
.

terça-feira, 25 de julho de 2017

VIDA DUPLA .

Esquizofrenizado 
entre dois mundos antagónicos .

Aprisionado entre dois estudos, 
mal tinha tempo de me coçar .

Percorria a cidade de cima a baixo, sempre a correr, para conseguir
algum tempo para os meus afazeres, para os meus alfinetes .
Havia sempre ocasiões para inventar um ou outro divertimento .

Praticava todos os desportos, em especial o Futebol, jogava bilhar,
e à noite, por vezes, após a Escola, jogava hóquei em patins, 
mas era no fim de semana que me sobrava tempo para ir sobrevi-
vendo .

E havia as férias, pachorrentas, imensas, chatas como tudo, e então
passeava, lia muito, e arrastava o rabo por aí, a caminho da Estação
dos Caminhos de Ferro, dávamos um salto ao Rio Corja, a fingir que 
tomávamos banho, que o rio ia seco, durante quase todo o ano.
Ou vínhamos pela linha do combóio, atravessando a cidade, vencendo 
as pontes perigosas, que ligavam os vales profundos .

Ou então, vagabundeávamos a esmo, e discutíamos tudo e mais algu-
ma coisa, com opiniões muito diversas e quase sempre antagónicas .

Vivia muito distante dos meus irmãos, com interesses muito diferentes,
e todos com uma vida mais certinha do que a minha.
o mais velho tinha ido estudar para a Guarda .
Os mais novos, crianças ainda, estudavam música e tocavam-na quase
diariamente .

Sempre tive apetência para a actividade musical, mas a vida de transu-
mãncia lectiva, e depois a Escola Nocturna, depressa me fizeram passar
sem ela . 
Tocava acordeão às escondidas, pois tinha um ouvido privilegiado, mas
nunca soube a parte teórica da coisa .

Depois, estava era desejoso de voltar à Escola .
.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

A LUTA DE CLASSES .

Quem é que disse 
que não havia luta de classes .

Dos sítios por onde andei, nunca senti a violência calada da
luta de classes, como no Tortosendo e na Covilhã, meios fa-
bris dos lanifícios .
Confesso que também nunca foi tão rude o ódio e o asco às
classes possidentes, cujas famílias exibiam vários automó-
veis por família, e um desprezo total pelos trabalhadores . 

Houve uma época, muito curta, por sinal, a era dos Cursilhos
da Cristandade, em que todos eram irmãos em Cristo, e se tra-
tavam todos por tu, operários e patrões, as cenas ridículas a 
que eu assisti, nessa altura .

Tudo acabou, em menos de um fósforo .

O café mais importante da Covilhã era o Café Montalto, ponto 
de encontro das classes sociais mais consideradas, onde não en
travam o eram operários e estudantes .

A segregação era de tal monta, que as mesas estavam marcadas,
de acordo com as profissões - havia a mesa dos industriais, dos dou-
tores, dos professores, dos bancários, e por aí adiante .

De vez em quando, saíamos em bando do Colégio, e vínhamos pou-
sar, um ou dois por cada mesa, antes da hora do almoço .
Pedíamos uma bica e ninguém para aviar, e assim ficávamos a fazer
fincapé, até nos serviam a contragosto, pois que se aproximava a 
hora de suas excelências .

Havia outras malandrices que praticávamos, tínhamos ritos e cos-
tumes que levávamos à séria .

Por exemplo, era obrigatório fintar os polícias, e atravessar as ruas
fora das passadeiras .

Vem este paleio a propósito da Escola da Noite, em que no primeiro
se criaram dois grupos distintos, 
de um lado, os filhos dos industriais, o Saraiva, o Carrilho, o Lobo, 
o Gíria e o Proença . 
Do outro, os verdadeiros trabalhadores-estudantes, oriundos das clas-
ses com menos posses - o Paixão, o Cunha, o Raúl Peixeiro e eu, que 
era estudante-estudante .

E assim coabitamos durante todo o curso de Debuxador .
.


domingo, 23 de julho de 2017

ESQUIZOFRENIA .

Vivi vários anos numa terra vermelha, o Tortosendo, em que 
até alguns industriais pertenciam ao Partido Comunista .
Quase toda a gente era simpatizante ou militante, (tudo na
clandestinidade ) .

Ia para o Liceu da Covilhã, de boleia com  os filhos dos in-
dustriais, num carro guiado  pelo motorista de um desses
ricalhaços .
Saía mais barato pagar a sala de estudos, do que a camioneta 
da carreira .

Aí fiz o meu 2º. Ano .

De seguida, fui para 

Castelo Branco,  onde fiz o 3º. ano .

Posteriormente, a minha família rumou à Covilhã .

Foi então que fui repartido em duas metades, 

de manhã pela fresquinha fre-
quentava o Colégio Moderno ;

Á noitinha , ia para a escola da 
noite tirar o Curso Industrial .


Como vêem, era simples ...

