quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A TOUPEIRA DA MEMÓRIA .

Eu era puto, mas lembro-me bem da chegada dos refugiados
à minha terra .
Fazia-me muita impressão, o modo como apareceram . 
Donde tinham vindo e porquê .

Eram vários, espalhados pelas famílias mais abastadas .

Contactei com dois deles - um austríaco, cujo nome não recor-
do, e outro, um francês de nome Jacques,  que tinha ficado em 
casa do Dr. Calixto Pires, advogado de renome, padrinho de ca-
samento dos meus pais .

Brincava com ele . 
e morava junto à minha porta .
Era uma criança como as outras, só que não ia à escola .

Só mais tarde vim a entender .

O meu Pai tinha lá em casa um livro enorme, fiquei a saber que
era publicado em fascículos, sobre a História da IIª Guerra Mun-
dial, coligida por Carlos Ferrão .

Ficava abismado com aquelas fotografias, as Grandes Batalhas,
as ruínas das cidades, os combates de aviões, 
Dunquerque, Pearl Harbour, Estalinegrado, as Batalhas do De-
serto do Saara, 
e a série incomensurável das tragédias humanas que então tive-
ram lugar .

Anos mais tarde, o Jacques veio  a Portugal recordar os seus
amigos e salvadores .

Mas o meu contacto com os refugiados tinha acontecido, sem eu
me dar conta essa realidade, no início . dos anos 40, 
numa terra quase escondida, no meio da Serra da Estrela .
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