As últimas viagens que fizémos em conjunto foi à Alemanha,
a Duderstadt, para o Mário Pedro ir aos tratamentos de imu-
noterapia, na clínica do Dr. Nesselhut, um dos poucos espe-
cialistas na Europa, na matéria .
A deslocação era meticulosamente preparada, até ao mínimo
detalhe, como se fosse uma operação militar .
Era bastante complicado viajar naquela situação,já porque
as condições de saúde do Mário eram limitadas, mas também
porque o trajecto planeado, era extremamente extenso e di-
versificado .
O Pedro era o comandante .
Íamos de avião até Frankfurt,
de combóio até Gottingen,
de carro até Duderstadt .
Era uma semana pesada,
de exames, tratamentos, consultas .
Nos intervalos,
e sempre que era possível,
dávamos os nossos passeios por terras alemãs, na zona de
fronteira entre as antigas Alemanhas .
Mas, o ponto alto da viagem, já no regresso, era o ritual
das refeição, no restaurante do Aeroporto de Frankfurt .
Foram os olhos de lince do Pedro, que primeiro avistaram
o restaurante japonês, recheado de iguarias,
entre elas o famoso Sachimi .
Como sou muito forreta, ainda me ocorreu à minha curta
mente, o argumento do preço .
Logo passei à frente desse mesquinho pormenor .
Encomendei para mim, o trivial .
A Mãe arregalou os sentidos, saboreando já os petiscos à vista.
Mas, Para o Mário Pedro, tinha chegado o momento .
Passaram-lhe todos os achaques .
Ia começar o Ritual .
A sua vida girava agora,
sòmente em torno da escolha do Menu, quais os pedaços mais
aliciantes, a disposição do prato, qual a bebida, a escolha
dos pauzinhos .
Era como se, de uma oração se tratasse .
De uma cerimónia religiosa .
Pelo canto do olho, ia observando o meu filho, o seu epicu-
rismo natulral, saboreando gulosamente cada pedaço, como se
fosse sempre o último .
Devagar, masticando pausadamente, curtindo os sabôres e os
aromas emanados do prato .
Um autêntigo manjar dos Deuses ...
Tudo ficava suspenso .
O tempo passava devagar .
Qual era a pressa ...
As chatices da vida tinham sido voado para longe .
Infelizmente voltariam de novo,
e de que maneira .
Mas até lá,
carpe diem
.