Comia o bife da alcatra, 
ao almoço,
jantava na sopa dos pobres .

Num ápice, mergulhei no mundo do trabalho .
Foi um triplo salto mortal, com duas piruetas à rectaguarda .

Apesar de tudo, o que me servia de cola, era a minha família, 
embora já meio desmembrada nessa altura,
e finalmente um casa, junto ao Tribunal da Covilhã e ao pé da
estação do combóio .

Aí se iniciou a minha nova vida . 

Saía de casa, por volta das sete da manhã, e regressava por vol-
ta da meia noite .

A minha Mãe preparava-me o jantar às sete, e por vezes deixava-
-me uma chávena de chá, quando voltava para casa .

Não tinha muito trabalho nas aulas, quer de dia, quer de noite .

Talvez nunca tenham experimentado o ensino nocturno .
Ali não há faltas de qualquer natureza . Só as de mau compor-
tamento . A selecção faz-se pelo interesse e sacrifícios que os
alunos demonstram .

Foi uma época fantástica, em certos aspectos, mas muito doloro-
sa noutros .

Percebi o real significado de duas palavras muito importantes :

A SOLIDÃO

A SOLIDARIEDADE .
.



A ESCOLA CAMPOS MELO, COVILHÃ .

Em busca do tempo perdido .

É uma doce ilusão .
Nunca mais de volta a viver o tempo que nunca se viveu .
É curioso que uma destas noites, da uma para as duas, es-
tive a ouvir uma grande conversa com alguém que abor-
dava precisamente este tema .

Olha quem, o professor Júlio Machado 
Vaz .

Foi ele que me abriu uma fresta no crânio e me ajudou a 
compreender uma parte dos meus problemas .

Falta-me a memória da minha inocência
perdida .

Pode-se tentar compreender essa falha, esse buraco  negro, 
tentar preenchê-lo com novas incidências, agarrar-se às aná-
lises psicanalíticas .

Esse buraco, ficou buraco 
para sempre .

Esse facto ajuda a explicar muito, ou uma parte importante 
da minha existência .

Tenho corrido desesperadamente atrás desse intervalo de vida,
para além de que ando sempre a fazer confusões na minha cabe,
ça, teço as mais mirabolantes fantasias, vivo de facto uma vida di-
ferente dos outros, sem esquecer uns grãos de loucura que às vez-
es vou trincando .

A explicação é simples :

Não vivi a adolescência como a outra malta .

Tenho andado, secretamente, à sua procura .
.

sábado, 22 de julho de 2017

ESCOLA DA NOITE .

Para os homens
que nunca foram meninos .

Alves Redol .

Tinha algum jeito para o desenho . Era pelo menos o que os 
meus familiares diziam . Como é que podia ser artista, se eu 
nem sequer dispunha de material adequado para mostrar as 
minhas habilidades .
Diziam os meus avós, que deveria sair ao meu Tio Lucas, um
santeiro que tinha feito o Menino Jesus, que havia na Igreja 
paroquial de Seia .

Tinha feito alguns desenhos baseados nas gravuras dos princi-
pais escritores que vinha no livro da 4ª. classe, e um esboço de
retrato do meu Pai, numa época que ele era mais forte  .

Nesse tempo,  jogava à bola, era back central no Seia Futebol 
Clube .

Mas nessa altura, a arte ainda não entrava 
nas minhas cogitações .

A bola e as correrias eram as minhas grandes preocupações .


E andar à aventura com outra malta, na gandaia, sem destino, 
tipo 

Os Capitães da Areia, 

inventando brincadeiras, algumas roçando o perigo .
uma espécie  de 

Crónica dos Bons Malandros, 

à nossa medida .

E havia a Escola, bem entendido, mas isso era matéria para os 
tempos obrigatórios .
Era apenas um passatempo necessário .

Mais adiante, foi que o meu Pai me avisou que no dia seguinte ia
para a escola nocturna, pois o futuro era via a ser 

Debuxador, 

que era o curso que estava a ter grande saída .

Nessa noite, lá de apagaram mais uns quantos sonhos e bizarrias .
,


sexta-feira, 21 de julho de 2017

A LONGA ESPERA DA VIDA .

O cúmulo da paciência 
é meter um calhau numa gaiola
e esperar que ele cante .

Vou deixar o telefone esquecido em casa ou desligo-o proposita-
damente e assim já não fico à espera, feito parvo, para ver se al-
guém me telefona .

O telefone tornou-se um objecto obsoleto e perturbador, fonte de
ansiedade e impaciência .

Como é difícil a espera .

Quando era miúdo, ficava à tardinha, a fazer companhia à minha 
mãe, até que o meu pai chegasse a casa .
Lisboa era, nessa altura, considerada uma cidade perigosa, sobre-
tudo para quem vinha das terras do interior, perto do campo, onde
as pessoas eram conhecidas e a vida mais calma .

