quinta-feira, 28 de setembro de 2017

O RETRATO ..

A palavra é uma arma
de cidadania
tudo depende da força
e da pontaria 

Na minha família, era usual reinar o silêncio, com 4 irmãos
com idades próximas umas das outras, mas muito diferentes
no temperamento e no carácter, comia-se sem falar, sem ou-
sar emitir uma opinião ou uma crítica, a menos que alguém 
fosse directamente questionado .

Era quase sempre eu quem quebrava o gelo .
Conseguia dialogar com o meu Pai, embora fosse eu o mais 
atrevido e belicoso dos irmãos .

Era eu quem fazia uma boa parte das despesas da conversa à 
mesa . Os outros limitavam-se a ouvir .
Claro que isso me trazia problemas sem conta .

O meu Pai, que havia subido a pulso todos os degraus da corda
da Vida, e tivesse adquirido uma enorme cultura  prática,
muitas vezes se chocava com a natureza curricular de algumas 
matérias . 
Gostava muito de se exprimir e de se questionar .

Sempre me expus de peito aberto às balas .

Quando o erro imperava à minha volta, lá entrava eu na compita .
Era um dos meus mais fracos . Era golpeado vezes sem conta, ou
pelos incapazes, pelos mesquinhos, quando não pelos mais cobar-
des .

Fiquei sempre com o estigma de refilão e de gostar de uma bela
pelea, uma boa controvérsia e de uma acesa discussão .

Assim ganhei o hábito de questionar tudo e todos e rejeitar os açai-
mes que sempre quiseram impor-me .
Toda a minha vida foi sempre mosqueada , em todas as circunstân-
cias, com o que julgava ser o erro, a mentira, a prepotência, o calcu-
lismo e o silêncio .

Não gostam de mim porque sou leal, verdadeiro, directo e justo, e dar
a cara quando e sempre que for preciso, ainda que isso me curte a indi-
ferença, o medo e problemas de toda a ordem .

Habituei-me a viver com isso .

Não sou feliz, mas vivo em paz com a minha consciência . 

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