O Mário Garcia preocupava-se muito com os temas
da culpa, do esquecimento, da irresponsabilidade e da
não inscrição, sobretudo no aspecto colectivo.
Ninguém era (é) culpado de nada. Há sempre uma boa
desculpa para tudo e para nada.
Eles é que foram os responsáveis;
Eles que se lixem;
Eles é que têm os livros.
Mesmo que alguma coisa corresse bem, diziam :
Boa, afinal, eles têm nos no sítio.
Mesmo quando se conhece o culpado, a responsabilidade,
ou não é assumida, ou é partilhada.
Tomemos como exemplo, o desfecho do estimulante filme
"Crime no Expresso Oriente".
É interessante o modo de proceder aquando de um fuzila-
mento : o responsável pela execução entrega um cartucho a
cada membro do pelotão da morte, entregando, aleatoria-
mente a um deles, um cartucho sem bala.
Deste modo, todos matam, mas nenhum se sente culpado.
O seguinte texto foi publicado
no Blog O desccédito, em 16/3/2007-
16 Março 2007
Os Idos de Março
Os portugueses desconhecem, de uma forma geral, o significado da palavra responsabilidade. Se o conceito de culpa está bem presente na nossa herança judaico-cristã, não deixa de, normalmente, morrer solteira. Existe sempre algo ou alguém, de preferência indefinido, pronto para arcar com quaiquer culpas: Eles!
Este paradoxo é particularmente visível na relação dos portugueses com o Estado.O Estado é uma entidade suficientemente abstracta para ser o culpado de tudo.
O pagamento de impostos ao Estado surge, inevitavelmente, como algo irracional: pagar a quem se culpa de tudo. Tal como alguns camaradas deste blog se esforçam por demonstrar. E a imagem do Estado reduz-se ao funcionário da Repartição de Finanças ou ao fiscal da EMEL.
A imagem dos impostos e dos seus cobradores é, historicamente, polémica. Veja-se a referência no texto clássico de Mateus* 22:17-21.
Perguntaram os fariseus a Jesus: É lícito ou não, pagar imposto a César? Jesus percebeu a maldade deles e disse: «hipócritas! Porque me tentais? Mostrai-me a moeda do imposto». Levaram-Lhe então a moeda. E Jesus perguntou: «de quem é a figura e inscrição nesta moeda?» Eles responderam: «É de César». Então Jesus disse: «Pois dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus».
A César tudo se exige, tudo se aponta, e até a própria mulher não basta ser honesta, precisa de o parecer. César é culpado. Porquê? Porque ninguém é responsável de nada.
Júlio César foi assassinado há 2050 anos, nas escadas do Senado Romano. Reza a história que foram vários os Senadores a desferir os golpes de punhais nesses idos de Março. Para que nenhum fosse o responsável...
*ele próprio um cobrador de impostos - Levi
Etiquetas: Estado Social, Mário Garcia, Paradoxo
A César tudo se exige, tudo se aponta, e até a própria mulher não basta ser honesta, precisa de o parecer. César é culpado. Porquê? Porque ninguém é responsável de nada.
Júlio César foi assassinado há 2050 anos, nas escadas do Senado Romano. Reza a história que foram vários os Senadores a desferir os golpes de punhais nesses idos de Março. Para que nenhum fosse o responsável...
*ele próprio um cobrador de impostos - Levi
Etiquetas: Estado Social, Mário Garcia, Paradoxo
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