O que mais me assustava na cidade grande, era o som assustador 
das ambulâncias, a caminho do hospital de Santa Marta, que era o
Banco de socorro, e que ficava mesmo junto à minha casa, na Rua 
Bernardim Ribeiro . 

Imaginava sempre que alguém amigo ou da família pudesse ser um
passageiro que ali vinha .
Custou-me muito habituar-me a essa aflição até mudar de residência
e a vida me levar para outras  experiências .
Mas, ainda hoje, sinto o silvo que atravessa a cidade, ou apenas o ima-
gine, tal a sua carga de desgraça com que ele marcou .

Na minha curta juventude gastava o tempo na ânsia de crescer e tor-
nar-me alguém na vida, ter dinheiro para o cinema, para os cromos, 
para o bilhar, para andar de bicicleta .

Achava que ser criança, ir à escola, era uma grande chatice, era só o
longo caminho para se chegar a ser homem .

Pura ilusão de puto atrevido .

Gostava de ter sido aviador, vá lá a gente entender porquê .
Fabricava os meus aviões de balsa, que destruía muito rapidamente, 
pois era uma actividade de risco .
Passava muito mais tempo a construir e a reconstruir os modelos, do
que a gozá-los em lançamentos  .
Talvez me ficasse na memória um resto de ligação à engenharia .

Mas a minha paixão sempre foi o desenho e os bonecos .
Foi então que se iniciou a 2ª. fase da minha vida, agora já a sério, mas
com muita brincadeira à mistura .

.

Entrei inopinadamente na vida adulta .

A escola industrial da Covilhã, e o Curso de Debuxador .
Aos 14 anos fiz-me um homem , e continuei à espera da vida .

Tinha acabado a fase da pequena malandragem e iniciado o período da
vadiagem .
Com a posse da minha primeira chave de casa, comecei a rodar em roda
livre, sem que ter que dar justificações a ninguém .

Era um novo velho mundo que se me deparava, tomando consciência de
outras realidades, abandonando a minha personalidade de criança, e en-
trando de cabeça na vida dos adultos .

De um dia para o outro .
Um mundo complicado, com outras responsabilidades, com outras preo-
cupações, outras tarefas, outras amizades, que baralharam completamen-
te a vida de uma criança feita homem .

O meu desejo de crescer depressa esvaiu-se, de repente .
Tinha crescido tão rápido, que fiquei para sempre criança .
A criança que ainda hoje teimo em ser .

Passei a coabitar uma adolescência perdida, com 
uma maioridade fingida .

Não acompanhava os mais novos, mas não entendia os adultos .

Foi uma época muito difícil para mim .

Às vezes tirava partido da minha singular situação .
Como estudava de dia e de noite, acontecia por vezes baldar-me e andar na
galderice, ausentando-me do Colégio e da Escola Industrial .

No último ano do curso de Debuxador, ainda tirava umas horas semanais 
para fazer o Estágio Curricular, na fábrica dos Irmãos Rosetas, na Covilhã .

.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

O MISTÉRIO DA BASE DE TANCOS .

O Rei vai nú, 
com as cuecas na mão .

É a risota geral, a chacota com uma Corporação respeitada 
e respeitável, mas que começa a abrir grandes brechas na mu-
ralha .
Uma instituição que devia ser mais preservada e olhada com
mais cuidado .

Os tristes episódios da pretensa entrega das espadas, a inspe-
ção atabalhoada dos paióis e paiolins, a exoneração e  a retoma 
dos comandantes, a blindagem das informações militares, as ex-
plicações carecas, de todos os intervenientes, a confusão genera-
lizada, mais a demissão firme de dois oficiais generais,
vieram cobrir de ridículo a Intituição Militar .

E isso vai deixar marcas profundas .
.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

OS PIRÓMANOS .

Até parece que são os órgãos de informação que andam
a atear os fogos na floresta, só para ganhar audiências .

É autêntico voyeirismo, piromania desenfreada, e desres-
peito pelos mortos e feridos da calamidade que estamos
a sofrer .

Todas as televisões em uníssono, horas e horas, umas a se-
guir às outras, repetindo imagens vezes sem conta, sem 
que a partir de certa altura, já não interessa a notícia, mas 
sim o espectáculo vergonhoso e vexatório, em que a des-
graça e o sofrimento alheio se transformam em matéria pri-
ma de um negócio asqueroso, em nome da liberdade de in-
formação e expressão .

Toda a gente, muitos bem intencionados certamente, fa-
zendo chegar chegar a palavra e a imagem, impossíveis de
acontecer noutras situações,
mas muitos outros, para mostrar e interferir com a dôr e a 
intimidade das pobres gentes , violentadas e exploradas sem
dó, nem piedade .

É a comunicação de referência 
a que temos direito .
.

terça-feira, 18 de julho de 2017

O VEXAME .

A INVENTONA DE TANCOS .

Andam a caçoar com o Presidente,
mas ele merece, para não andar a meter o nariz onde 
não é chamado . 

