"Então não te vais deitar,
amanhã tens que ir para a Escola ",
dizia-me o meu Pai, quando às vezes me encontrava
a meio da noite, a ouvir baixinho as notícias, um pou-
co por todo o mundo .
Não o dizia com ar zangado, embora soubesse que me
iam faltar horas de sono, e alguém pudesse ouvir qual-
quer coisa através dos vizinhos .
Eu nunca tive medo dessas coisas .
Quantas vezes, eram os operários que me contavam coi-
sas em voz baixa, em surdina .
Sabiam que, apesar de puto, era pessoa de confiança .
às vezes experimentavam-me, para ver a minha reacção .
Fui criado muitos anos a viver com pessoas mais velhas
do que eu .
Rapidamente deixei se ser criança, e me transformei
num pequeno homem atilado, senhor do meu destino,
embora reconhecesse as minhas fraquezas, de toda a or-
dem .
Talvez por isso, nunca deixei de estar do lado dos mais
fracos e desprotegidos, mesmo quando enveredei por
caminhos mais ousados e radicais .
Mas jamais cortei o cordão umbilical que me ligou, des-
de muito cedo, ao mundo do trabalho e dos trabalhado-
res .
.