Quando era miúdo, curioso como poucos, ia espreitar
os livros que os meus pais liam, muitas vezes atraído
pelos títulos estranhos, que eu não conseguia descor-
tinar .
Um desses livros chamava-se
A BESTA HUMANA,
de Emile Zola, uma obra bem gorda, com dois
volumes .
Meti o dente e comecei a ler um pouco ao acaso, mas
logo desisti, porque não entendia nada sobre o teor do
romance .
Só mais tarde, fui entendendo, a pouco e pouco, que a
besta humana éramos todos nós, capazes de fazer o mel-
hor, mas também executar as piores atrocidades alguma
vez cometidas pelo género humano .
Na altura, a besta humana era incarnada pelo anti semi-
tismo patente desde sempre, na história da humanidade,
mas, centrada então no CASO DREYFUS , um mi-
litar judeu acusado de traição, só pela simples razão de
ser judeu .
Foi então que o célebre escritor publicou o famoso
Manifesto intitulado
J`ACUSE,
que levantou a Nação Francesa contra a injustiça feita
pelos mais altos magistrados e militares da sociedade da
França .
Depois de muito tempo, o militar acabaria por ser ilibado,
mas ficou para sempre manchado pela vergonha de um
país que se intitulava o paladino da Justiça e da Liberdade .
O Nazismo espreitava uma oportunidade
para emergir das profundidades da pulhice
humana .
A Besta humana já andava à
solta .
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