E vai a tropa toda, mais o Ministro da Defesa, acompanhar
Marcelo, com pompa e circunstância, numa visita ao buraco
do paiol de Tancos, com Hino e Continências, para ver in lo-
co, esta imensa palhaçada .

Estava em perigo a segurança e a defesa do País, face aos nos-
sos inimigos terroristas ou ligados ao crime organizado.

O Presidente,
Comandante em Chefe das Forças Armadas Portuguesas,
teve que actuar em prontidão máxima .

Afinal, o elefante pariu um rato .

Há muita coisa para explicar .

Mas, para já, é

 Marcelo que fica mal na 
caricatura .
.


segunda-feira, 17 de julho de 2017

BRANCA CLARA DAS NEVES .

Se todos os políticos, jornalistas, críticos, paineleiros,
engenheiros e cientistas, e outra piolhagem avulsa,  agar-
rasem numa pá e numa enxada e acorressem à floresta 
selvagem, que é de todos, e não é de ninguém, e se pu-
sessem ao trabalho para apagar os fogos que medram por 
essas serras adentro, e se deixassem de cuspir parvoíces 
e despautérios, talvez que conseguissem debelar e a so-
lucionar o insolúvel drama dos incêndios florestais .

É agarrar nas alfaias, e mãos à obra  .

Esta escumalha toda ladra, ladra, mas sabe muito bem que
qualquer governo que queira fazer a reforma agrária que
se requer para resolver o doloroso drama da floresta portu-
guesa cai, no dia em que o respectivo Decreto fôr assinado .

E mais governos, uns atrás dos outros, cairão, 

inexoravelmente .

É, e será sempre assim .

Até que alguém, um dia, seja pendurado , de cabeça para 
baixo, atado a o pinheiro a arder .
.

O CAMARADA DAVID SANTOS .

Autárquicas de 2017 .

Cadaval, a Terra e a Serra .

O David é um grandes amigos do meu filho Mário Pedro .
Travaram juntos imensas batalhas, passaram em claro muitas
noitadas, a discutir a política, os princípios, as campanhas, as 
tácticas, as listas, a vida de um partido que tanto amam e ama-
ram .

Companheiros e  fundadores da Tertúlia do Martinho da Arca-
da.  café que servia de centro de gravidade  da discussão de no-
vas ideias e ideais para engrandecimento do Partido Socialista,
então na oposição, mas que um grupo decidiu resgatar, disposto 
a mudar radicalmente o estado de coisas, grupo as liderado por 
António José Seguro, Álvaro Beleza e muitos outros . 

Foi pois, com um enorme orgulho que fomos convidados para
a cerimónia de lançamento da Campanha do David, e da sua 
vasta equipa, para a tomada do poder para a Câmara do Cada-
val , para que esta Terra, perdida na Serra, possa almejar a ter
o direito de existir no mapa do País, e a prosseguir na rota do
progresso e do desenvolvimento . 

Sei que não será tarefa fácil, cheia de obstáculos e contrarieda-
des, mas quanto não vale o desafio de ir mais além, e fazer esta
gente mais feliz, mais rica, mais próspera , fixando muitas 
pessoas nesta terra e fazendo regressar muitas outras,ao conví-
vio e à partilha da Terra e da  Serra, há muito abandonadas.

Aqui vai o nosso apoio e o nosso abraço .

Os pais do Mário Pedro .
.




sexta-feira, 14 de julho de 2017

Pelo sonho é que fomos .

O SONHO COMANDA A VIDA .

Alguém me perguntou um dia
Como aparecem os sonhos
E eu respondi não sei

Talvez com a criação do Mundo

De uma gota de orvalho
Ou de um floco de neve
De um pedaço de bruma
Ao raiar o Sol

Do sorriso de criança
Do leve afago na mão
Do prazer de um amante
Ou de uma dor de parto

De um olhar sentido
Dum momento de inspiração
Duma lágrima comovida
Do encontro de alguém

Mas cuidado

Do mesmo modo que surgem
Podem transformar-se e pesadelos
Uma pequena fronteira os separa

Basta uma palavra rude
Um gesto desastrado
Um olhar enviesado 
Um sentimento magoado 

A desconfiança instalada
A raiva mal contida
Um pensamento cruzado
Um salto mal calculado


A vida corre adiante
Nunca volta para trás
De que vale um sonho
Se não for partilhado

É preciso que haja vento
para voar .
.






quarta-feira, 12 de julho de 2017

O SONHO AMERICANO .

O meu sobrinho neto Gonçalo acabou ontem o curso de 
Economia, no ISEG, e vai dentro de dias  continuar os es-
tudos numa Universidade Americana, na Virgínia Ocidental,
acumulando com o curso de futebol, integrado na equipa da
Universidade .

As voltas que o mundo dá .

A geração anterior à minha, foi ganhar a vida para o estran-
geiro, para África e América, Angola, Congos, USA, Canadá,
Áustrália, Brasil, Argentina, Venezuela .

