Tirando uma ou duas vezes, em que fui obrigado a pedir emprestado,
nunca o dinheiro constituiu para mim, a grande preocupação da minha
vida.Como a formiga, sempre fui habituado a poupar no verão, para ir
gastando no inverno.
Como sempre tive a mania das colecções, até o dinheiro juntava.
Juntava a pensar no futuro. Nunca fui de gastar. Não que fosse sovina,
mas ir às compras, nunca foi o meu sonho; antes, pelo contrário.
Sempre vivi abaixo das minhas posses.
Fui criado durante e logo a seguir à 2ª Guerra Mundial.
A minha família dedicava-se, em grande medida, à economia de subsis-
tência.
Lembro-me perfeitamente da guerra ter acabado. Foram tempos difí-
ceis para a maioria dos portugueses. Vivíamos em pleno racionamento.
Tínhamos uma caderneta, onde se colavam umas senhas, que iam
marcando as despesas que estavam atribuidas ao agregado familiar.
Andava muitas vezes com o meu avô que recolhia "Ferro velho, papel,
peles de coelho"....
Às vezes conseguia arranjar alguns tostões, para rebuçados, ou para dar
umas voltas na bicicleta de aluguer.
Continuei a viver abaixo das minhas posses.
Depois,um dia, começei a ter algum dinheiro, mas nessa altura já não
precisava dele.
TINHA PERDIDO TUDO.
Afinal de que serve o dinheiro, se não podemos aceder ao que de
MAIS PRECIOSO E ADORADO que possuímos?
.
1 comentário:
este belo texto desenha-te palavra a palavra.adorei!
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