Tinha o Mário Pedro dois anos e meio, quando a revolução
dos cravos eclodiu .
Tinha havido um pouco tempo antes, o falhado golpe spino-
lista, na sequência do qual alguns elementos do MFA, entre
eles o meu amigo Vasco Lourenço, tinham sido detidos.
Já estávamos habituados àquela longa e fria madrugada .
Foi pois com grande incerteza e alvoroço que começámos a
ver na rua soldados com cravos espetados nas espingardas.
Tivémos as primeiras notícias na manhã de 25 de Abril,
através de um amigo nosso .
Uma das grandes emoções que nesse dia sentimos, foi o
Mário ter querido sair comigo, de mão dada, para fazer
compras ao Sr. Eduardo, no Largo da Amoreiras, para ir-
mos buscar algumas reservas para casa .
A mercearia foi practicamente assaltada, mas lá conse-
guimos trazer alguma comida .
Pensávamos que as coisas iriam certamente melhorar .
E lá vinha o Mário Pedro, saltitando todo contente, por
ter saído de casa mais cedo do que o costume.
Mal sabia ele que nesse dia viria a dar o seu grito do
Epiranga.
Seria o seu primeiro acto revolucionário.
A conquista da sua carta de alforria .
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