sábado, 25 de julho de 2015

O ALMOÇO .

Encomendo a comida, sem convicção .
Olho em frente para o teu lugar vazio, 
e parece-me ver o teu rosto, 
ouvir a tua voz, sentir a tua gargalhada, 
o teu  riso trocista .

É apenas um instante .
Depois tudo se esfuma .

Levo o garfo à boca,
toco na comida, sem grande convicção,
sem qualquer apetite .

Por vezes fecho os olhos,
para tentar agarrar-te .

E lá vai mais mais uma garfada .

Hoje em dia almoço sozinho,
só, com o meu silêncio e com a natureza . .
Vou remoendo a comida  e a vida .
.
Ataco o melão .

Abuso dos açúcares, 
mas que hei-de fazer .
Acontece com  as velhas tias
que se lambuzam  com doces e bolos,
terna vingança de pessoas doentes
e maltratadas pela vida . 

Vou tragando devagar a cerveja
faço um compasso para a comida
e para os meus pensamentos 

Depois levanto voo
e plano por aí .
Perco a noção do tempo,
parece que já  há muito que estou a comer .

Perco a noção do espaço,
sinto-me  longe, muito longe .

Mais uma garfada de arrôz,
e eu acabo por me perder
nos pensamentos
com que vou temperando a comida .

Finalmente a bica .

A via continua a escorrer lentamente .

Pareço agora ouvir a conversa dos outros,
palavras que nada me dizem,

apenas pontuam o meu quotidiano .