Mais tarde, rumou à Europa, França, Alemanha, e depois à 
União Europeia .

A minha geração ficou parada no tempo e no espaço, sem visto,
nem passaporte, a não ser para ir para o mato, gramar a estú-
pida Guerra Colonial .

Pode ser que a geração actual,
venha em breve regressar à Pátria, e fazer desta terra madrasta
um País mais próspero e mais justo .
.

terça-feira, 11 de julho de 2017

AEROPORTO -2 .

Até parece uma sequela 
de um filme catástrofe .

Quando entramos no Aeroporto, na zona das partidas, parece
que vamos para um galinheiro, depois de termos percorrido uma 
cerca de gado . gado humano, claro .
Depois de muito tempo de espera, caminhamos lentamente para o
Check in, e largamos as malas .

É então que a feira começa .

Até parece que o objectivo central da viagem, é aproveitar as com-
pras mais baratas, que se fazem noutros lugares chiques da cidade .

O truque está na escolha dos artigos mais apetecíveis e na velocida-
de com que se chega até eles, primeiro que todos as outras, sim, por-
que em regra se trata de um público feminino .

Confesso que nada deste cerimonial ma atrai .

O que eu gosto é daquele espalhafato de côr
e de luz.

do melhor que há no mundo, um mundo de brilho e de ostentação .

Uma vez, partilhei com o António Lobo Antunes, a bola e o Playboy,
no tempo em que essas revistas paravam à porta do aeroporto .

Depois de feita a viagem, tínhamos que percorrer alguns quilómetros, 
sem fato de treino, após a saída da manga junto ao avião .


Há quem se distraia a fazer compras no estrangeiro, Londres, Paris,
Barcelona .

É ponto de honra .

Caturrices .

Então não seria mais simples, mais barato e mais rápido, fazer as com-
pras, logo ali no Aeroporto de Lisboa .


Mas, claro que não é a mesma coisa ...

Noblesse Oblige  .
.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

O AEROPORTO DE LISBOA .

Foi através da colecção do Cavaleiro Andante, que trazia  semanalmente
os suplementos de cartolina, para a construção do Aeroporto de Lisboa,
que tomei conhecimento com essa infraestrutura .

Sempre gostei imenso de aviões, mas tirando as imagens da IIª. Guerra
Mundial, e de alguns documentários dos raros filmes, que via no Cine-
Teatro da minha terra, pouco conhecia da aviação .

Tudo se concretizava pelo sonho 
e pela imaginação .

Só quando fui para Lisboa, já rapazote, vi pela primeira vez um avião 
real,

O SUPER CONSTELLATION,

com três rabinhos na asa inferior .

O Aeroporto tinha sido recentemente inaugurado por 

Humberto Delgado,

Daí e nome que hoje ostenta na entrada principal .

Mais tarde , ir tomar uma bica, e passar um bocado da noite lisboeta
era uma tradição viajar até à Portela, e curtir as conspirações com os
amigos .

Com o desencadear da Guerra do Ultramar, era então corrente as ida ao
Aeroporto de Figo Maduro,  ver e rever os muitos amigos que eram obri-
gados a partir e outros a chegar de África .

Foi quando o Aeroporto aumentou espantosamente, e se converteu num 
sítio cheio de simbolismo e afectividade .

Mais tarde ainda, as viagens dos  emigrante, invadiram aquele espaço,
que ficou a rebentar pelas costuras, e a transformar-se num gigantesco 

Centro Comercial .
.

domingo, 9 de julho de 2017

AS FEIRAS .

Em poucos dias, tive o privilégio de assistir a duas feiras,
o que é raro, pois agora estou quase sempre pelo meu bairro .

A primeira foi no Estádio do Benfica - 

A CATEDRAL .

Tínhamos ido entregar géneros alimentares para ajudar o Banco
contra a fome . O dia das entregas coincidiu com o final da Taça
de Portugal, e o clube abriu as portas ao Estádio, para o efeito, e
para mostrar a Águia Vitória e os troféus ganhos este ano . 

Fiquei encantado com o número e com a variedade de gente que
frequenta aquele lugar ,

De todas as idades e tamanhos, altos, baixos, gordos, feios, gente gira, 
deslocando-se pelo campus desportivo .

Mas o que mais me impressionou, foi a variedade de símbolos exibidos,
como que a ressalvar a pertença 

à tribo Benfica .

Equipamentos completos, uma camisola, uma bandeira, uma saia, uma
blusa, uma pulseira, balões, folhetos, desenhos nas barracas de venda de
comes e bebes .

Crianças a correr de um lado para o outro.

Um formigueiro, uma feira, 
um sinal de vida .
.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Terapia ocupacional .

A colecção de molas da roupa .

Já tinha quase esquecido a história do Museu Pitt Rivers,
mas magicava qualquer coisa parecida,  como o museu das 
coisas simples e baratas encontradas no rua .

