"... e no entanto, ela gira ."
Assisti, durante décadas, a intermináveis guerras entre
o PS e o PCP .
Guerras sem quartel (das quais não conhecia as razões
da sua existência, e ainda hoje me custa a entendê-las ),
Lembro-me das divisões da esquerda, designadamente
em 1968, entre a CDE (PCP) e CEUD(PS), que enfraque-
ceram a frente comum contra, contra a ditadura de Sala-
zar .
Foi no ano em que eu votei duas vezes, uma pela oposição,
outra através da chapelada da tropa, a favor do regime .
Sempre fui um compagnon de route dos comunistas, desi-
gnadamente durante as greves académicas, de que destaco
a de 1962 .
Quando então me refugiei temporariamente no Tortosento,
coito importante de operários comunistas, com os quais
tinha contactos amiúde, fui-me apercebendo das diferenças
entre o PCP e PS, o qual que viria a parir, alguns anos mais
tarde, o PS, criado na Alemanha Federal, na clandestinidade .
A linha divisória, foi para mim, a assumpção do que eu acha-
va LIBERDADE, liberdade plena, de pensar e agir, como de-
veria pensar e observar o mundo, sem quaisquer intermedi-
ários .
Com sensibilidade e bom senso .
Com o 25 de Abril, fui escorregando cada vez mais para a
esquerda.
Já então tinha sido aliciado pelos ideais de Maio de 68, e pe-
las novas ideias que começaram a germinar por essa altura .
"O impossível ao poder"
Fui crítico de muitos ideais do comunismo, mas tinha igual-
mente algumas reservas contra o socialismo, que eu achava
um tanto uma emanação da sociedade burguesa .
Movimentava-me no estreito intervalo entre dois mundos que,
imaginava eu, jamais se cruzariam .
Finalmente, tal viria a acontecer, não pela ideologia, mas pela
acção, contra um inimigo comum .
Hoje a geringonça abana, treme, oscila, desgasta-se, range, des-
laça-se, escorrega, quase se rasga, continua bem oleada .
Mas continua com pés para andar .
Se eu acreditasse em milagres ...
.