Desde miúdo, e ainda hoje, tenho que usar sempre
o papel em branco, sem baias físicas ou mentais .
É um exercício de liberdade .
Quando começo a escrever,
parto de uma ideia, um acontecimento, uma emoção,
e vou por aí fora .
Tento não defraudar o meu pensamento .
Mas, na primeira curva da escrita, começo a derivar,
e logo, logo, apanho um atalho e avanço noutra
direcção .
Não tenho que me obrigar a um tema, a uma rima,
a um objectivo .
É o que eu chamo uma escrita
delirante .
É por isso que eu não gosto de ler .
É por isso que gosto de escrever .
É uma maneira de estar e de viver .
Sem espartilhos . sem códigos, sem prisões
Sou assim na fala e no pensamento .
Neste, completamente livre,
naquela, estou sempre metido em sarilhos.
Felizmente que me vou adaptando, cada vez mais,
a usar um intermediário ,
e conseguir escrever, mais ou menos .
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