quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
OS ECOLOGISTAS INFIÉIS
É O CLIMA UMA IDEIA RELIGIOSA?
Toda a gente prefere um ambiente saudável à poluição generalizada (excepto talvez os donos de indústrias poluentes). Mas existe no discurso ambiental uma espécie de ideia religiosa que me incomoda.
Tenho duas declarações de princípio a fazer: concordo com a precaução quanto ao Ambiente, com as apostas em energias alternativas e em veículos não poluentes;
concordo que as terras, rios e mares não podem continuar a ser poluídos como têm vindo a ser.
A segunda declaração é que penso que toda a gente tem direito a praticar livremente uma religião, ainda que pareça absurda.
E, feitas estas duas declarações, afirmo que me parece existir no discurso ambientalista uma espécie de religião travestida de ciência.
Não sei de clima ou de ambiente (apesar das milhares de coisas que li, vi e ouvi) para poder afirmar com razoabilidade quem tem e não tem razão sobre o CO2 ser a principal causa do efeito de estufa, ou se o aquecimento global é ou não provocado pelo homem.
Mas sei de História e já vivi o suficiente para perceber que as políticas feitas em nome de certezas no amanhã podem falhar. Falham quase sempre.
Também noto alguns paralelismos preocupantes. O desenvolvimento da espécie humana (que tem mais bem-estar e comida do que em qualquer outra época), é na religião climática a origem do mal, o pecado original.
O futuro limpo, eléctrico, sorridente, com reflorestação é, digamos, o paraíso a que apenas chegamos se nos penalizarmos (privando-nos de algumas coisas, como no Ramadão ou na Quaresma); caso não liguemos vamos directos para o Inferno, ou para o fim do mundo, o Armagedão, que são as catástrofes climáticas que se podem ver no filme que abriu a Cimeira de Copenhaga.
Tal como as religiões, também muitos priores do ambientalismo querem converter os nativos.
Os nativos de África, da América Latina e da Ásia. Os principais priores, tendo beneficiado toda a vida das toneladas de CO2 já emitidas, dizem agora aos nativos que não devem fazer o mesmo... os nativos parecem não estar pelos ajustes, porque têm a sua quota de desenvolvimento a cumprir. E, quando os nativos são chineses e poluem todos ao mesmo tempo, tudo se torna difícil... E, quando os nativos são brasileiros e nós, das nossas florestas destruídas na Europa, lhes pedimos que não destruam a deles, a coisa torna-se complicada.
Há, ainda, o negócio, a venda de material bento ou santo, mas deixo isso para outras núpcias.
Finalmente há a excomunhão, a fogueira. É o que tem acontecido aos cépticos nas universidades e círculos bem pensantes.
Mas eu, como dizia alguém, quando vejo toda a gente do mesmo lado da amurada, tendo a ir para o outro.
Não ponho em causa o trabalho a favor do ambiente. Pretendo apenas mais provas do que nos é dito como inevitável.
Que não nos peçam apenas fé.
Henrique Monteiro
Texto publicado na edição do Expresso de 12 de Dezembro de 2009
Assino por cima o excelente têxto escrito pelo editorialista
do Expresso.
O tema é abordado de uma maneira inteligente, mas perfei-
tamente compreensível.
Não é preciso a carga dramática, que os falsos defensores
do ambiente usam e abusam.
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