Porque os Portugueses não sabem nem nunca vão saber o como e quanto são "esfolados",
Porque os Portugueses não sabem nem nunca vão saber o quanto embolsam de forma ignominiosa os Gestores públicos, semi-públicos, semi-privados e privados, nos negócios mais escuros, menos transparentes e mais chorudos,
Porque os Portugueses não sabem nem nunca vão saber o quanto muitos dos seus dirigentes políticos engordam desde o topo da hierarquia até à Junta de Freguesia à conta de aconchegos como luvas e cachecóis,
Porque os Portugueses não sabem nem nunca vão saber porque as nossas estradas estão sempre cheias de buracos e a ser abertas, reabertas e tornadas a abrir,
Porque os Portugueses não sabem nem nunca vão saber a extensão da extorsão que são vitimas pela máquina do estado, que depois entrega o resultado desse saque aos pés de uma dúzia de senhores que cada vez são mais os donos de tudo e de todos,
Porque os Portugueses não sabem nem nunca vão saber que eles são presos por roubar num hipermercado, mas que são eles e os que para lá vendem que mais são roubados no mesmo hipermercado,
Porque os Portugueses não sabem nem nunca vão saber quanto são traficadas as suas vidas e esperanças por um punhado de euros de contrapartida que revertem para a conta de uns tantos do costume, como nas falências fraudulentas, nos subsídios às multinacionais, e no fechar de olhos às subsequentes deslocalizações,
Porque os Portugueses não sabem nem nunca vão saber que a Justiça que reclamam só vai recair sobre eles como uma marreta que os esmaga, mas poupa a mão que a emprega,
Porque os Portugueses não sabem nem nunca vão saber nada que não “devam” vir a saber,
Porque existe um aparelho de reprodução, controlo e propaganda, vulgo media, que é a uma máquina que os ensina a pensar como e sobre o que se quer.
É a mente auto-regulada, auto-censurada.
E o medo, difuso, miúdinho, corrosivo.
E a solidão do mundo sem fraternidade.
O dilema do prisioneiro. O que ganha um em meter a cabeça de fora, se os outros continuarem encolhidos?
Fica sem cabeça.