quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

OS CHULOS DO ESTADO - 1 .

Este era um dos epítetos com que era mimoseado muitas vezes durante
a minha longa vida de funcionário público .
Aliás, até o nome como éramos designados ia evoluindo, tal era a carga
pejorativa envolvida na minha actividade .
Havia sempre latente o preconceito de nos tratarem como gente ao ser-
viço do sector privado, obedientes e agradecidos .

Ao invés dos servidores do Estado na França, Inglaterra e nos outro paí-
ses civilizados, tratados com grande respeito e consideração, devidos a
quem cuidava da coisa pública .
Convivi com muita gente , de muitos terras, e era lá fora que eu mais gos-
tava mais de exercer a minha profissão .

Eu havia decidido trabalhar no sector público, dada a revolta com que os
patrões e encarregados eram tratados no meio fabril .
O escândalo era tão grande, que ainda me lembro de ser levado à letra, o
direito de pernada, como se vivêssemos em plena Idade Médica .
Conhecia as desigualdades que imperavam nas fábricas e os senhores que
se aproveitavam disso, para tornar insuportável a vida das pessoas.

A juntar a essa realidade, conheci de perto a repressão política, social e
policial que imperavam sesse conlomerado humano, que (não) se resigna-
va a situações degradantes e tão desiguais .

Por isso pertencer ao grupo dos chamados parasitas da sociedade era, de
certo modo, uma bênção .

Abençoados chulos do Estado .

Nesse tempo, um professor, era um professor,
um doutor, era um doutor,
um engenheiro, era um engenheiro,
ainda que trabalhasse como agente do Estado .

Conhecendo bem tal realidade, cedo decidi fugir do mundo atrasado dos
nossos patéticos empreendedores, como agora se diz .
Por outro lado, uma vez que me havia tornado priveligiado, achei que algo
devia à sociedade que me ajudou, e pôr ao seu serviço, as capacidades que
tinha adquirido .

A maioria das pessoas era porventura mais exigente e ambiciosa do que eu,
e o seu sonho era trabalhar no sector privado, onde se ganhava bastante mais .
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