Sempre fui um tipo com o espírito de caçador recolector, que 
fui afinando na minha juventude, e depressa me transformei
num coleccionador compulsivo .

A necessidade aguça o engenho .

Comecei com as caixinhas que me davam no consultório, como
uma espécie de prendas, pelas muitas injecções que tive que apa-
nhar quando estive doente .

Depois passei aos selos, que ia juntando e que me eram dados pe-
los familiares dos emigrantes que tinham partido, sobretudo pa-
ra a América, USA e América Latina .

Aprendi a tirar o papel, a arrumá-los nas carteirinhas,  que eu 
próprio construía .
Depois fui comprando os pacotes com selos surtidos, e por vezes
eram outros coleccionadores que me davam selos repetidos .

Depois, pela vida fora, fui coleccionando coisas, cromos, berlindes,
de tudo um pouco .

Foi então, muitos anos mais tardes, em que vivi os dias mais trá-
gicos da minha vida, e em que me fui abaixo, quase não conseguia
sair à rua, andava 5 a 10 minutos, e ficava cansado, que comecei a
andar e a distrair-me com as coisas que encontrava e levava para
casa, gerando grandes problemas de choque de interesses com fa-
mília .

E retomei a velha ideia do

Museu das Coisas .

Não conseguem imaginar o que eu juntei nestes últimos seis ou sete
anos que tenho andado na recolha e separaçãoda tralha mais variada .
À medida que levava para casa, quase todos os dias ia separando as 
coisas em garrafões, disponíveis todas as segundas e quartas feiras
nos recipientes de recolha dos plásticos .

Levei todo este tempo a fazer a minha colecção de lixo, na esperança
de apresentar uma instalação de cerca de 250 garrafões, 

mas os artistas são uns 

incompreendidos, 

e a coisa não vingou .

Agora, mais de metade já foi à vida ,
e  vou inventar outra coisa qualquer .
.

O ENTULHO .

Quando Deus estava a distribuir os povos pelos 
diferentes países, o lugar de Portugal ainda estava
em aberto .
Muita gente fazia queixas ao Senhor, com receio 
que lhes calhasse um pais amaldiçoado, pois o mundo
estava cheio de perigos e desgraças, e o nosso País,
à beira mal plantado, cheio de belezas mil, ainda não
ter sido contemplado .

O criador, com um sorrisozinho maroto 
ao canto do olho, e na sua infinita sabe-
doria, acabou por se pronunciar :

Estejam calmos, não se afrontem, que já vão ver que
tralha de gente eu lá vou espalhar .

E foi assim, dizem os livros sagrados, que o nosso 
País foi povoado .
.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Costa morto em combate .

O Costa vai dar à costa .

O Costa não sabe nadar ...
O Costa não sabe nadar ...

Anda a boiar .

Que razões tão poderosas terão levado o Primeiro Ministro
a desertar a meio dos combates com que se viu confrontado
durante estas duas semanas, que viram o País sucumbir a 
dois desastres de imensa gravidade, como nunca aconteceu 
neste Portugal dos pequeninos, calamidades que há gerações
não nos aconteciam ...

Porque abandonou o barco, no meio da tormenta, quando de-
veria ser ele a estar ao leme de um navio a desmantelar-se jun-
to ao rochedos .?!...

O Costa tem falta de material, de mau comportamento, de cas-
tigo e de falta de vergonha ...

Ai, Costa, Costa ...
.

UM FILME DE TERROR .

Às vezes chego a pensar que vivo dentro de um filme de terror .

Até parece que houve um assassino em série que escreveu o ro-
teiro, fez o casting, escolheu as personagens, descreveu a acção,
pensou a abertura e o fecho da fita . 

Tudo me parece tão irreal, que só pode ter acontecido no tal fil-
ma, tantas e tão horríveis são as cenas de terror, de suspence, de
violência e de sadismo, de dôr, sofrimento e de morte, com episó-
dios, aqui e ali, marcados com com pinceladas surrealistas, em 
que as figuras centrais se comportam como meras baratas tontas,
num desfilar macabro, repetido até à exaustão, para manter as 
pessoas agarradas ao execrável espectáculo que parece não ter
fim .

Os mortos e também os vivos, deveriam merecer um mínimo de 
respeito e contenção .

A quem pode interessar 

a exploração gratuita desta tragédia ?!.
.

O MUSEU PITT RIVERS (OXFORD) .

O MUSEU DAS COISAS .

Foi no princípio dos anos 80, durante a nossa estadia em Oxford,
com a minha mulher a preparar o Doutoramento, e eu e o Pedro,
a gozar férias, na terra onde a relva se ouvia a crescer, que tomei
conhecimento do Museu Pitt Rivers .

Legada a um inglês, Pitt Rivers, um coleccionador  de peças de an-
tropologia e arqueologia, viria a sua colecção a constituir um dos 
Museus masi interessantes que viria a conhecer .
Instalado num edifício austero, no próprio campus universitário, 
era lugar de passagem pelas nossa deambulações pela cidade .

