Fiquei de falar sobre o lixo, mas com esta coisa da greve,
confesso que passei adiante .
Mas não foi sobre o lixo das agências de ranking .
Nem sobre o lixo da eleições americanas .
Nem das guerras da Síria e do Iraque .
Nem das trapalhadas da Líbia .
Não, o lixo é outro .
É mesmo lixo,
resíduos sólidos urbanos .
As estações de tratamento de lixo são das coisas mais hor-
ripilantes que foram criadas .
O barulho, o cheiro, as peças esventradas, ficam na memó-
riade de quem já por lá passou .
Grandes cavernas com entulho, hardware de muitas toneladas,
fazem desses lugares uma visão fantasmagórica .
Só comparada com as prensas de fazer croquetes, a partir das
carcaças dos automóveis .
Mas eu não queria ir por aí .
Uma estação daquelas é uma espécie de relógio despertador,
em que as rodas dentadas são substituídas por uma sucessão de
tremonhas e tapetes rolantes, que separam os componentes do
lixo, por processos mecânicos, por acção da gravidade, e usando
separadores magnéticos, até tudo ser transformado numa espé-
cie de ganga, a caminho da deposição dessa espécie de estrume,
a ser mais tarde lançado à terra .
Até aqui, tudo normal .
Acontece que os poucos operários que laboram naquele inferno,
disputam ferozmente o último lugar da cadeia de (des)montagem,
tendo aguentado todo o barulho, as pancadas e o cheiro horrível,
são os chamados catadores, que aguardam cuidadosamente, que
consigam apanhar pequenas coisas que se furtaram a toda a série
de tratamentos, e que lhe vêm cair no colo, como sejam anéis, ali-
anças, peças em oiro, jóia, moedas, e outros objectos valiosos .
Guardado está o bocado, para quem o
apanhar .
Nem tudo o que luz, é oiro .
Grão a grão, enche a galinha o papo .
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