O 25 de Abril faz ecoar em mim sentimentos e afectos
multifacetados, de certo modo até algo contraditórios .
Numa primeira face, logo na madrugada desse dia ra-
dioso, os primeiros sinais que nos chegaram foram de
estupor e de medo .
Que golpe era esse, que tinha chegado tão intempestivo,
e sem ninguém estar à espera .
De que lado vinham as movimentações militares ?
Quem comandava o golpe ?
Que apoios concertava ?
Estávamos ainda no rescaldo do golpe falhado das Caldas,
com o afastamento dos dois principais Chefes Militares
e a transferência de alguns oficiais suspeitos de estarem a
fazer reuniões suspeitas , devido a problemas ligados a al-
gumas reivindicações corporativas, visando a igualização
de certas regalias outorgadas aos quadros milicianos .
Por outro lado, as facções militares mais radicalizadas na
extrema direita, desde o Presidente da República Américo
Thomaz, até ao ultra direitista Kaúlza de Arriaga, descon-
tentes com a abertura marcelista, iam afiando os dentes pa-
ra abocanhar ainda mais o nosso desgraçado País .
Só depois da leitura dos primeiros comunicados do MFA,
o sol raiou pujante, através das nossas janelas e dos nossos
corações .
Ainda hoje revivo com grande emoção aquelas primeiras
horas desse 25 de Abril, passadas a pintar com aguarelas,
uma paisagem de Lisboaa banhar-se no Rio Tejo .
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