Zeca,
vou continuar a relatar-te
o que se tem passado na política portuguesa .
Vou ver se consigo ter um mínimo de objectividade,
mas como deves compreender, trata-se de uma tarefa
quase impossível, por diversas razões que tu compre-
enderás .
Nas reuniões da Tertúlia do Garcia,
que tu ajudaste a construir, senti por vezes, que algu-
ma coisa estranha estava prestes a acontecer, mas os
meus conhecimentos de economia eram demasiado bá-
sicos para o poder entender .
Foi então que, de repente, se começou a falar da CRISE
financeira, na BOLHA imobiliária, que tinha rebentado
nos Estados Unidos (2008), que levou à falência de gran-
des bancos, à descoberta de gigantescas FRAUDES e ao
desemprego em massa .
Depressa a crise se propagou à Europa, atingindo os paí-
ses do Euro, Irlanda, Reino Unido, Islândia, Grécia, desa-
bando a União Europeia, como um baralho de cartas .
Só a Alemanha pareceu aguentar ao choque, embora ti-
vesse que recorrer a medidas drásticas, tratando de re-
solver a sua vidinha, à custa do sacrifício de outros paí-
ses mais expostos, como a Grécia, na primeira linha das
dificuldades .
Portugal, uma das peças europeias mais frágeis, não tar-
dou a ser arrastado para a crise .
A partir daqui as coisas começaram a ficar um tanto ou
quanto nebulosas, para mim, e para a generalidade do po-
vo português .
É talvez a época mais controversa da nossa História re-
cente ; ainda hoje se não conhecem devidamente quais
os actores mais relevantes, e quais os papéis que represen-
taram nessa tragicomédia .
Sócrates e o seu Ministro das Finanças - Teixeira dos San-
tos, de há muito que nãoestavam sintonizados quanto às
políticas económica e financeira .
A oposição, com Passos Coelho como furão, e com Cavaco
completamente a defender a demissão do 2º Governo Sócra-
tes, forçando a queda do Executivo, fazendo aprovar no Par-
lamento, uma moção de rejeição, por todos os partidos, à ex-
cepção do PS .
A armadilha ao PS tinha resultado, e o País iria mergulhar
no caos .
Pela 3ª vez, Portugal, à beira da bancarrota, iria agora expe-
rimentar os doces cuidados da intervençao estrangeira .
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