Um dia entrámos e eu fiquei apaixonado pelo lugar .
À primeira vista, parecia um aglomerado de tralha, qual armazém de
ferro velho .
Mas ao olhar mais de perto, comecei a perceber, que aquelas coisa es-
tavam devidamente classificadas e seriadas, organizadas por vitrinas
e em cada uma delas se mostrava a evolução de um dado utensílio, ao
longo de várias épocas .

Já vira muitos museus, por exemplo aquele que continha as jóias da
Raínha da Inglaterra, na Torre de Londres, mas não constitui o mes-
mo impacto que o Museu das Coisas , para mim .

Recordo as vitrinas das tesouras, das caixinhas de rapé, e dos relógios,
entre tantas outras .

E, este Museu, acendeu alguns dos meus parcos neurónios, e fiquei de
contruir uma coisa destas, no meu País .

Tantas vezes tentei, tantos estratagemas arranjei, mas todos os meus 
desejos foram chocando no desinteresse, na inveja e na ignorância des-
te povo estranho que habita a Lusitânia.

Levei mais de sete anos a juntar o lixo das ruas de Telheiras, e em sete 
dias, já destruí mais de metade dos materiais, não arrumados em vitri-
nas de vidro, mas em meros garrafões de plástico .

É a vida ...
.


terça-feira, 4 de julho de 2017

UMA IDEIA CARA .

Não é fácil desistir , ou deixar um trabalho 
a meio, mas por vezes lá tem que ser . 

Posso ser  vencido pelo cansaço, ou pela desilusão .
Ou por bater tantas vezes, às cegas, com a cabeça nas paredes, como a
mosca varejeira , que não se apercebe que existe um vidro a tapar o seu
caminho .

Mas nunca, pela falta de determinação .

Mas, às vezes, pode acontecer .

Vem isto a propósito de querer apresentar uma instalação , com base em
resíduos recolhidos no meu Bairro- Telheiras City, armazenados em garr-
afões de plástico .

A história vem de muito longe, e a ideia tem quase 50 anos .
Parece mentira, mas é completamente verdade .
.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

A ARTE PELA ARTE .

Perguntava-ma o meu amigo Luís Alves, um apreciador dos
meus bonecos :

" Então, quando é que expões os teus trabalhos ?. "

Respondi-lhe desta maneira  :

A coisa está difícil .

Não sou maricas, nem comunista,
não sou maçónico, nem membro da Opus Dei,
como queres que eu consiga expôr, o que quer que seja ...

Retorquiu o meu amigo :

"Tu lá sabes,
  mas numa dessas categorias, tens que alinhar ."

Parece anedota, mas não .

Quando eu andava a esmolar uma exposiçãozinha, por amor de Deus,
invariavelmente, me respondiam que o espaço já estava ocupado com-
muita antecedência .

Deste modo só teria uma vaga, se alguém resolvesse morrer .

Há muito que passei a desenhar e a escrever para a gaveta .

Como o Pedro gostava dos desenhos 
que eu fazia ... 

Era a primeira, e muitas vezes a única, pessoa a quem eu os mostra-
va  .
Às vezes tinha uma opinião muito crítica, mas no geral, apreciava o que
eu fazia .
É isso que me importa .

A sua opinião, e o julgamento do tempo .
.





SONHOS AMARROTADOS .

Já dizia o José Cardoso Pires :

"Não interessam os projectos que fazemos,
   mas aqueles que conseguimos concretizar ".

Mais um sonho desfeito, mais um projecto por executar .
As pessoas não podem viver sem sonhos, mesmo que não sejam reali-
sáveis, senão não seriam sonhos .

Outros estão ao nosso alcance, 
mas, o tempo vai passando, e por esta ou aquela razão, ficam pelo ca-
minho .

 Desistimos .

Ás vezes perdemos o desejo, outras vezes deparamos com dificulda-
des com que não esperávamos, outras ainda é que o sonho perdeu in-
teresse ou oportunidade . 
Outros ainda, foram alcançados por pessoas, que sonhavam o mesmo, 
e chegaram lá primeiro .

Por preguiça, nunca . 
Por desleixo, talvez .

Não deixes para amanhã, o que podes fazer hoje, 
dizem uns  .

Mas o trabalho não azeda, dizem outros .

Sou um lutador infatigável, 
mas às vezes começo a desanimar, quando me deparo com ondas alterosas
que quase me alcançam e me podem destruir .

O Mar é tão imprevisível,
por vezes tão traiçoeiro .

Já me tem acontecido, percorrer  um longo caminho, cheio de perigos e
dificuldades, e , já à vista de terra, acabo por morrer na praia .

O espírito aguenta muito, maia do que aquilo que julgamos, 
mas o corpo, esse vai dando sinais evidentes de cansaço .

E o sonho vai sendo, a pouco e pouca, amarrotado .

Não conseguimos alisar o nosso papel nesta vida .

domingo, 2 de julho de 2017

A FÉ MOVE MONTANHAS .

