sexta-feira, 1 de abril de 2016

O COMUNISMO REAL .

Nunca pensei que viria a ser um dos protagonistas da implementação
do Bairro de Telheiras, designadamente no que se refere à primeira
malha, que viria a ser, posteriormente, a CHE TECTO - Cooperativa 
de Habitação Económica TECTO .

Foi uma tarefa colectiva que nasceu de uma ideia que floresceu a seguir
ao 25 de Abril, e desencadeada por um grupo de alunos e professores
do IST, graças aos novos ventos quer então sopravam, nesses tempos re-
volucionários .

Tinha sido criada a EPUL, para acudir às necessidades habitacionais
das populações mais desfavorecidas, e tinha sido publicado o Novo Có-
digo Cooperativo,

A CHE TECTO foi uma aventura muito impor
tante, mas era preciso levá-la à práctica .

Primeiro que tudo era necessário a compilação de toda a documentação
indispensável, organizar toda a parte burocrática e organizativa, prover
à recolha dos dados referentes aos cooperantes, criação de uma estrutura 
funcional, interna e externa, realização de inúmeras reuniões, a vários ní-
veis, e manter um diálogo constante com os diversas autoridades e orga-
nismos intervenientes .

Foi ainda feito um cuidadoso regulamento interno, para prever o máximo 
de situações que poderiam ser resolvidas pela CHE .

Coube-me a honra de ter sido convidado para ser o tesoureiro desta nave,
composta por 88 fogos .

Tudo era discutido e aprovado por braço no ar .

A escolha do número de sócios e localização de cada fogo, era votada e tinha
em linha de conta, a natureza do agregado, teor dos vencimentos declarados
e foi determinada a renda a pagar por cada família, de 6500 a 1600 mil es-
cudos .

Quem prescindisse da declaração de vencimentos, poderia pagar automáti-
camente a renda máxima .

Previa-se que, com o decurso dos anos, a renda máxima iria baixando, à me-
dida que fossem aumentando gradualmente, as rendas mais baixas . 

Ninguém entendia muito bem como funcionava
esta geringonça, mas o que é facto é que tínhamos 
conseguido implementar o comunismo real 
numa pequena zonz, no centro da cidade de Lisboa .

De cada um, segundo as suas possibi-
lidades,
a cada um, segundo as suas necessi-
dades .