segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A FÚRIA DE SABER .

"Então não te vais deitar,
  amanhã tens que ir para a Escola ",

dizia-me o meu Pai, quando às vezes me encontrava 
a meio da noite, a ouvir baixinho as notícias, um pou-
co por todo o mundo .
Não o dizia com ar zangado, embora soubesse que me
iam faltar horas de sono, e alguém pudesse ouvir qual-
quer coisa através dos vizinhos .

Eu nunca tive medo dessas coisas .
Quantas vezes, eram os operários que me contavam coi-
sas em voz baixa, em surdina . 
Sabiam que, apesar de puto, era pessoa de confiança .
às vezes experimentavam-me, para ver a minha reacção .

Fui criado muitos anos a viver com pessoas mais velhas 
do que eu . 
Rapidamente deixei se ser criança, e me transformei 
num pequeno homem atilado, senhor do meu destino, 
embora reconhecesse as minhas fraquezas, de toda a or-
dem .

Talvez por isso, nunca deixei de estar do lado dos mais 
fracos e desprotegidos, mesmo quando enveredei por
caminhos mais ousados e radicais .

Mas jamais cortei o cordão umbilical que me ligou, des-
de muito cedo, ao mundo do trabalho e dos trabalhado-
res .
.