At Pentendam Pluvium .

Antigamente( penso que ainda hoje), em tempos de seca 
extrema, a Igreja e outras autoridades mandavam realizar
missas a pedir que chovesse, como os índios e outros povos
fariam, o que às acontecia com toda a naturalidade .

A Fé sempre foi o caminho mais fácil para a realização das 
coisas impossíveis .

Hoje em dia, recorre-se a métodos mais sofisticados, por 
exemplo, contrata-se um bruxo de reconhecida competência .

Não acreditam em bruxos, dizem uns, mas que eles existem,
é uma realidade .

Camuflados no meio da sociedade civil, muitas vezes são cha-
mados para a consumação de tarefas complicadas , embora 
muitos mantenham reserva, quando não severo anonimato .

Há até quem consiga prever suicídios, quando menos se espe-
ra . São uns bruxos especializados .

Nos nossos dias, já não é muito vulgar, matar galinhas e outra 
bicharada, para obter bons resultados, numa bruxaria à ma-
neira .
Cada vez se recorre, cada vez mais, à numerologia e à informá-
tica, tecnologias mais limpas e recorrentes, e de que são conhe-
cidos os bons esultados por elas conseguidos .
.

A TROPA FANDANGA .

O GENERAL vai completamente nú .

Começou a redução da despesa pública do Estado .

Para que servem, afinal, 
as Forças Armadas ?

Desculpem fazer a pergunta .

Mas já estamos em paz, há tantos anos, e não se vislumbra 
qualquer ameaça ao nosso território, para quê então manter 
um dispositivo, que afinal, se comprovou não servir para na-
da .

Por que não acabar com ele de vez .

É que o dinherinho sai do meu bolso .

Ajudem a diminuir os encargos com o erário público .

Vamos nessa .
.

sábado, 1 de julho de 2017

País de Opereta .

Em casa de ferreiro, espeto de pau .

Temos que nos reduzir à nossa insignificãncia .
Portugal é um País mesmo muito pequenino,  não pela sua
pequenez, mas pela imagem que por vezes transmite, em pe-
quenos detalhes, de uma miserabilidade  congénita .

Vamos a todas as guerras e guerrinhas de alecrim e mangero-
na, cujo contributo chega a raiar o ridículo e o a parvoíce,
em todos os continentes, a mando não se sabe de quem, nem por-
quê .
Mania das grandezas, ou parva fossanguice .

Passamos o tempo a brincar aos soldadinhos de chumbo, faná-
ticos coronéis na reserva, de monóculo e pingalim em riste, e
não conseguimos guardar as nossas armas e munições, armaze-
nadas, em paióis completamente desguarnecidos, à mercê de
quem quiser servir-se, como se de um supermercado se tratasse .

Até pode ser uma brincadeira (vão brincar com a pilinha do ma-
caco), ou uma pequena vingança de camaradas encornados .

Mas pode tratar-se de uma questão perigosa, e pôr em perigo as
nossas vidas e bens .

É uma República das Bananas
ou um País, sem rei, nem roque 
e a fazer de conta ?!.
.

COMO O TEMPO PASSA .

Ontem, cruzei-me na rua com um grande amigo do meu filho .
Tinha acabado de fazer um raid de moto, atravessando o País.
Não fazia a mínima ideia que ele fosse um motoqueiro furioso,
a 200 à hora .

"É andar enquanto ainda posso .
  Já vou fazer 50 anos " .

Foi aí que eu caí em mim .

O Pedro, se fosse vivo, faria 46 anos .

Dei comigo a fazer contas à vida .
Como foi possível, que o tempo tenha escorrido desta maneira ...
Ainda ontem, eram uns meninos que brincavam à bola, a fugir da po-
lícia, no largo fronteiro da esquadra, vestidos à maneira, equipamento
 completo, uns de vermelho, outros de verde .

(Antigamente, no tempo da outra senhora, era proíbido pronunciar a
 palavra vermelho, era encarnado e mais nada . Onde chegava e chega
a estupidez humana ).

Jogava-se à bola e nos intervalos, trocavam-se os cromos .
Se houvesse tempo, discutiam-se as principais incidências do jogo, do
jogo real, e dos jogos que tinha visto pela televisão .

O Pedro era sempre o Nené, com a camisola 10 .

Já vinha equipado de casa .
Ou melhor, nos dias de bola, andava sempre equipado .

Por essa altura, fomos passar um mês a Oxford,

onde, a Mãe estava a fazer o  Doutoramento, saímos de casa para os cam-
pos relvados por todo lado, o Pedro levava o equipamento da selecção na-
cional e a respectiva bola oficial . 

 Treinavamos até ao almoço .

Depois íamos almoçar os três, ao King and Arms, onde a comida era be-
ra e pouca .

Matavamos a tarde, a ver televisão, a ler e a jogar no computador .

Foram uns dias, para mais tarde recordar .
.