Naqueles pardacentos anos 60, com três guerras à perna,
e sangrados pela maior vaga de emigração que Portugal
conheceu na sua história, punha eu a minha fértil imagina-
ção em busca de uma solução para acabar com os conflitos
em África .
Muitos tinham tentado, mas em vão .
Corriam os prodigiosos anos da aventura do Benfica na Taça
dos Campeões europeus, com o Estádio da Luz sempre a
abarrotar de furiosos adeptos encarnados ( na altura estava
interdito o uso da palavra vermelhos ) .
Foi aí que bolei um plano astucioso para derrubar Salazar e
a sua quadrilha .
Numa daquelas noites decisivas, alguém deveria tomar conta
dos altifalantes do Estádio, e gritar alto e bom som, que o
Eusébia havia sido raptado pelo Salazar, e se encontrava ca-
tivo no Palácio de São Bento .
O efeito deste grito de guerra deveria fazer a imensa multidão
abandonar o campo e acorrer imediatamente à Estrela, espati-
fando tudo e todos, e resgatar em delírio o nosso herói Eusébio .
Era um projecto arriscado, e como depois se veio a constatar,
o plano tinha abortado .
Uns anos mais tarde, um outro plano mais elaborado viria a
varrer Salazar, Caetano, e outras miudezas, da cena política
portuguesa .
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