As férias grandes .
Naqueles tempos ( parece que hoje em dia se passa
precisamente o mesmo), tínhamos três longos meses
de férias grandes ( grandes, enormes, imensas) .
Como me chamo Mário, nos anos de exames, essas
férias eram encurtadas de quase um mês, pois era
ultrapassado por todas as Marias do mundo .
Mesmo assim, tanto tempo sem fazer nada, era um
desperdício .
Como sair deste buraco ?.
Andava na quadrilhice .
Jogava à bola e à porrada .
Passeava pela cidade .
Acampávamos num pequeno café, mesmo à minha porta,
no Bairro da Estação, junto ao novo Tribunal da Covilhã .
Íamos chegando um, preguiçosamente, e escolhíamos um
lugar porreiro na esplanada do café, sorvíamos a bica, pe-
díamos água e o jornal, lido à vez .
Grande vida .
Era uma espécie de Paraíso na terra .
Discutíamos as miúdas, a bola e a política, um pouco de
tudo, embora tivéssemos de ter cuidado com as conversas .
O tempo passava lentamente .
Um ano pus-me a ler a obra completa de
Ferreira de Castro,
e foi a minha primeira viagem sem escala, através do mundo
real, o mundo da política e o mundo das emoções .
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