FILHO QUERIDO
Por vezes,
quase quero esquecer-te um pouco,
abstraím-me da dôr e do sofrimento.
Mas vem-me sempre à memória
a canção do Adriano :
"Como posso estar feliz,
com um amigo na prisão"
Como posso viver assim;
como posso viver;
como posso;
Como?
O sol já não me aquece,
o frio pouco me importa;
olho a televisão e pouco vejo :
os golos, as faltas, as jogadas,
mesmo as dos nossos,
já não me entusiasmam.
Nada faz sentido.
Só o vazio da alma.
A persistência do nada.
O que me anima
é a força que tu me dás,
a vontade de te lembrar,
de te mostrar o que não vês,
o que não sentes.
Comunico contigo através do sonho,
da fantasia, da loucura, da utopia.
Mas logo desperto.
Imagino-te nos sítios que frequentavas ;
julgo cruzar-me contigo na rua;
Cerro os olhos e estás a olhar para mim.
Talvez me vejas:
talvez me toques:
talvez...
Sei que é a imaginação;
o desejo da tua companhia;
a vontade de te abraçar,
de te acariciar.
Já perto do fim,
passavas as mãos pelo meu rosto
para me veres;
depois abraçavas-me com força
e dizias baixinho :
"Abracinhos, abracinhos" .
Era já a despedida,
tão meiga, tão terna, tão sofrida.
Estavas a dizer-me ADEUS.
Sabias que ias partir para muito longe.
Para um outro MUNDO.
Um outro UNIVERSO.
Talvez que a gente volte a encontrar-se,
algures noutra galáxia,
numa nova curva do espaço-tempo.
Talvez...
Quem sabe.
.
Os pais do Mário .
.