Estamos a viver o fim do PS.
Os familiares e amigos, em regra, só aparecem nos grandes dias:
casamentos, baptizados, funerais, e assim.
Vêm de todo o lado, de perto e de longe, ricos e pobres, che-
gam sós, uns, outros em bandos.
Vêm prestar uma última homenagem, dizem bonitas palavras, fa-
zem sentidas vénias, apresentam juras de amor eterno.
Chegam apressados os parentes queridos, marcam presença e logo
partem de novo.
São os emigrantes que enriqueceram por lá;
São os promovidos pelos bons serviços prestados;
Todos vêm ao último beija-mão.
Por onde andaram?
O que fizeram?
Que colaboração deram ao Partido?
Porque não ajudaram nos momentos difíceis?
Porque desertaram?
Regressam a Portugal mais tristes, mais cansados,
mais desanimados.
Vieram cumprir um dever, uma obrigação.
Vêm velar o PS.
Agora é tarde demais.
Abanam-se emocionados, cumprimentam-se demoradamen-
te, mostram grande emoção.
Fazem lindos discursos.
Gritam bem alto os slogans e as palavras de ordem do
costume.
Agitam os pendões e as bandeiras.
Onde paravam quando o Partido começou a definhar?
Porque o deixaram sangrar à míngua?
Porque não lhe acudiram, quando era atacado por todos
os lados.
Abocanhado pelas hienas e pelos chacais, da direita e
da esquerda?
Porque não lhe deram, ao menos, uma mãozinha?
Morreu de inanição.
Como os idosos abandonados, anos à espera de ser exuma-
dos, como acontece num país chamado Portugal.
Abandonado por toda a gente.
Morreu na tristeza e na miséria.
PAZ À SUA ALMA.
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