Carrego comigo pesadas penas
que vou arrastando lentamente
pedras das serras
rochedos suspensos nos céus
transporto-as às costas
como o caracol
que nunca larga a casca
e nela se abriga
para fugir às tempestades
Penas enormes
que o destino vai deixando cair
escorregando pelas escarpas abaixo
rolando rolando sempre
saltando de socalco em socalco
sem nunca parar
desde o alto da montanha
atravessando ravinas
abrandando nos vales
fugindo aos barrancos
e às escarpas profundas
poucas vezes resfolgo
jamais me volto a erguer
para sarar as feridas
tento subir um pouco
planar como os milhafres
ou como as águias
que rasgam o horizonte
de vez em quando
abrando a descida
sol de pouca dura
logo mergulho no abismo
para afogar as tormentas
que me sufocam o peito
e me corroem a alma
.